- Percebeste o que aquelas cabras fizeram? Não podemos permitir que ninguém ponha os olhos no Prima.
Ficou pensativo durante algum tempo.
- Acho que o Prima vai ter um acidente na véspera da festa e acabará por ir pelos ares.
Pauline olhou para ele por instantes e sorriu.
- Prima II!
Tanner acenou com a cabeça.
- Exactamente. Podemos viajar pelo mundo e, quando estivermos prontos, vamos para Tamoa e começamos a funcionar com o Prima II.
A voz de Kathy Ordonez ouviu-se no intercomunicador. Parecia frenética.
- Senhor Kingsley, os telefones estão doidos. Tenho o New York Times, o Washington Post e Larry King, todos em espera para falarem consigo.
- Diga-lhes que estou numa reunião - e virou-se para Pauline.
- Temos de sair daqui para fora. - Deu uma palmadinha nas costas de Andrew. - Anda, vem connosco.
- Sim, Tanner.
Os três saíram e dirigiram-se ao edifício de tijolo vermelho.
- Tenho uma coisa muito importante para tu fazeres, Andrew.
- O que quiseres - respondeu este.
Tanner liderou o caminho até ao edifício vermelho e aproximou-se de Prima. Virou-se para Andrew.
- O que quero que faças é o seguinte. Eu e a Princesa temos de nos ir embora agora, mas às seis da tarde quero que desligues este computador. É muito simples - e apontou. - Estás a ver o botão grande vermelho?
Andrew respondeu que sim. - Sim, estou a ver.
- A única coisa que tens de fazer é premi-lo três vezes, às seis da tarde. Três vezes. Consegues lembrar-te disso?
- Sim, Tanner. Às seis em ponto. Três vezes - respondeu Andrew.
- Muito bem. Encontramo-nos mais tarde.
Tanner e Pauline começaram a afastar-se.
Andrew ficou a olhar para eles. - Não me vão levar convosco?
- Não. Tu ficas aqui. Mas não te esqueças, seis da tarde e três vezes.
- Eu não me esqueço.
Quando saíam cá para fora, Pauline perguntou: - E se ele se esquecer?
Tanner riu.
- Não faz qualquer diferença. Está marcado para explodir automaticamente às seis da tarde. Só queria ter a certeza de que ele está lá dentro quando isso acontecer.
CAPÍTULO 44
Estava o dia perfeito para voar. O 757 do KIG voava a alta velocidade no céu azul sobre o oceano Pacífico. Pauline e Tanner estavam aninhados no sofá da cabina principal.
- Querido - disse Pauline -, sabes que é uma pena que as pessoas nunca venham a saber como és brilhante?
- Se alguma vez o descobrissem, teria um monte de problemas.
Ela olhou para ele e respondeu:
- Não havia problema. Comprávamos um país e autoproclamávamo-nos seus governantes. Aí não nos podiam tocar.
Tanner riu.
Pauline acariciou-lhe a mão. - Sabes que eu te quis desde o primeiro instante em que te vi?
- Não. Tanto quanto me lembro, foste muito impertinente.
- E resultou, não resultou? Tinhas que me ver outra vez para me dar uma lição.
Seguiu-se um longo e erótico beijo.
Ao longe, brilhou a luz de um relâmpago.
- Vais adorar Tamoa - disse Tanner. - Passamos lá uma semana ou duas e em seguida viajaremos pelo mundo. Vamos compensar todos os anos que não nos era possível estar juntos.
Ela olhou para cima e sorriu, com ar malicioso.
- Podes ter a certeza que sim.
- E depois, uma vez por mês, voltamos a Tamoa para pormos o Prima II a funcionar. Escolhemos juntos os nossos alvos.
- Podíamos criar uma tempestade em Inglaterra, mas o problema é que eles não iam dar pela diferença - sugeriu Pauline.
Tanner riu. - Temos o mundo todo por onde escolher.
Um comissário de bordo aproximou-se e perguntou.
- Desejam alguma coisa?
- Não - respondeu Tanner. - Nós já temos tudo. E sabia que era verdade.
Ao longe, viram a luz de mais raios a riscar o céu.
- Só espero que não apanhemos uma tempestade - disse Pauline. - Detesto voar com mau tempo.
Tanner procurou acalmá-la:
- Não te preocupes, querida. Não há uma nuvem no céu. - Lembrou-se de uma coisa e sorriu. - Não temos que nos preocupar com o tempo. Afinal, somos nós que o controlamos. - Olhou para o relógio. - O Prima explodiu há uma hora e...
Repentinas gotas de chuva começaram a bater contra o avião. Tanner abraçou Pauline com mais força.
- Está tudo bem. É só um pouco de chuva.
Assim que Tanner acabou de pronunciar estas palavras, o céu começou a escurecer e a tremer com o som de sonoros trovões. O enorme avião abanava de um lado para o outro. Tanner olhava pela janela, intrigado com o que estava a acontecer. A chuva deu lugar a uma forte saraivada.
Tanner olhou lá para fora.
- Olha para ... - E de repente percebeu. - Prima. - Era um grito de exaltação, um brilho de glória nos olhos. - Nós podemos...
Nesse preciso momento, um furacão atingiu o avião, sacudindo-o selvaticamente de um lado para o outro. Pauline gritava.
A trabalhar no edifício de tijolo vermelho, Andrew sentia-se grato por haver ainda uma coisa que podia fazer para tornar o mundo um lugar melhor. Com o maior dos cuidados, guiou um tornado de Força 6 que criara - para cima, mais para cima...
Tanner olhava pela janela do avião selvaticamente sacudido quando ouviu, sobre os estrondos da trovoada, o som semelhante ao de um comboio do tornado que se aproximava, viajando a uma velocidade de novecentos e sessenta quilômetros por hora. O rosto dele estava congestionado e tremia com a excitação, enquanto via o tornado a girar em direcção ao avião. Estava em êxtase.
- Olha! Nunca houve um tornado que conseguisse subir até tão alto. Nunca! Fui eu que o criei! É um milagre! Só Deus e eu somos...
No edifício de tijolo vermelho do KIG, Andrew operava Prima, os seus dedos voando sobre as teclas, lembrando-se. Com o seu alvo no ecrã, via a imagem do avião do irmão a ser sacudido por um furacão com ventos de quatrocentos e oitenta quilometros por hora. Premiu outro botão.
No edifício de tijolo vermelho, Andrew moveu um interruptor e ficou a observar o ecrã enquanto o avião explodia em mil pedaços e os destroços e os corpos eram lançados nos céus.
Em seguida, Andrew Kingsley premiu três vezes o botão vermelho.
Numa dúzia de gabinetes do serviço Nacional de Meteorologia de Anchorage no Alasca, a Miami na Florida, os meteorologistas olhavam, estarrecidos, para os seus computadores, sem serem capazes de acreditar. O que se estava a passar parecia impossível, mas a verdade é que ali estava, na frente deles.
CAPÍTULO 45
Kelly e Diane acabavam de se vestir quando Grace Seidel lhes bateu à porta do quarto.
- Quando estiverem prontas, o pequeno almoço está servido.
- Já vamos - respondeu Kelly.
- Espero que o nosso truque tenha resultado - disse Diane. - Vamos ver se Grace tem os jornais da manhã.
Saíram do quarto. No lado direito ficava a zona de lazer. Estavam aí reunidas algumas pessoas em redor do aparelho de televisão. No momento em que elas iam a passar, em direcção à sala de jantar, o apresentador de televisão dizia:
"Segundo as últimas informações, não houve qualquer sobrevivente. Tanner Kingsley e a antiga senadora Pauline van Luven encontravam-se no avião, assim como um piloto, um co-piloto e um comissário."
As duas mulheres estacaram. Olharam uma para a outra, viraram-se e dirigiram-se para junto do televisor. No ecrã passavam imagens do KIG.
"O Kingsley Internacional Group é o maior think tank do mundo, com escritórios em trinta países. O gabinete de meteorologia reportou uma inesperada tempestade eléctrica no oceano Pacífico, exactamente na zona onde voava o avião particular de Tanner Kingsley. Pauline van Luven chefiou a Comissão Especial do Senado para o Ambiente..."
Diane e Kelly ouviam, fascinadas.
"...E em mais uma peça do puzzle, existe um mistério que a Polícia está a tentar resolver. A imprensa fora convidada para um jantar de apresentação de Prima, um novo computador controlador do clima que o KIG criara e desenvolvera, mas ontem, inesperadamente, deu-se uma explosão no KIG e o Prima ficou completamente destruído. No meio dos destroços, os bombeiros encontraram o corpo de Andrew Kingsley e pensa-se que seja ele a única vítima."