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Patrick Watts.

— Meu Deus! Eu não acredito que estou na equipe! — esganiça Alice, pulando e apertando a minha mão.

— Parabéns! — Consigo encontrar um sorriso e prego no rosto.

— Ei, você é que estaria no time se não tivesse me passado aquelas respostas! — esganiça.

Sim, Alice, eu já tinha pensado nisso.

— O que a gente faz agora? Vamos encher a cara em algum bar? — propõe ela. Mas eu estou sem dinheiro e, de repente, não tenho mais vontade de fazer nada disso.

Não estou na equipe, tenho 98 pence no bolso e estou perdidamente apaixonado.

Perdidamente, não. Inutilmente.

Segunda Rodada

— Ele chama os criados de valetes, esse garoto — disse Estella com desdém antes de acabarmos o primeiro jogo.

CHARLES DICKENS, Grandes esperanças

9

PERGUNTA: George, Anne, Julian, Timmy e Dick são mais conhecidos como...?

RESPOSTA: The Famous Five.

Há três coisas que sempre esperei que fossem acontecer na universidade — a primeira era perder minha virgindade, a segunda era ser chamado para virar espião, a terceira era participar do Desafio Universitário. A primeira delas, a virgindade, voou pela janela duas semanas antes de eu sair de Southend, graças a um amasso bêbado e relutante apoiado numa caçamba de lixo nos fundos do Littlewoods, cortesia de Karen Armstrong. Não há muito a ser dito sobre a experiência, na verdade. A terra não tremeu, mas a caçamba de lixo sim. Depois, houve um debate se havíamos feito certo, o que dá uma ideia da incrível habilidade e da engenhosa destreza da minha técnica de fazer amor. Voltando para casa naquela memorável noite de verão, enquanto aproveitávamos o resto de uma garrafa morna de Merrydown pós-coito, Karen repetiu várias e várias vezes: Não conte para ninguém, não conte para ninguém, não conte para ninguém, como se tivéssemos feito algo realmente, verdadeiramente horrível. O que, de certo modo, acho que nós tínhamos.

Quanto à proposta de me tornar um espião do Governo de Sua Majestade, bem, mesmo deixando de lado minhas reservas ideológicas, tenho certeza de que línguas são importantes para uma carreira em espionagem, e eu só estudei francês para os exames finais. Minhas notas foram ótimas, mas, ainda assim, em termos de espionagem de verdade, isso com certeza limita minha atuação, digamos, a uma escola primária francesa, ou quem sabe, forçando a barra, a uma boulangerie. Cobra Vermelha, aqui é Andorinha Negra. Já tenho os detalhes sobre os horários do ônibus escolar...

O que me deixa com o Desafio, e agora eu consegui estragar isso também. Hoje à noite vai ser a primeira reunião, e precisei usar todo o meu poder de persuasão para conseguir ser convidado. Patrick se recusou a retornar minhas ligações e, quando afinal consegui falar com ele, a resposta que obtive foi que não era necessário que o reserva comparecesse, pois ele tinha certeza de que ninguém seria atropelado. Mas continuei insistindo e insistindo até ele ceder, porque, se eu não estiver lá, não terei chance de ver Alice, a menos que comece a espionar seu alojamento na faculdade.

E não pense que não cogitei isso também. Nos seis dias desde que nos encontramos, não a vi nem uma vez. E estive procurando. Toda vez que vou à biblioteca, eu me vejo fazendo um circuito por todas as mesas ou vagando de maneira suspeita pela seção de Artes Cênicas. Quando vou ao bar com Marcus e Josh, e estou sendo apresentado sem muito entusiasmo para algum novo James ou Hugo ou Jeremy, fico olhando para a porta por cima dos ombros deles para o caso de ela entrar. Nos intervalos das aulas, estou sempre atento, mas não vejo sinal dela, o que sugere que está tendo uma experiência universitária muito diferente da minha. Ou será que ela está saindo com outra pessoa? Talvez já tenha se apaixonado por algum belo canalha com maçãs do rosto proeminentes, um poeta nicaraguense no exílio, um escultor ou coisa assim, e passou essa última semana na cama, bebendo vinhos caros e lendo poesia em voz alta. Não pense nisso! Toque a campainha de novo.

Fico me perguntando se Patrick me deu o endereço errado de propósito, e estou a ponto de ir embora quando escuto alguém trotando escada abaixo.

— Oi! — digo com um sorriso brilhante, quando ele abre a porta.

— Olá, Brian — resmunga ele, dirigindo-se àquele ponto à direita da minha cabeça que ele parece preferir e eu o sigo pela escada até o seu apartamento.

— Então, todo mundo vem hoje à noite? — pergunto inocentemente.

— Acho que sim.

— Você falou com todo mundo?

— Uh-hum.

— Então você falou com Alice?

Ele para na escada, vira e olha para trás.

— Por quê?

— Só curiosidade.

— Não se preocupe. Alice vai estar aqui.

Ele está com seu moletom oficial da universidade de novo, o que me deixa um pouco confuso. Quer dizer, eu meio que entenderia melhor se fosse de Yale ou de Harvard ou coisa assim, pois aí seria uma escolha de estilo. Mas por que anunciar que você está numa universidade para outras pessoas que também estão nessa universidade? Será que tem medo que os outros pensem que ele só está fingindo?

Entramos no apartamento, que é pequeno e simples, lembrando um apartamento-modelo decorado de um lançamento imobiliário. Cheira a cebola e carne moída.

— Eu trouxe um vinho! — digo.

— Eu não bebo — responde ele.

— Ah, tá...

— Imagino que você vai querer um saca-rolhas. Acho que tem um em algum lugar. Você quer chá, ou vai começar direto com o seu álcool?

— Oh, álcool, por favor!

— Tudo bem. Vai entrando. Volto num minuto. Você não fuma, não é?

— Não.

— Porque é estritamente não fumante...

— Tudo bem, mas eu não fumo...

— OK. Bem, é por ali. Não toque em nada! — Por estar no terceiro ano e, obviamente, ter pais com dinheiro, Patrick parece ter organizado sua vida de uma maneira semiadulta: uma boa mobília, não funcional, que deve ser dele, televisão, vídeo, uma sala de estar que não tem uma cama, nem um fogão, nem um chuveiro. Na verdade, ele mal parece um estudante. Tudo está no lugar certo e tudo tem seu lugar, como se fosse a casa de um monge ou de um serial killer meticuloso. Enquanto ele está procurando pelo saca-rolhas, dou uma olhada na sala de estar. Na parede atrás da mesa, está a única decoração do apartamento, o pôster de uma praia com uma série de pegadas desaparecendo no pôr do sol e aquele poema inspirador sobre como Jesus está sempre ao seu lado. Mas é justo ressaltar que, se Jesus estivesse ao lado dele no estúdio de TV no ano passado, talvez ele tivesse conseguido mais do que 65 pontos.

A campainha toca e ouço Patrick se precipitando escada abaixo, e aproveito a oportunidade para examinar as prateleiras: quase só livros de economia, organizados em ordem alfabética, e uma versão da Bíblia Boas Novas. Na prateleira dos vídeos, Monty Python e o Santo Graal e Os irmãos cara de pau revelam o lado descontraído de Patrick Watts.

Mas, ao lado deles, há uma série de mais ou menos 20 fitas de VHS idênticas, uma prateleira de vídeos caseiros com etiquetas brancas muito bem escritas nas lombadas impecáveis. Chego mais perto para ver melhor e deixo escapar um soluço involuntário. Nas etiquetas, está escrito:

03/03/1984 — Newcastle versus Sussex