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— Acho que não. Por quê? Eu deveria?

— Com certeza. É maravilhoso. Está passando no Art Cinema essa semana toda.

— OK, então vamos juntos. Que tal? Mato as aulas de amanhã à tarde...

— Na verdade, fui ver hoje à tarde.

— Sozinho?

— Não. Com Alice, na verdade — explico, o mais casualmente que consigo. Mas Rebecca consegue ver esse tipo de coisa a um quilômetro de distância, e parte para cima: — Bem, vocês dois andam muito amigos no momento, não é? Tem alguma coisa que eu deva saber?

— Só temos passado um tempinho juntos. Só isso.

— É mesmo? — questiona Rebecca, cética. Começa a pegar outro cigarro, mesmo tendo um ainda grudado nos lábios, e é como ver alguém carregando um revólver.

— É... mes... — (lambe o papel) — ...mo? Bom, Jackson, você sabe mesmo como entreter uma garota, né? Uma obra-prima da propaganda soviética à tarde, depois quem sabe um coquetel de camarão, meia porção de frango com molho barbecue e duas canecas de Lambrusco Bianco no Luigi. É mesmo uma vida boa. Só espero que, depois de um dia mágico como esse, você ao menos tenha conseguido passar a mão nos peitos dela...

A coisa esperta a se fazer seria, claro, não morder a isca.

— Na verdade, estamos meio que saindo juntos.

Rebecca ergue as sobrancelhas e sorri para si mesma. Acende o cigarro antes de falar de novo.

— Ah, é? — pergunta baixinho, tirando o tabaco dos lábios. — Então, por que eu nunca vejo vocês juntos nos corredores do alojamento?

— Estamos sendo discretos. Indo devagar — respondo, nada convincente.

— Certo, certo. Então, foi você quem ligou na semana passada para falar com ela?

— Não!

— Tem certeza?

— Sim!

— Porque parecia muito com você...

— …Bom...

— …Fazendo uma voz engraçada...

— …Bom, não era eu...

— Você já transou com ela? — rosna Rebecca, o cigarro pendendo da boca contorcida.

— O quê?

— Vocês já tiveram um intercurso sexual? Sabe como é... trepar, coito, papai e mamãe. Vamos lá, você já deve ouvido falar sobre isso. Afinal, está indo para o Desafio Universitário... O que você vai responder se fizerem essa pergunta? Jackson, de Southend, cursando literatura inglesa, o que é exatamente um intercurso sexual? Hummmmmmmm... Posso debater com o resto da equipe, Bamber? Alice, o que é intercurso sex...?

— Eu sei o que é, Rebecca...

— Então? E você já experimentou ou está se guardando para o dia do casamento? Ou talvez esteja preocupado com seu histórico sexual. Afinal, todo cuidado é pouco hoje em dia. Só que, pelo que me lembro, na verdade você não tem um histórico sexual...

E, antes de perceber o que estou falando, digo:

— Como se o seu pudesse ser descrito numa carta pra família, né, Rebecca?

Ela tira o cigarro da boca, apoia a mão na quina da mesa e ficou em silêncio por um instante.

— Bom argumento, Jackson. Bom argumento. — Toma o último gole de cerveja da caneca e se contrai. — Touché, Jackson! — e ficamos em silêncio.

— Eu não quis...

— …não, está tudo bem...

— …não estava me referindo a...

— Não, eu sei que não estava.

Decido ir embora.

— Então, você vai na gravação? — pergunto, vestindo o casaco.

— Que gravação?

— Do Desafio Univ...

— Quando vai ser?

— Depois de amanhã.

— Não posso. Tenho orientação. Então...

— …tem uma lista no quadro de avisos do segundo andar, se...

— …eu sei...

— …é só assinar o nome, se...

— …vou ver...

— …eu gostaria muito que você fosse...

— Por quê?

— …só gostaria muito. Vejo você lá, sim?

— É... Bom... Talvez...

Passo pelo alojamento de Alice, na esperança de um encontro casual, e deixo meu cartão do Dia dos Namorados. Minha mão paira junto à caixa de correio por um momento, então respiro fundo e solto. Depois, enrolo um pouco, fingindo ler o quadro de avisos, no caso de ela voltar. Mas não quero encontrar

Rebecca de novo; por isso, voltei logo para casa e chego no momento em que Josh estava fixando um bilhete na minha porta.

— Ah, chegou o garanhão! Mensagem para você. De alguém chamado... — Alice, talvez? — … de alguém chamado... Tone. Disse que é para você ligar urgente.

— Sério? — pergunto. Que diabo Tone pode querer? Talvez vindo passar um tempo também. Não posso receber Tone logo no Dia dos Namorados, com o programa e tudo o mais. Olho para o relógio. Onze e meia. Vou até o telefone no corredor.

— E aí, Tone!? — cumprimento, animado.

— Tudo bem, Bri...

— Não acordei você, acordei? É que me deram um recado para ligar.

— É, isso mesmo...

— Você está vindo passar um tempo aqui, Tone? Porque, se está, não é o melhor momento...

— Eu não estou indo aí, Bri. Na verdade, estava querendo saber quando você vem pra cá.

— Bem... Não até a Páscoa, acho.

— Não, quero dizer, para ver o Spencer.

— Por quê? O que tem o Spencer?

— Você não soube?

Aperto o telefone no ouvido e me apoio na parede.

— Soube o quê?

Tone solta um suspiro profundo no outro lado da linha e diz:

— Aconteceu um pequeno acidente.

34

PERGUNTA: No casamento de quem Os bolos fúnebres serviram para os frios do esposório?

RESPOSTA: No casamento de Gertrude e Claudius, em Hamlet.

Chego a Southend bem cedo na manhã do Dia dos Namorados, antes de o correio passar, e estou à maisonette na Archer Road por volta do meio-dia. Estou desesperado para urinar desde a Fenchurch Street, mas os banheiros no trem estavam bloqueados. Então, esperei e meus rins ficaram latejando de dor. Subo as escadas correndo, entro no banheiro e grito...

— MEU DEUS!

Tem um homem na banheira, passando xampu nos cabelos. Ele também começa a gritar...

— QUE DIABO...!

Aí, vejo minha mãe saindo do quarto, fechando a camisola, e, por cima dos ombros dela, avisto a cama toda bagunçada, uma cueca vermelha e branca pendurada na cabeceira, a calça do homem largada no chão e a garrafa de vinho espumante...

— BRIAN, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?! — grita ela.

Viro-me de costas, porque ela ainda não fechou bem a camisola e vejo o homem na banheira se levantando, tirando o xampu dos olhos com uma das mãos e pegando uma toalha de rosto com a outra, que usou para cobrir a região genital.

— Que diabo está acontecendo? — pergunto.

— Eu estou tentando tomar uma droga de um banho! — vocifera tio Des.

— Espere lá embaixo! — rosna minha mãe.

— Preciso usar o banheiro! — explico, o que é verdade, além de urgente.

— BRIAN, ESPERE LÁ EMBAIXO! — grita ela, segurando a camisola fechada e apontando a escada. Não a ouço gritar desse jeito desde que eu era criança, e, de repente, me sinto como uma criança, pois desço os degraus, destranco a porta dos fundos e faço xixi num canto do jardim.

Estou na cozinha esperando a chaleira ferver quando escuto tio Des e minha mãe descendo a escada de fininho e, depois, sussurrando coisas no corredor, como dois adolescentes. Acho que chego a ouvir um te ligo mais tarde e um beijo, o som da minha mãe beijando tio Des. Daí, a porta da frente se fecha e escuto um fósforo sendo riscado, o som da minha mãe tragando e soltando o ar devagar, e, então, ela está atrás de mim, vestida com casaco de moletom azul berrante, dando tragadas profundas num cigarro e com uma taça ensebada de vinho espumante na mão.