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Então, há outro instante rápido quando Patrick consegue soltar um braço e dá um tapa de mão aberta na orelha de Spencer, um golpe barulhento porém

ineficiente, que só serve para fazer Spencer relaxar a pressão no pescoço de Patrick, que, de repente, começa a se debater, braços e pernas agitando-se loucamente, chiando e cuspindo como uma criança dando escândalo. As pessoas começam a gritar e se atropelar para sair do pequeno recinto, e, no meio do caos, vejo Alice segurando o braço de Spencer, tentando afastá-lo da cena, como uma heroína de cartaz de filme, porém ele dá um empurrão e ela cai de costas contra a janela, fazendo um barulho alto ao bater a cabeça. Alice franze os olhos e leva a mão à nuca para ver se está sangrando e vou até ela para ver se está bem, mas Patrick continua agitando os braços loucamente, atacando Spencer, que se abaixa e se esquiva, até que, de repente, vê o seu momento. Ergue o corpo, coloca a mão espalmada no peito de Patrick, mantendo-o afastado, leva o outro braço para trás e solta um golpe com todo seu peso no punho, acertando o rosto de Patrick com um estrondo alto e úmido, como um pedaço de carne batendo numa superfície de madeira, fazendo-o rodar duas vezes e cair de cara no chão.

Há um momento de silêncio, seguido por um repentino afluxo de pessoas correndo até Patrick, que rolou de barriga para cima e está tocando de leve no nariz e na boca para ver se há sangue, e o sangue é abundante.

— Ah, meu Deus! — murmura — Meu Deus...

Acho que está prestes a chorar quando Lucy Chang se espreme para chegar até ele e amparar sua cabeça na mão, ajudando-o a sentar-se, e, depois disso, só vejo com clareza três pessoas.

Rebecca está de pé no meio do quarto, as mãos cobrindo a boca, suspensa entre risos e lágrimas.

Alice está encostada na janela encarando Spencer de boca aberta, com uma das mãos esfregando a parte de trás da cabeça.

Spencer deu as costas para Patrick e está olhando a própria mão, examinando os dedos, ofegante. Olha para mim, solta a respiração entre os dentes cerrados e diz:

— Vamos embora, OK?

No andar de baixo, todos estão cantando With a Little Help From My Friends.

30

PERGUNTA: Em conjunto, os sintomas blefarite, ectrópio, ambliopia e heteroforia resultariam em que condição?

RESPOSTA: Uma incapacidade de enxergar claramente.

Saímos andando em silêncio pelas ruas ladeadas por terraços; Spencer um pouco atrás de mim. Ouço seus passos pelo chão molhado, mas estou com muita raiva, muito envergonhado, muito bêbado e confuso demais para falar com ele nesse momento. Por isso, mantenho a cabeça abaixada e continuo caminhando.

— Ótima festa! — diz Spencer, afinal.

Ignoro e continuo seguindo em frente, pisando duro.

— Gostei da Alice.

— É, eu notei! — respondo, sem olhar para trás.

Andamos um pouco mais em silêncio.

— Escuta, Bri, se você tem alguma coisa a me dizer, diga agora, porque isso é uma puta de uma burrice...

— E se eu não disser? Vai me bater também?

— É muito tentador — resmunga baixinho — Mas tudo bem, cara. Entendi o recado. Agora escuta, OK? — Continuo andando. — Por favor?

As palavras não saem com facilidade, e ele fala como uma criança petulante, forçada a dizer algo contra a vontade, mas paro e me viro para ouvir.

— Tudo bem, Brian. Sinto muito por... ter batido... no capitão da sua equipe do Desafio Universitário... — mas ele não consegue chegar ao fim da frase sem começar a dar risadinhas. Então me viro e continuo a andar. Depois de um tempo, eu o escuto correndo atrás de mim, e talvez me encolha um pouco, mas logo o vejo na minha frente, franzindo a testa e andando de costas.

— O que você queria que eu fizesse, Bri? Ficasse lá e ouvir aquilo sem fazer nada? Ele estava me tratando como um merda...

— E aí você resolveu bater nele?

— É...

— Porque discordava dele?

— Não, não foi só por isso...

— E não pensou em talvez argumentar com ele, debater o seu ponto de vista de maneira calma e racional?

— O que o meu ponto de vista tem a ver com isso? Ele estava tentando me fazer de idiota...

— …E, então, você recorreu à violência!

— Eu não recorri à violência. Foi minha primeira escolha.

— Ah, sim, muito bacana, você é muito durão, Spencer...

— Bom, você não estava fazendo muito pra me ajudar, estava? Ou estava com medo de ele tirar você da equipe?

— Eu estava defendendo você!

— Não, não estava. Só estava mostrando a porra da sua imensa consciência social para suas namoradas. Se não tivesse levantado o assunto...

— O que você queria que eu fizesse? Segurasse os braços dele atrás das costas? Eles são meus amigos, Spencer...

— Aquele idiota? Seu amigo? Puta merda, Brian, é pior do que eu imaginava. Ele trata você como lixo.

— Não é verdade!

— É verdade... Eu vi. O cara é um completo babaca e mereceu o que aconteceu...

— Bem... Ao menos, ele não tenta se dar bem com as garotas de quem estou a fim...

— Opa, opa, espera aí! — ele me para com a mão espalmada no meu peito, do mesmo modo como fez com Patrick antes de bater nele, e me pergunto se consegue sentir o quanto meu coração está acelerado. — Você acha que eu estava tentando me dar bem com a Alice? Você acha mesmo que eu estava fazendo isso?

— Bom, foi o que me pareceu, Spencer, com todos aqueles afagos na sua cabeça... — Tento pôr a mão na cabeça dele, mas ele agarra meu pulso com a mão livre e segura com firmeza.

— Sabe, Bri, para alguém que devia ser culto, você realmente consegue ser muito burro às vezes...

— Não fale assim comigo... — digo, soltando minha mão.

— Como?

— Desse jeito, como você sempre fala comigo! Spencer, por que essa necessidade de... destruir tudo? Sinto muito que as coisas não estejam indo bem pra você no momento. Sinto muito que não esteja feliz... Mas há coisas que você pode fazer em relação a isso, Spencer, coisas práticas, mas você prefere não fazer nada, porque é mais fácil ficar vadiando e botar pra foder e tirar sarro de pessoas que estão tentando fazer alguma diferença na vida...

— Como você, por exemplo? — ele pergunta, com um sorriso dissimulado.

— Você está com inveja, Spencer. Você sempre teve inveja de mim. Só porque trabalho duro, porque eu sou inteligente e consegui...

— Opa! Espera aí. Inteligente? É isso que você acha, sua putinha convencida? Quando a gente se conheceu você não conseguia nem amarrar os cadarços! Eu tive que ensinar a você! Você escrevia esquerdo e direito nos seus tênis de ginástica até ter 15 anos! Não conseguia assistir a uma partida de futebol sem desabar em lágrimas, seu molenga. Se você é tão inteligente, como é que não sabe o que as pessoas dizem de você pelas costas, quanto elas riem de você? Fiquei ao seu lado por anos e anos, depois que o seu pai morreu...

— O que o meu pai tem a ver com isso?

— Diga você, Brian. Diga você.

— Deixe o meu pai fora disso! — grito.

— Ou o quê? O que você vai fazer, chorar?

— Vá se foder, Spencer, seu... brutamontes!

Mas sinto uma sensação quente e irritante atrás dos olhos, um nó apertado de pânico no estômago, e, de repente, percebo que preciso me afastar, dou meia-volta e retorno pelo caminho de onde viemos.