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Surpreendente! Como seus hábitos são surpreendentemente imundos! Não importa. Sou o responsável por você. Você aprenderá bons modos. Vai tomar banho como um ser humano e a Mãe vai saber aquilo que quer saber. — Banho!

- Agora saia antes que eu o arrebente em pedaços! - Blackthorne encarou-o furioso, gesticulando para que se fosse.

Houve uma pausa momentânea e os outros três japoneses apareceram com três das mulheres. Mura explicou resumidamente o que estava acontecendo, depois disse a Blackthorne com determinação:

- Banho. Por favor.

- Fora!

Mura avançou sozinho para dentro do quarto. Blackthorne levantou o braço para a frente, não querendo ferir o homem, só para empurrá-lo. De repente soltou um berro de dor. De algum modo Mura lhe atingira o cotovelo com o lado da mão e agora o braço de Blackthorne pendia, momentaneamente paralisado. Furioso, atacou. Mas o quarto rodou, ele caiu de cara no chão, houve outra dor paralisante, penetrante, nas suas costas e ele não pôde se mover.

- Por Deus... - Tentou levantar-se, mas as pernas se curvaram ao seu peso. Depois, calmamente, Mura estendeu o dedo pequeno, mas duro como ferro, e tocou um centro nervoso na nuca de Blackthorne. Houve uma dor ofuscante.

- Meu bom Jesus...

- Banho? Por favor?

- Sim, sim - ofegou Blackthorne através de sua agonia, atônito de ter sido dominado com tanta facilidade por um homem tão minúsculo e agora jazer indefeso como qualquer criança, pronto para ter a garganta cortada.

Anos antes Mura aprendera as artes do judô e caratê, assim como a lutar com espada e lança. Isso fora quando ele era um guerreiro e lutara por Nakamura, o general camponês, o taicum - muito antes de o taicum tornar-se taicum -, quando os camponeses podiam ser samurais e os samurais podiam ser camponeses, ou artesãos, ou mesmo modestos mercadores, e guerreiros novamente. Estranho, pensou Mura distraidamente, olhando para o gigante caído, que praticamente a primeira coisa que o taicum tenha feito quando se tornou todo-poderoso tenha sido ordenar que todos os camponeses deixassem de ser soldados e imediatamente depusessem todas as armas. O taicum lhes; proibira as armas para sempre e estabelecera o sistema de castas imutáveis, que agora controlava todas as vidas no império: os samurais acima de todos, abaixo deles os camponeses, depois os artesãos, em seguida os mercadores, seguidos pelos atores, os párias e os bandidos, e finalmente, na base da escala, os eta, os não-humanos, os que lidavam com corpos mortos, com a defumação do couro e a manipulação de animais mortos, que também eram os carrascos públicos, os mutiladores e os que marcavam com ferro quente. Claro que todo bárbaro estava abaixo de consideração nessa escala.

- Por favor, desculpe-me, capitão-san - disse Mura, fazendo uma profunda reverência, envergonhado pela perda de dignidade do bárbaro, que jazia deitado ali, gemendo como um bebê de peito. Sim, sinto muito, pensou, mas tinha que ser feito. Você me provocou além de tudo o que era razoável, mesmo para um bárbaro. Grita como um lunático, perturba minha mãe, rompe a tranqüilidade de minha casa, incomoda os criados, e minha esposa já teve que substituir uma porta shoji. Eu não podia permitir que a sua óbvia falta de educação continuasse sem oposição. Ou permitir-lhe ir contra os meus desejos na minha própria casa. Na realidade é para o seu próprio bem. E depois, não é tão mau assim, porque vocês, bárbaros, na realidade não têm dignidade a perder. Exceto os padres - eles são diferentes. Ainda cheiram horrivelmente, mas são os ungidos de Deus, o Pai, portanto têm muita dignidade. Mas você... você é um mentiroso e um pirata.

Não tem honra. Que surpreendente! Bradando ser cristão! Infelizmente isso não vai ajudá-lo em absoluto. O nosso daimio odeia a verdadeira fé e os bárbaros, e os tolera só porque tem que tolerá-los. Mas você não é português nem cristão, portanto não é protegido pela lei, neh? Assim, ainda que você seja um homem morto, ou pelo menos um homem mutilado, é meu dever fazer que você siga o seu destino estando limpo.

- Banho muito bom!

Ajudou os outros homens a carregar Blackthorne, ainda entorpecido, através da casa, pelo jardim, ao longo de um caminho coberto do qual ele sentia muito orgulho, e para dentro da casa de banho. As mulheres vinham atrás.

Tornou-se uma das grandes experiências de sua vida. Na época soube que contaria e recontaria a história aos amigos incrédulos, esvaziando barris de saquê quente, como era chamado o vinho nacional do Japão; aos seus companheiros mais velhos, pescadores, aldeães, aos filhos deles, que também não lhe acreditariam de imediato. Mas-eles, por sua vez, regalariam os próprios filhos com o relato, e o nome de Mura, o pescador, viveria para sempre na aldeia de Anjiro, que ficava na província de Izu, na costa sudeste da ilha principal de Honshu. Tudo porque ele, Mura, o pescador, teve a boa fortuna de ser chefe da aldeia no primeiro ano após a morte do taicum e, portanto, temporariamente, responsável pelo chefe dos estranhos bárbaros que surgiram do mar oriental.

CAPÍTULO 2

- O daimio, Kasigi Yabu, senhor de Izu, quer saber quem é você, de onde vem, como chegou aqui e que atos de pirataria cometeu - disse o Padre Sebastio.

- Continuo lhe dizendo que não somos piratas. - A manhã estava clara e quente, e Blackthorne estava ajoelhado diante da plataforma na praça da aldeia, a cabeça ainda doendo por causa da pancada. Conserve a calma e ponha o cérebro a funcionar, disse a si mesmo. Você está em julgamento pela vida de todos.

Você é o porta-voz e isso é tudo. O jesuíta é hostil, é o único intérprete disponível, e você não tem meios de saber o que ele está dizendo, só pode ter certeza de que ele não vai ajudá-lo... "Ponha. os miolos a trabalhar, rapaz", quase podia ouvir o velho Alban Caradoc dizendo. "É quando a tempestade está pior e o mar mais terrível que você precisa dos seus miolos especiais. É isso que o mantém vivo e mantém vivo o seu navio - se você é o piloto. Ponha os miolos a funcionar e tome seu suco todos os dias... "

O suco de hoje é bile, pensou Blackthorne de cara fechada.

Por que ouço a voz de Alban com tanta clareza?

- Primeiro diga ao daimio que estamos em guerra, que somos inimigos - disse. - Diga-lhe que a Inglaterra e a Neerlândia estão em guerra com a Espanha e Portugal.

- Previno-o de novo para simplesmente falar e não torcer os fatos. A Neerlândia, ou Holanda, Zelândia, Províncias Unidas, ou seja, como for que vocês, imundos rebeldes holandeses, a chamem, é uma pequena província revoltosa do império espanhol. Você é o líder de traidores que se encontram em estado de insurreição contra o rei legítimo.

- A Inglaterra está em guerra e a Neerlândia está sep... - Blackthorne não continuou porque o padre não estava mais ouvindo, e sim traduzindo.

O daimio estava sobre a plataforma, baixo, atarracado e dominador. Ajoelhara-se confortavelmente, os calcanhares cuidadosamente dobrados sob o corpo, ladeado por quatro lugar-tenentes, um dos quais era Kasigi Omi, seu sobrinho e vassalo. Todos usavam quimonos de seda e, sobre ele, sobrecotas ornadas, com cintos largos apertando-os até a altura do peito e imensos ombros engomados. E as inevitáveis espadas.

Mura estava ajoelhado sobre o pó. Era o único aldeão presente, e os únicos outros espectadores eram os cinqüenta samurais que tinham vindo com o daimio. Sentavam-se em filas disciplinadas, silenciosas. A tripulação do navio estava atrás de Blackthorne e, como ele, todos de joelhos, com guardas por perto. Tiveram que carregar o capitão-mor consigo quando foram mandados para ali, embora ele ainda estivesse passando pessimamente. Autorizaram-no a permanecer deitado, ainda em semi-coma. Blackthorne e todos os outros se curvaram quando chegaram diante do daimio, mas isso não fora suficiente. Os samurais os fizeram ajoelhar-se à força e empurraram-lhes a cabeça até o pó, à maneira dos camponeses. Ele tentara resistir e gritara ao padre que explicasse que o costume deles não era aquele, que ele era o líder e um emissário de seu país e devia ser tratado como tal. Mas o cabo de uma lança o fizera cambalear. Seus homens se agruparam para um ataque impulsivo, mas ele lhes gritara que parassem e ajoelhassem.