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Agora, ela está comentando a festa do dia anterior, como foi terrível, dos homens execráveis que conheceu, homens sem estilo, sem pescoço, uns grosseirões que só entendem de rúgbi. Inclina-se para a frente enquanto fala, as pernas longas enlaçadas na cadeira, toca meu antebraço para enfatizar um argumento, olha nos meus olhos como que me desafiando a olhar para outro lugar, e também tem a mania de mexer nos brincos de bolinha de prata enquanto fala, o que indica uma atração subconsciente por mim, ou pode ser que o furo esteja inflamado. De minha parte, estou ensaiando algumas novas posturas e expressões faciais, sendo que uma envolve me inclinar para a frente e apoiar a mão no queixo com os dedos abertos perto da boca e esfregar o queixo com um ar de sabedoria. Isso serve a vários propósitos: 1) parecer perdido em pensamentos profundos; 2) é sensual; e 3) cobre minhas piores espinhas, os aglomerados vermelhos nos cantos da boca que dão a impressão que estou babando sopa.

Ela pede outro cappuccino. Será que vou ter que pagar esse também? Não importa. A fita Stephane Grappelli/Django Reinhardt não para de tocar ao fundo, zumbindo ao longe como uma mosca varejeira na janela, e me sinto muito feliz só em estar ali e ouvir. Se ela tem algum defeito, e é óbvio que é uma coisa menor, é não parecer interessada em outras pessoas, ou, pelo menos, em mim. Ela não sabe de onde eu sou, não me pergunta sobre minha mãe ou meu pai, não sabe meu sobrenome... Nem sei se não continua achando que me chamo Gary. Na verdade, desde que chegamos, ela só me fez duas perguntas: Você não está com calor com essa jaqueta? e Você sabe que isso é canela, não sabe?.

De repente, ela diz, como se tivesse lido meus pensamentos:

— Desculpe, acho que estou falando demais. Você não se incomoda, não é?

— De jeito nenhum.

E é verdade, não me incomodo, gosto de estar ali com ela e saber que outras pessoas estão nos vendo juntos. Agora, está contando sobre uma trupe de circo búlgara incrível que viu no Festival de Edimburgo, o que parece ser uma boa hora para me dispersar e calcular a conta. Três cappuccinos de 85 pence, o que dá 2,55 libras, mais a batata frita, desculpe, pommes frites, 1,25 libra, o que corresponde a 18 pence por pomme frite... e então, são 25 pence mais 55 pence, que dá 80 pence, 3,80 libras, mais a gorjeta do garoto-sorriso ali, 30 pence, não: 40. Então, dá 4,22 libras, e eu tenho 5,18 libras no bolso, o que significa que vou ficar com 98 pence para viver até segunda, quando vou pegar o cheque da minha bolsa-auxílio. Deus, como ela é bonita! E se ela se oferecer para dividir a conta? Será que devo aceitar? Gostaria que ela soubesse que acredito firmemente na igualdade entre os sexos, mas não quero que pense que sou pobre ou, pior ainda, pão-duro. Mas, ainda que a gente rache a conta, vou ficar só com 3 libras. Precisarei pedir para Josh me emprestar as 10 libras da minha mãe até segunda, e isso quer dizer que eu vou ter que virar capacho dele até o recesso do Natal, limpar seu equipamento de críquete e tostar seus bolinhos ou algo assim. Espera aí! Ela está me fazendo uma pergunta.

— Você quer outro cappuccino?

NÃO!

— Acho que não — respondo. — Aliás, acho melhor a gente voltar... dar uma olhada nos resultados. Vou pedir a conta... — Olho em volta em busca do garçom.

— Deixa eu contribuir um pouco — ela finge que vai pegar a bolsa.

— Não, você é minha convidada...

— Tem certeza?

— Absoluta, absoluta — confirmo, conto 4,20 libras, deixo na mesa de mármore e me sinto muito elegante.

Quando saímos do Le Paris Match, percebo que está escurecendo, que estamos conversando há horas e eu nem fazia ideia. Por um tempo, até me esqueci do Desafio. Mas, agora me lembrei, e preciso me conter para não sair correndo, pois Alice prefere andar devagar. Então, voltamos ao Grêmio Estudantil na luz noturna do outono e ela pergunta:

— E, então, quem pôs você nessa história?

— Que história? No Desafio?

— É assim que você chama? O Desafio?

— Não é assim que todo mundo chama? Ah, eu achei que poderia ser divertido — minto descaradamente. — E, como lá em casa somos só eu e minha mãe, não dava para participar do Pergunte à família... — Achei que ela poderia mostrar algum interesse, mas ela só diz:

— As garotas do meu andar me puseram nessa história como uma espécie de trote. E, depois de umas cervejas antes do almoço, pareceu uma boa ideia. E também quero ser atriz, fazer alguma coisa na TV, como apresentadora ou algo assim, e achei que podia ser uma boa experiência na frente das câmeras, mas já não sei mais. Não chega a ser um trampolim para o firmamento em Hollywood, não é? Desafio Universitário. Honestamente, eu estou torcendo para não entrar e esquecer essa história doida.

Cuidado aonde pisa, Alice Harbinson, você está atropelando os meus sonhos.

— Você já pensou em seguir carreira de ator? — pergunta.

— Quem, eu? Não, eu seria terrível... — Em seguida, só para experimentar, insinuo. — Além do mais, acho que precisaria ser mais bonito para ser ator.

— Não, isso não é verdade! Tem um monte de atores que não são bonitos...

Essa eu mereci, acho.

Conforme nos aproximamos do quadro de avisos da Sala de Reunião nº 6, sinto como se estivesse indo consultar o resultado do meu exame de admissão de novo. A mesma confiança calada misturada com a medida certa de ansiedade, a noção do quanto é importante controlar a expressão facial para não parecer

muito cheio de si, muito convencido. É apenas sorrir e menear a cabeça como quem já sabia e ir embora.

Chegando perto do quadro de aviso, vejo o panda da Lucy Chang espiando o resultado por cima de seu ombro, e alguma coisa na inclinação de sua cabeça me diz que ela não teve boas notícias. Dá meia-volta e se afasta, lançando-me um sorriso meigo e desapontado. Parece que Lucy não vai estar com a gente nos estúdios de Granada, o que é uma pena, pois ela parecia legal. Sorrio com solidariedade enquanto ela vai embora e me aproximo do quadro de avisos.

Olho para o quadro.

Pisco e olho outra vez.

SELEÇÃO PARA O DESAFIO UNIVERSITÁRIO

Os resultados da seleção para o Desafio Universitário de 1985 são os seguintes:

 Lucy Chang — 89%

 Colin Pagett — 72%

 Alice Harbinson — 53%

 Brian Jackson — 51% *

*(Em caso de uma emergência absoluta ou de doença com risco

de morte, Brian Jackson é o nosso primeiro reserva.)

Portanto, a equipe deste ano será composta por Patrick Watts, Lucy, Alice e Colin. Nosso primeiro ensaio será na próxima terça-feira. Parabéns a todos os que se classificaram!