Para ser sincero, meus conhecimentos de tabela periódica estão meio enferrujados, e eu não faço ideia de qual é a resposta, mas tudo bem, pois mais uma vez Lucy Chang sabe.
— Cobalto — responde.
— Resposta certa.
Acabou, e nós caímos para a frente dando tapas nas costas uns dos outros, e, quando Alice me abraça, percebo pela área úmida nas minhas costas que estou suando como um cavalo de corrida.
Mas Julian está pigarreando e dizendo:
— Bem, a pontuação final é 39 de possíveis 40, uma pontuação realmente esplêndida. Por isso, tenho o prazer de comunicar que vocês vão estar na competição do Desafio Universitário deste ano!
E a multidão, se houvesse uma multidão, teria ido à loucura.
Fora do prédio do Grêmio Estudantil, todos nós apertamos a mão do simpático Julian, desejamos uma boa viagem de volta a Manchester. Vamos nos ver no dia 15 de fevereiro, lembranças ao Bamber, ha-ha-ha, e ficamos ali sob a luz do sol do fim de tarde, sem saber o que fazer.
— Então, que tal uma cerveja para comemorar? — proponho entusiasmado, para prolongar a glória.
— O quê? Às 16h? — observa Patrick, indignado, como se eu tivesse convidado todo mundo para uma orgia com heroína na minha casa.
— Não posso, desculpe. Tenho prova amanhã — diz Lucy.
— É melhor eu também não ir — diz Alice, e há um pequeno intervalo, enquanto todos nos perguntamos se ela vai dar alguma desculpa.
Ela não fala mais nada, e eu digo:
— Bom, estou indo na mesma direção. Então, acompanho você.
Começamos a andar enquanto tento pensar em alguma explicação plausível para estar indo na direção errada.
— Ei, parabéns! — diz Alice, no caminho pelo parque que leva ao seu alojamento. — Você foi incrível.
— Ah, obrigado. Você também.
— Ah, sem essa. Eu sou peso morto nesse time. Só me classifiquei porque você me deu as respostas.
— Não, isso não é verdade — observo, mesmo concordando.
— Mas como você sabe todas essas coisas?
— Uma juventude desperdiçada! — respondo, mas ela não entende. Então continuo: — Vamos dizer que eu tenho a capacidade de me lembrar de conhecimento inútil. Só isso.
— Você acha que isso existe? Conhecimento inútil?
— Bem, às vezes, queria não ter aprendido a fazer crochê — digo, e Alice ri. Com certeza, ela acha que estou brincando, o que pode ser melhor. — E letras de canções pop, às vezes, também acho que não precisaria saber tantas...
— Give me spots on my apples but give me the birds and the bees...?
Eu sei. Big Yellow Taxi, de Joni Mitchell — respondo. From Ibiza to the Norfolk Broads…
Eu sei. Life on Mars, David Bowie — respondo.
— Tudo bem. Então, vamos a algo mais recente. She‘s got cheek-bones like geometry and eyes like sin/and she‘s sexually enlightened by Cosmopolitan…
Claro que eu sei a resposta, mas faço uma pequena e envolvente pantomima de não saber antes de responder: Perfect skin, Lloyd Cole and the Commotions?
— Puxa, você é bom meeeeeeesmo — reconhece ela. Depois, pega o meu braço e saímos andando pelo parque enquanto o sol se põe.
— OK, agora é minha vez. Faça o pior que puder...
Penso por um momento, respiro fundo e digo: I saw two shooting stars last night/I wished on them but they were only satellites/It‘s wrong to wish on space hardware/I wish, I wish, I wish you‘d care.
E vejo que consegui me safar. Que, ao menos, ela não vomita em mim bem ali. Sim, sei que eu deveria me envergonhar de mim mesmo, e estou com vergonha, mesmo. Mas ela parece levar na inocência, pensa por um momento e diz:
— Billy Bragg, A New England.
— Na mosca — confirmo.
— É linda, não é?
— Eu acho — e continuamos andando pela alameda arborizada, as lâmpadas dos postes piscando à medida que passamos por elas, tal como a pista de dança iluminada do vídeo Billie Jean. Mas acho que o que mais nos parecemos, neste momento, é com a foto em preto e branco da capa de uma compilação exclusiva da Ronco de quatro discos chamada The Greatest Love Songs Ever anunciada na televisão. Na nossa frente, há uma pilha de folhas recém-caídas, todas castanho-avermelhadas, ocres e douradas, e eu a conduzo na direção da pilha dizendo:
— Ei, vamos chutar umas folhas!
— É melhor não. Às vezes, tem cocô de cachorro nelas — diz ela.
E tenho que admitir que pode estar certa.
Pouco depois, voltamos para Kenwood Manor. Ela andou de braço dado comigo o caminho inteiro, o que deve significar alguma coisa; então, me sentindo encorajado, proponho:
— O que você vai fazer terça-feira que vem?
Apenas um olho altamente experiente como o meu veria o breve momento de pânico que passou pelo semblante de Alice Harbinson, mas estava lá, sim, mesmo que apenas por um momento antes de ela vestir o rosto com uma expressão pensativa e tocar o queixo com o dedo.
— Terça-feira... que vem? Deixa eu pensar... — responde.
Rápido, Alice, pense numa desculpa, rápido garota, vamos, vamos, vamos...
— É que é o meu aniversário de 19 anos, sabe — explico. O grande Um Ponto Nove!... — Faço uma pausa para ela cair na minha armadilha.
— E você vai dar uma festa! Bem, eu adoraria ir...
— Não uma festa. Ainda não conheço tanta gente assim para dar uma festa. Mas, talvez, a gente pudesse sair para... jantar ou coisa assim?
— Só eu e você? — Ela sorri.
Minha expressão estampa um sorriso fixo.
— Só eu e você...
— OK — diz ela, como se fossem duas palavras. — O. Quei. Por que não? Sim! Seria ótimo! Vai ser divertido!
E vai ser ótimo. Ótimo e Divertido. Estou determinado a fazer com que seja tanto Ótimo quanto Divertido.
12
PERGUNTA: Lanugem, folículos e terminais são termos usados para descrever diferentes estágios de desenvolvimento de qual parte do corpo humano?
RESPOSTA: Cabelo.
Hoje é um dia especial, não apenas por ser o meu aniversário de 19 anos, o último ano da minha adolescência e o começo de uma nova fase — mais excitante, adulta e madura — na vida de Brian Jackson, mas é também o dia do meu romântico jantar a dois com Alice Harbinson. E, como um presente especial para mim, Alice e o mundo, decidi mudar completamente a minha imagem.
Para ser sincero, isso já estava para acontecer há algum tempo. Alguns grandes artistas, como David Bowie e Kate Bush, permanecem no topo porque estão sempre mudando de aparência e de atitudes, mas acredito que é justo dizer que, ultimamente, andava preso a um estilo. Não vou fazer nada radical, como começar a usar malha tricotada ou me aplicar heroína e virar bissexual ou coisa assim, mas vou cortar o cabelo. Não, não apenas cortar. Estilizar.
Na verdade, meu cabelo sempre foi um foco de disputa. Assim como usar gel, lavar o rosto e usar sapatos sem cadarços, cortar o cabelo sempre foi considerado um pouco afeminado na Langley Street Comprehensive. O resultado é que até hoje ando com essa coisa sem nome nem forma caindo solta e sem vida nos meus olhos, emaranhando-se de maneira nada higiênica na gola, espetada para os lados por cima das minhas orelhas e fazendo com que a minha cabeça fique igual a um grande sino ou, como diria Tone, a uma maçaneta.