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- Senhora Stevens, quer que mande vir alguém para olhar pela senhora...?

- O senhor é que precisa de alguém que olhe por si. Agora, ponha-se daqui para fora.

- Senhora Stevens... - Já!

Greenburg tirou um cartão de visita e colocou-o em cima de uma mesa:

- No caso de vir a querer falar comigo, tem aqui o meu número de telefone.

Enquanto se dirigia para a porta, Greenburg pensava: Não há dúvida de que tratei muito bem deste caso, sim senhor. Mais valia que tivesse chegado e perguntado se era a viúva Stevens!

 Quando o detetive saiu, Diane trancou a porta da frente e respirou fundo, a tremer. Mas que idiota! Vir ao apartamento errado e tentar assustar-me! Devia era participar dele. Olhou para o relógio. Richard devia estar a chegar. Estava na altura de ir começar a fazer o jantar. Ia fazer uma paelha, o prato preferido dele. Dirigiu-se à cozinha e começou a prepará-lo.

 Devido ao secretismo do trabalho de Richard, Diane nunca o perturbava no laboratório e, se o marido não lhe telefonava, ela sabia que isso significava que ele ia chegar tarde. As oito em ponto a paelha estava pronta. Provou-a e sorriu, satisfeita. Estava feita exatamente como Richard gostava. As dez da noite, ele ainda não tinha chegado e Diane colocou a paelha no frigorífico e colou uma mensagem na porta que dizia: "Querido, o jantar está no frigorífico. Vem e acorda-me". Richard devia, com certeza, estar com fome, quando chegasse a casa.

De repente, Diane sentiu-se exausta. Despiu-se, enfiou uma camisa de noite, escovou os dentes e meteu-se na cama. Poucos minutos depois dormia profundamente.

Às três da manhã acordou a gritar.

 

CAPÍTULO 2

 Já nascia o dia e Diane ainda não tinha conseguido parar de tremer. O frio que sentia vinha-lhe de dentro, dos ossos. Richard estava morto. Nunca mais o ia voltar a ver, nunca mais ouviria a sua voz, nunca mais o sentiria a abraçá-la. E tudo por minha culpa. Eu nunca devia ter entrado naquela sala de audiências. Oh, Richard, perdoa-me... Por favor, perdoa-me... Não sei se conseguirei viver sem ti. Tu eras a minha vida, a minha razão de viver, e agora nada me resta.

Queria enrolar-se como um novelo pequenino. Queria desaparecer. Queria morrer.

Ali ficou, deitada, sozinha, a pensar no passado, em como Richard lhe transformara a vida...

Diane West crescera em Sands Point, Nova Iorque, numa zona de calma riqueza. O pai era cirurgião e a mãe uma artista, e Diane começara a desenhar aos três anos. Freqüentar o colégio interno de St. Paul e, quando era caloura na universidade, tivera um breve relacionamento com o seu carismático professor de matemática. Ele dizia-lhe que queria casar com ela, porque ela era a única mulher no mundo para ele. Quando Diane soube que ele tinha mulher e três filhos, concluiu que ou a matemática ou a memória dele tinha algum defeito e pediu a transferência para a Universidade de Wellesley.

Estava obcecada com a arte e passava todos os momentos livres a pintar. Quando se formou, tinha começado a vender os seus quadros e conquistara uma reputação como uma prometedora artista.

Nesse outono, uma conhecida galeria da Quinta Avenida deu a Diane a possibilidade de fazer uma exposição, e foi um enorme sucesso. Paul Deacon, o proprietário da galeria, era um afro-americano rico e erudito que ajudava Diane a alimentar a sua carreira.

Na noite da abertura, o salão estava apinhado. Deacon apressou-se na direção de Diane, com um sorriso no rosto.

- Parabéns! Já vendemos a maior parte dos quadros! Vou fazer uma nova exposição daqui a alguns meses, assim que estiveres pronta.

Diane estava encantada.

- Mas, Paul, isso é maravilhoso.

- Tu mereces.  Deu-lhe uma palmadinha no ombro e partiu.

Diane assinava um autógrafo, quando um homem surgiu por detrás dela e disse:

- Gosto das suas curvas.

Diane ficou rígida. Furiosa, virou-se bruscamente e abriu aboca para fazer um comentário brusco, quando ele continuou:

- Têm a delicadeza de um Rossetti ou de um Manet.

Ele apreciava um dos seus quadros na parede.

Diane conseguiu parar, mesmo a tempo.

- Oh!

Olhou para ele mais de perto. Parecia andar pelos trinta e poucos anos. Tinha cerca de um metro e oitenta e dois de altura, uma constituição atlética, cabelo louro e olhos azuis brilhantes. Vestia um macio fato castanho, camisa branca e gravata castanha.

- Eu... Muito obrigada.

- Quando é que começou a pintar?

- Quando ainda era criança. A minha mãe era pintora.

Ele sorriu.

- A minha mãe era cozinheira, mas eu não sei cozinhar. Eu sei qual é o seu nome. O meu é Richard Stevens.

Nesse momento, Paul Deacon aproximou-se com três embrulhos.

- Aqui tem os seus quadros, senhor Stevens. Goze-os bem. Deu-os a Richard Stevens e afastou-se.

Diane olhou para ele, espantada.

- O senhor comprou três dos meus quadros?

- E tenho mais dois no meu apartamento.

- Eu... Sinto-me muito lisonjeada.

- Aprecio o talento.

- Obrigada.

- Bom, provavelmente está muito ocupada, por isso é melhor eu ir andando... - disse ele hesitante.

- Não. Está tudo bem - ouviu-se Diane a dizer.

Ele sorriu.

- Ótimo. - E hesitou. – Srta. West, podia fazer-me um grande favor? Diane olhou para a mão esquerda dele. Não tinha aliança.

- Sim, diga?

- Acontece que tenho dois bilhetes para a estréia de uma reposição de Blithe Spirit, de Noêl Coward, amanhã à noite, e não tenho ninguém com quem ir. Se estiver livre...

Diane estudou-o por momentos. Parecia simpático e era muito atraente, mas a verdade é que era um verdadeiro desconhecido. Demasiado perigoso. Mesmo muito perigoso. Mas o que se ouviu a dizer foi:

- Tenho muito gosto em ir.

Afinal a noite seguinte acabou por ser encantadora. Richard Stevens era uma companhia divertida e houve uma imediata empatia. Partilhavam o mesmo interesse por arte e por música e muito mais. Sentia-se atraída por ele, mas não tinha a certeza se ele sentia o mesmo em relação a ela.

No final da noite, Richard perguntou: - Amanhã à noite, está livre?

A sua resposta foi um decidido "Sim".

Na noite seguinte jantaram num restaurante calmo, no Soho.

- Richard, fale-me de si.

- Não há muito para contar. Nasci em Chicago. O meu pai era arquiteto e construiu edifícios por todo o mundo, e eu e a minha mãe costumávamos acompanhá-lo nas viagens. Freqüentei uma boa dúzia de escolas internacionais e aprendi a falar uma série de línguas, como autodefesa.

- O que é faz? Em que é que trabalha?

- Trabalho no GIK, o Grupo Internacional Kingsley. E um grande grupo de massa cinzenta.

- Parece excitante.

- É fascinante. Fazemos pesquisa de tecnologia de ponta. Se tivéssemos um lema, seria qualquer coisa do gênero: "Se não temos a resposta agora, aguarde até amanhã".

 Depois do jantar, Richard levou Diane a casa. A porta, pegou-lhe na mão e disse:

- Gostei muito desta noite. Obrigado. E desapareceu. Diane ficou parada, a vê-lo partir. Que bom que ele é um cavalheiro, e não um garanhão. Fico mesmo feliz. Raios!

 Estiveram juntos todas as noites que se seguiram e, cada vez que Diane via Richard, sentia o mesmo calor dentro de si. Numa noite de sexta-feira, Richard perguntou:

- Eu treino um pequena equipe de Infantis aos sábados. Queres vir comigo e ficar a ver?

Diane acenou com a cabeça. - Adoraria, Sr. treinador.  Na manhã seguinte, Diane ficou a ver Richard a trabalhar com ansiosos jovens futebolistas. Ele era brando, atencioso e paciente, gritando de alegria quando Tim Holm, com dez anos, apanhou a bola no ar, e era óbvio que todos o adoravam.

Estou a ficar apaixonada. Estou a ficar apaixonada, pensou Diane.

 Alguns dias mais tarde, Diane teve um almoço descontraído com algumas amigas e, quando saíram do restaurante, passaram à porta do gabinete de uma vidente.

Num impulso, Diane exclamou: