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— Porfirítica?

— Correto.

— Quase — comenta meu pai.

— Em O amante de Porfíria, o protagonista estrangula sua amada com a trança dos cabelos dela... — Espera aí, essa eu sei... — Esse é um poema narrativo de qual poeta vitoriano?

Robert Browning. Vimos isso na aula de inglês na semana passada. É Browning! Eu sei que é!

— Robert Browning! — respondo, esforçando-me para não gritar.

— Robert Browning? — diz Armstrong, de Jesus, Cambridge.

— Correto! — e a plateia aplaude Armstrong, de Jesus, Cambridge, mas sabemos que os aplausos são, na verdade, para mim.

— Nossa, Bri! Como você sabia isso? — pergunta meu pai.

— Eu simplesmente sabia — respondo.

Quero me virar e olhar seu rosto para ver se está sorrindo. Meu pai não sorri muito, pelo menos não quando chega do trabalho, mas não quero parecer convencido e continuo sentado, imóvel, vendo seu reflexo nos raios de sol na tela da TV. Ele dá uma tragada, depois pousa de leve a mão que segura o cigarro no alto da minha cabeça, como um cardeal, alisa meu cabelo com os dedos longos amarelados e diz:

— Se não tomar cuidado, um dia você vai estar lá — e eu sorrio para mim mesmo e me sinto esperto e inteligente e seguro sobre alguma coisa, para variar.

Claro que daí eu fico convencido e tento responder a todas as perguntas e erro todas, mas não importa, porque, pela primeira vez, acertei uma e sei que, um dia, vou acertar de novo.

Acho que é justo dizer que nunca fui escravo dos caprichos volúveis da moda. Não que eu seja antimoda, mas é que, de todos os grandes movimentos juvenis que presenciei até agora, nunca me encaixei em nenhum. No fim das contas, a dura realidade é que, quando você é fã da Kate Bush, de Charles Dickens, de palavras cruzadas, de David Attenborough e do programa Desafio Universitário, não há muita coisa por aí em termos de movimentos juvenis.

O que não quer dizer que eu não tenha tentado. Durante um tempo, ficava acordado na cama pensando se poderia ser gótico, mas acho que foi só uma fase. Além do mais, ser um homem gótico implica basicamente se vestir como um vampiro aristocrata, e se tem uma coisa de que nunca vou convencer as pessoas é que sou um vampiro aristocrata. Não tenho maçãs do rosto para isso. Outra coisa é que ser gótico significa ter de escutar a música deles, o que é impensável.

Então, esse foi, mais ou menos, todo o meu contato com cultura jovem. Digamos que meu estilo possa ser descrito como casual clássico. Prefiro calças de algodão com pregas a jeans, e jeans escuros a claros. O casaco tem de ser pesado, longo e usado com a gola levantada, cachecóis devem ser levemente franjados, preto ou vinho, e são essenciais desde o início de setembro até o fim de maio. Os sapatos precisam ter sola fina e não podem ser pontudos demais, e (isso é muito importante) apenas sapatos pretos ou marrons podem ser usados com jeans.

Mas também não tenho medo de experimentar, em especial agora que estou tendo uma oportunidade de me reinventar. Então, com a velha mala dos meus pais aberta em cima da cama, passo pelas coisas novas que comprei e estive guardando para esse dia especial. Primeiro, minha nova jaqueta, uma coisa incrivelmente densa, preta e pesada que é mais ou menos como vestir um jumento. Estou muito contente com ela, uma mistura de arte e mão de obra grosseira, tipo chega de Shelley, vou sair para asfaltar alguma coisa.

Depois, tem cinco camisas de vovô, com cores variando entre o branco e o azul, que comprei por uma libra e 99 pence cada uma num passeio com Spencer e Tone em Carnaby Street. Spencer odiou, mas acho que elas são ótimas, em especial combinadas com um colete preto que comprei de segunda mão por três paus na Help the Aged. Precisei esconder o colete da minha mãe. Não porque ela tenha algo contra idosos, mas por achar que qualquer coisa de segunda mão é ordinária e que quem as usa está a um passo de catar comida do chão. Meu objetivo com essa combinação de colete/camisa de vovô/óculos redondos é

visual de um jovem oficial do exército traumatizado, com uma certa gagueira e um caderno cheio de poesias trazido das brutalidades do front. Ele continua cumprindo seu dever patriótico trabalhando numa fazenda em um remoto vilarejo de Gloucestershire, onde é tratado com desconfiança pelos locais, mas amado a distância e em segredo pela bela filha do vigário, ávida leitora, sufragista que curte pacifismo, vegetarianismo e bissexualidade. Realmente, é um belo colete. Além do mais, não é de segunda mão, é vintage.

Tem também o paletó de veludo cotelê marrom do meu pai. Estendo na cama e cruzo com cuidado os braços em cima do peito. Vejo uma leve mancha de chá na frente, de alguns anos atrás, quando cometi o erro de ir com ele a um baile da escola. Sei que isso pode ser considerado um pouco mórbido, mas achei que poderia ser um gesto legal, uma espécie de homenagem. Mas acho que deveria ter falado com minha mãe antes, pois, quando ela me viu de pé na frente do espelho com o paletó do meu pai, deu um berro e jogou a caneca de chá em mim. Quando enfim percebeu que era só eu, começou a chorar e ficou meia hora deitada na cama se debulhando em lágrimas, o que é um grande estímulo antes de uma festa. Daí, quando se acalmou e, afinal, cheguei ao baile, tive a seguinte conversa com Janet Parks, o amor da minha vida daquela semana:

EU: Vamos dançar, Janet?

JANET PARKS: Legal seu paletó, Bri.

EU: Obrigado!

JANET PARKS: Onde você comprou?

EU: É do meu pai!

JANET PARKS: Mas o seu pai não... morreu?

EU: Morreu.

JANET PARKS: Então você está usando o paletó do seu pai morto?

EU: Exatamente. Então, e aquela dança?

E, a essa altura, Janet coloca a mão na frente da boca, afasta-se e começa a apontar e a cochichar no canto com Michelle Thomas e Sam Dobson, pouco antes de ir embora com Spencer Lewis. Não que eu guarde mágoa nem nada. Além do mais, na faculdade essa história não vai importar. Ninguém vai saber de nada disso a não ser eu. Na faculdade, vai ser apenas um paletó de veludo cotelê. Acabo de dobrar e guardo na mala.

Minha mãe entra, depois bate, e eu fecho a mala depressa. Ela já está bastante chorosa. Não precisa ver o paletó do meu pai para começar a chorar de novo. Afinal, ela tirou a manhã de folga no trabalho exatamente para chorar.

— Quase pronto, então?

— Quase.

— Quer levar uma frigideira?

— Não, mãe, eu me viro sem frigideira.

— Mas o que você vai comer?

— Eu como outras coisas além de batata frita, mãe!

— Não, não come.

— Bem, talvez comece a comer. Além do mais, existem batatas de forno. — Eu me viro e vejo que ela está quase sorrindo.

— É melhor você ir, não?

O trem ainda vai demorar um século, mas minha mãe acha que pegar um trem é um pouco como um voo internacional, que você precisa chegar quatro horas antes da partida. Não que a gente já tenha estado num avião ou coisa assim, mas é um milagre que ela não tenha me obrigado a tomar vacinas.

— Vou sair daqui a meia hora — digo, e se faz silêncio.