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O mais natural é que, quando começarem a pensar no assunto, se lembrem do que foi. E, nesse momento, as vidas delas correm perigo, pois quem quer seja que lhes matou os maridos pode planear matá-las também. E eu tenho todas as intenções de fazer com que nada de mal lhes aconteça.

- Quer que elas sejam seguidas?

- Isso era antigamente, John. Hoje em dia usamos equipamento electrónico. O apartamento da Stevens já foi posto sob vigilância, com câmaras, telefones, microfones, tudo. Estamos a empregar toda a tecnologia que temos à nossa disposição para as guardar. No momento em que alguém as tentar atacar, ficaremos imediatamente a saber.

John Higholt ficou, por momentos, pensativo.

- E quanto a Kelly Harris?

- Essa está num hotel. Infelizmente, não nos foi possível entrar na suite dela e preparar as coisas. Mas tenho homens no átrio e, se houver qualquer sinal de perigo, eles encarregam-se do assunto. - Tanner hesitou. - Quero que o KIG ofereça uma recompensa de cinco milhões de dólares para quem der informações que conduzam à prisão de...

- Ei, Tanner, espere aí - objectou John Higholt. - Não é preciso nada disso. Resolvemos isto e...

- Muito bem. Se não for o KIG a fazê-lo, faço-o eu pessoalmente.

O meu nome está identificado com o desta empresa. - E a voz dele endureceu. - Eu quero apanhar seja quem for que está por detrás disto.

 

CAPÍTULO 20

No café em frente às instalações do KIG, Diane Stevens e Kelly Harris sentavam-se a uma mesa de canto. Kelly aguardava que Diane falasse.

Esta não sabia como começar. Qual foi a coisa horrível que aconteceu ao seu marido, senhora Harris? Ele também foi assassinado, como Richard?

- Então? Disse que me queria falar sobre o meu marido. Conhecia bem Mark? - disse Kelly impacientemente.

- Eu não o conhecia, mas...

Kelly ficou furiosa.

- Mas você disse que...

- Eu disse que queria falar consigo sobre ele.

Kelly levantou-se.

- Minha senhora, eu não tenho tempo para isto. - E começou a dirigir-se para a porta.

- Espere! Acho que temos as duas o mesmo problema e podemo-nos ajudar mutuamente.

Kelly parou.

- Do que é que está a falar?

- Por favor, sente-se.

Relutante, Kelly regressou ao seu lugar.

- Diga lá.

- Queria perguntar-lhe se...

Um criado aproximou-se delas com a carta.

- O que desejam?

Sair daqui para fora, pensou Kelly.

- Para mim, nada.

- Dois cafés - respondeu Diane.

Kelly olhou para ela e respondeu em tom de desafio:

- Eu prefiro chá.

- Sim, minha senhora. - E o criado foi-se embora.

- Acho que eu e a senhora... - começou Diane a dizer.

Uma miúda aproximou-se da mesa e dirigiu-se a Kelly:

- Pode dar-me o seu autógrafo? Kelly olhou para ela.

- Sabes quem eu sou?

- Eu não, mas a minha mãe disse que era importante.

- Não sou, não - respondeu Kelly.

- Oh!

E ficou a ver a miúda a ir-se embora.

Diane olhava para ela, intrigada.

- Eu devia saber quem você é?

- Não. - E Kelly continuou de forma contundente: - E não gosto de bisbilhoteiros a meterem o nariz na minha vida. Vamos lá a saber o que é que se passa, senhora Stevens.

- Chame-me Diane, por favor. Ouvi dizer que o seu marido sofreu um acidente horrível e...

- Sim. Foi morto. - Ele alguma vez lhe falou de Olga?

- O meu marido também foi morto. E ambos trabalhavam para o KIG.

- E depois? - exclamou Kelly, impaciente. - Assim como milhares de outras pessoas. E se dois deles apanharem uma constipação, vai achar que se trata de uma epidemia?

Diane debruçou-se sobre a mesa:

- Olhe, isto é importante. Primeiro que tudo...

- Lamento muito, mas não me apetece estar a ouvir isto - respondeu Kelly, e pegou na carteira.

- Não lhe apetece estar a ouvir isto - respondeu, furiosa, Diane - mas pode muito bem...

A voz de Diane de repente ouviu-se em todo o café.

- Havia quatro homens na sala...

Sobressaltadas, Diane e Kelly viraram-se para a origem do som. A voz dela vinha de um aparelho de televisão sobre o balcão. Estava no Tribunal, sentada no banco das testemunhas.

- Um deles estava amarrado e sentado numa cadeira. O senhor Altieri parecia interrogá-lo enquanto os outros dois homens estavam junto dele. O senhor Altieri puxou de uma arma, berrou qualquer coisa e... disparou sobre o homem na cabeça.

O apresentador apareceu no ecrã.

- Acabámos de ouvir o testemunho de Diane Stevens, no julgamento por assassínio do chefe da Máfia, Anthony Altieri. O júri acabou de entregar um veredicto de não culpado.

Diane ficou sentada, atordoada. "Não culpado?"

- O homicídio que teve lugar há quase dois anos levou a que Anthony Altieri fosse acusado da morte de um dos seus empregados. Apesar do testemunho de Diane Stevens, o júri acreditou em outros testemunhos que a contradisseram.

Kelly olhava espantada para o ecrã. Uma nova testemunha surgiu a depor no banco.

Jake Rubinstein, o advogado de Altieri perguntava:

- Dr. Russel, o senhor tem consultório montado em Nova Iorque? '.

- Não. Eu exerço unicamente em Boston.

- No dia em questão, tratou o senhor Altieri de algo relacionado com problemas de coração ?

- Exactamente. Cerca das nove da manhã. E mantive-o em observação durante o resto do dia.

-Portanto, ele não podia ter estado em Nova Iorque, a catorze de Outubro ?

- De forma nenhuma Outra testemunha apareceu no ecrã.

- Importa-se de nos dizer qual a sua ocupação ?

- Sou gerente do Hotel Boston Park.

- Estava de serviço no dia catorze de Outubro ?

- Sim, estava.

- E nesse dia passou-se alguma coisa de especial?

- Sim. Recebi um telefonema urgente da suite do último andar, pedindo para mandar um médico com a maior urgência.

- E o que se passou a seguir?

- Liguei para o doutor Joseph Russell e pedi-lhe que viesse imediatamente. Assim que ele chegou, subimos para a suíte para ver o que se passava com o hóspede, o senhor Altieri.

- E o que foi que viu quando lá chegou ?

- O senhor Altieri estava caído no chão.

Diane empalideceu.

- Eles estão a mentir - disse com voz rouca. - Os dois.

Anthony Altieri estava a ser entrevistado. Tinha um aspecto frágil e doente.

- Tem alguns planos para o futuro imediato, senhor Altieri?

- Agora que foi feita justiça, vou levar as coisas com calma. - Altieri sorriu debilmente. - Talvez cobrar umas dívidas antigas.

Kelly não sabia o que dizer. Virou-se para Diane.

- Você testemunhou contra ele?

- Testemunhei. Eu vi-o matar...

As mãos a tremer de Kelly entornaram um pouco do chá por cima de um saleiro.

- Eu vou-me pôr a andar daqui para fora.

- Porque é que ficou assim tão nervosa de repente?

- Porque é que fiquei nervosa? Você tentou mandar o chefe da Máfia para a cadeia e ele agora está livre e diz que vai cobrar algumas dívidas antigas, e você ainda me pergunta porque é que eu estou assim nervosa? Eu, no seu lugar, estaria bem nervosa. - Kelly levantou-se e lançou umas moedas sobre a mesa. - Eu pago. E melhor que poupe o seu dinheiro para poder fazer uma viagem, senhora Stevens.

- Espere! Não falámos sequer dos nossos maridos, nem...

- Esqueça. - Kelly dirigiu-se para a porta e Diane, relutante, acabou por a acompanhar.

- Acho que está a exagerar - disse Diane.

- Acha?

No momento em que chegaram à porta, Kelly disse:

- Não consigo perceber como é que foi tão estúpida a ponto de...

Um senhor de idade que acabava de entrar escorregou e começou a cair. Por instantes, Kelly viu-se em Paris e era Mark quem caía, e dobrou-se para o ajudar, e no mesmo instante Diane atirou-se também para a frente para o ajudar. Nesse preciso instante, do outro lado da rua, ouviu-se o som de dois disparos e as balas esmagaram-se na parede onde as mulheres tinham acabado de estar. A explosão trouxe Kelly de imediato de volta à realidade. Estava em Manhattan e acabara de tomar chá com uma mulher maluca.