— Lucia, dimmi, parli italiano?
Envergonhada, Lucy responde:
— Si, un pochino.
Depois para Alice:
— E tu Alice, dimmi, parli anche tu l‘italiano?
— Si, parlo l‘italiano, ma solo come una turista... — suspira Alice.
— Ele está perguntando se nós falamos ital... — sussurra Lucy.
— Eu sei o que ele está perguntando, Lucy! — respondo.
— Então, você fala italiano? — pergunta Patrick.
— Não! Não muito...
— E, ainda assim, Lucy fala, Alice fala e eu falo. E, no entanto, foi você, Brian Jackson, você, o único que não fala italiano na equipe, que se sentiu capaz de responder a uma pergunta no começo da rodada sobre termos musicais italianos...
— Ninguém mais apertou o botão. Então, pensei em tentar...
— Esse é o problema com você, não é, Brian? Com você, é só tentar, tentar, tentar, atirando no escuro, errando todas as vezes, mas tentando de novo, e de novo só errando, errando, errando, errando, errando, errando tudo e perdendo o jogo, arrastando todos nós junto. — O rosto dele fica cor de vinho, a mesma cor do seu moletom da universidade, a centímetros de distância do meu...
— O que é isso, turma? Foi só um ensaio — intervém Lucy, tentando se espremer entre nós, enquanto Alice permanece um pouco afastada, as mãos cobrindo o rosto, espiando entre os dedos.
— …Nem sei por que deixei você entrar para a equipe, em primeiro lugar! Você aparece bêbado, fedendo a álcool, e age como se soubesse tudo, quando não sabe nada. No que diz respeito a essa equipe, você é um completo peso morto... — As mãos dele estão no meu peito, os dedos abertos, e sinto o leve borrifo de sua saliva na minha bochecha... — Acho que estaríamos melhor com um cara qualquer da rua. Até mesmo com seu maldito amigo Spencer. Vocês são dois porcos ignorantes. É como dizem: você pode tirar o garoto de Essex, mas não pode tirar...
Acho que ele continuou a falar depois disso, pois a boca estava mexendo, mas não escutei mais nada. Porque só sei que ele puxou a lapela do paletó de veludo cotelê marrom do meu pai e me ergueu nas pontas dos pés. É nesse momento que tomo uma decisão, que algo se rompe — só que, na verdade, não se rompe, só estica — talvez por ele ter mencionado Spencer, ou os resquícios da bebida da noite anterior, mas, àquela altura, decido dar uma cabeçada em Patrick Watts. Dou um pequeno salto no ar, não um salto de jogador de basquete, nem de longe, apenas um impulso com os calcanhares, e desço a cabeça o mais forte que posso bem no centro da cara cor de vinho de Patrick. Sinto vergonha de admitir que tenho uma rápida, porém intensa, sensação de prazer e satisfação e vingança justa, antes de a dor percorrer o caminho até o meu cérebro e tudo ficar preto.
40
PERGUNTA: Em A canção de amor de J. Alfred Prufrock, de T. S. Eliot, A noite cai e já se estende pelo céu...?
RESPOSTA: ...Parecendo um doente adormecido a éter sobre a mesa.
— Como uma garota nascida e criada em Glasgow, acho seguro dizer que o que estamos observando aqui é um erro clássico de interpretação do princípio básico de uma cabeçada — disse Rebecca Epstein. — O propósito de uma cabeçada é bater a parte dura da testa com o máximo de força possível contra a parte macia do nariz do oponente. O que você fez aqui, Brian, foi bater a parte macia do seu nariz contra a parte dura da testa dele. Daí, o sangue e a perda de consciência.
Abro os olhos e percebo que estava deitado de costas em duas mesas de escritório colocadas lado a lado. Lucy Chang está ao meu lado, puxando para trás a franja que fica caindo nos meus olhos, mostrando três dedos e perguntando:
— Quantos dedos você está vendo?
— Se eu errar a resposta, nós vamos perder 5 pontos?
Ela sorri.
— Dessa vez, não.
— Então, a resposta é três.
— E a capital da Venezuela é...?
— Caracas?
— É isso aí, Sr. Jackson! — disse Lucy. — Acho que você vai ficar bem.
Parece que estamos uns dois andares acima, com vista para a parte de trás do estúdio de TV, na produção do Desafio Universitário. Há livros de referências espalhados por todos os lados e fotos de antigos ganhadores nas paredes. Viro a cabeça para o lado e vejo Rebecca, sentada na beirada de uma mesa em frente à minha, muito bonita. Não bonita, pois a palavra bonita é específica de gênero e reacionária, mas atraente, num vestido justo comprido e simples debaixo de uma jaqueta de brim preta, balançando os coturnos Doc Martens para trás e para a frente.
— Então, você veio?
— Ah, sim! E não teria perdido isso por nada no mundo. Lá estava eu, num micro-ônibus com um bando de Jovens Conservadores, todos bêbados, com seus cachecóis da universidade e seus irônicos ursinhos de pelúcia, e pagando 3 pratas pela gasolina, devo acrescentar, o que é um roubo se você fizer as contas, e penso: meu Deus, o que eu estou fazendo aqui!? Isso é o inferno! Então, chegamos, estamos fazendo um pequeno tour pelo estúdio antes do programa, e viramos uma esquina bem a tempo de ver você caído no chão, inconsciente, numa poça do próprio sangue, e eu pensei, bem, aí está, se isso já não vale 3 pratas, não sei o que mais pode valer.
Olho para baixo e vejo que estou usando apenas calça e colete, o mesmo colete que usei nas últimas 36 horas, salpicado de sangue na frente e com um cheiro forte de gim. Na verdade, é mais que um cheiro forte. São gases. Estou exalando gases.
— O que aconteceu com a minha roupa?
— Eu e Lucy nos aproveitamos de você enquanto estava inconsciente. Tudo bem, né?
Lucy fica vermelha.
— Alice está lavando sua camisa no banheiro e tentando usar o secador para mãos...
— Está tudo bem com o paletó?
— Tudo bem com o paletó...
— …Aquele paletó era do meu pai...
— Está tudo bem. De verdade...
Devagar, sento-me de lado na beira da mesa e sinto meu cérebro se mover junto, espremendo-se contra as laterais do crânio. Lucy segura um espelho do seu kit de maquiagem, eu respiro fundo e olho. Poderia ser pior, penso. Meu nariz não está mais inchado ou deformado que o normal, embora haja uma mancha escura que parece giz vermelho em cada narina.
— Como está Patrick? — pergunto a Lucy.
— Nenhum arranhão — responde ela.
— Que pena! — digo.
— Ei, agora chega! — ela responde, mas com um sorriso conspiratório. Depois, com uma expressão séria: — Mas tem um problema...
— O quê?
— Bom... Acho que não vão deixar você participar do programa.
— O quê? Você está brincando!
— Temo que não.
— Mas por que não?
— Bom... Você agrediu o capitão da nossa equipe.
— Não foi uma agressão! Eu bati nele uma vez! E ele me provocou, você viu aquilo. Ele estava me erguendo pela lapela! De qualquer maneira, sou eu quem está machucado! Como posso ser o agressor se eu é que estou machucado?
— E esse é o argumento da defesa, meritíssimo — comenta Rebecca.
— Eu sei, Brian, mas, mesmo assim, Patrick não está nada contente... Ele tem um amigo do departamento de economia preparado para entrar no seu lugar no último minuto...
— Você está brincando...
— Você não pode reclamar, Brian. Você aparece fedendo a álcool, erra um monte de perguntas e ainda tenta quebrar o nariz dele...
— Mas a minha mãe está aqui!