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- Quem quer pegar o primeiro? - repetiu ele.

- Como vamos saber se... se aquele que pegar a palha errada, a curta, irá? Como vamos saber? - A voz de Maetsukker estava inflamada de terror.

- Não vamos saber. Não com certeza. Devíamos saber com certeza - disse Croocq, o rapaz.

- Isso é fácil - disse Jan Roper. - Juremos que o faremos em nome de Deus. Em nome dele. Mo... morrer pelos outros em nome dele. Então não há motivo de preocupação. O ungido como cordeiro de Deus irá diretamente para a glória eterna.

Todos concordaram.

- Vamos, Vinck. Faça como Roper diz.

- Muito bem. - Os lábios de Vinck estavam ressecados.

- Se... se... for eu... juro por Deus que irei com eles se... se eu pegar a palha errada. Em nome de Deus.

Todos o imitaram. Maetsukker estava tão assustado, que teve que ser instigado antes de afundar de volta no pântano do pesadelo que estava vivendo.

Sonk escolheu primeiro. Pieterzoon foi o segundo. Depois Jan Roper, em seguida Salamon e Croocq. Spillbergen sentiu-se morrer, porque haviam combinado que ele não escolheria e ficaria com a última palha, e agora as probabilidades estavam se tornando terríveis.

Ginsel estava salvo. Restavam quatro.

Maetsukker chorava abertamente, mas empurrou Vinck para o lado e pegou uma palha. Não conseguiu acreditar que não era ele o escolhido.

O pulso de Spillbergen tremia e Croocq ajudou-o a firmar o braço. Fezes escorriam-lhe despercebidas pelas pernas abaixo.

- Qual eu pego? - perguntava Van Nekk a si mesmo, desesperado. Oh, Deus me ajude! Mal podia ver as palhas através da névoa da sua miopia. Se ao menos pudesse ver, talvez tivesse uma pista para escolher. Qual?

Pegou a palha e trouxe-a bem junto aos olhos, para ver sua condenação com clareza. Mas a palha não era curta.

Vinck observou os próprios dedos escolhendo a penúltima palha, ela caiu no chão, mas todos viram que era a mais curta.

Spillbergen abriu a mão apertada e todos viram que a última palha era comprida. O capitão-mor desmaiou.

Ficaram todos olhando fixamente para Vinck. Desamparado, ele os olhou, sem os ver. Meio que sacudiu os ombros, meio que sorriu, afastou as moscas, distraído. E caiu. Abriram espaço para ele, mantendo-se a distância como se fosse um leproso.

Blackthorne ajoelhou-se no lodo, ao lado de Spillbergen.

- Está morto? - perguntou Van Nekk, numa voz quase inaudível.

Vinck soltou uma gargalhada estrepitosa, que os acabrunhou a todos, e parou, tão violentamente quanto começara.

- Sou eu quem... quem está morto - disse. - Estou morto!

- Não tenha medo. Você é o ungido de Deus. Está nas mãos de Deus - disse Jan Roper, a voz confiante.

- Sim - disse Van Nekk. - Não tenha medo.

- É fácil agora, não é? - Os olhos de Vinck foram de rosto em rosto, mas nenhum conseguiu sustentar-lhes a fixidez. Somente Blackthorne não desviou o olhar.

- Traga água, Vinck - disse tranqüilamente. - Vá até o barril e traga água. Vá.

Vinck encarou-o. Depois pegou a cuia, encheu-a de água e deu-a a ele.

- Senhor Jesus Deus, piloto - murmurou -, o que vou fazer?

- Primeiro me ajude com Paulus, Vinck! Faça o que eu digo! Ele vai ficar bom?

Vinck pôs de lado a própria aflição, ajudado pela calma de Blackthorne. O pulso de Spillbergen estava fraco. Vinck ouviu-lhe o coração, separou as pálpebras e observou um momento.

- Não sei, piloto. Jesus, não consigo pensar adequadamente. O coração dele está bem, acho eu. Precisa de uma sangria, mas... mas não tenho como... eu... eu ... não posso me concentrar... Dê-me... - Parou, exausto, sentou-se contra a parede. Um tremor começou a torturá-lo.

O alçapão se abriu.

Omi erguia-se cáustico contra o céu, seu quimono avermelhado pelo sol morrendo.

Vinck tentou mover as pernas, mas não conseguiu. Havia encarado a morte muitas vezes na vida, mas nunca como desta vez, passivamente. Fora decretada pelas palhas. Por que eu? urrava o seu cérebro. Não sou pior do que os outros e sou melhor do que muitos. Amado Deus do paraíso, por que eu?

Haviam baixado uma escada. Omi fez sinal para que o escolhido subisse, e rápido.

- Isogi! Vamos!

Van.Nekk e Jan Roper rezavam em silêncio, de olhos fechados. Pieterzoon não conseguia olhar. Blackthorne olhava fixamente para Omi e seus homens.

- Isogi! - vociferou Omi novamente.

Mais uma vez Vinck tentou se levantar.

- Ajude-me, alguém. Ajudem-me a me levantar!

Pieterzoon, que estava mais perto, curvou-se e passou a mão sob o braço de Vinck, ajudando-o a se erguer. Então Blackthorne foi para o pé da escada, os dois pés plantados firmemente na lama.

- Kinjiru! - berrou, usando a palavra do navio. Um arquejo precipitou-se pela cela. A mão de Omi apertou o punho da espada e ele se aproximou da escada. Imediatamente Blackthorne a girou, desafiando Omi a pôr um pé ali. - Kinjiru! - disse de novo.

Omi parou.

- O que está acontecendo? - perguntou Spillbergen, assustado, assim como todos os demais.

- Disse-lhe que é proibido! Nenhum homem da minha tripulação vai caminhar para a morte sem uma luta.

- Mas... mas nós combinamos!

- Eu não.

- Você ficou louco!

- Está certo, piloto - sussurrou Vinck. - Eu... nós combinamos e era justo. É a vontade de Deus. Eu vou... é... - Encaminhou-se às apalpadelas para o pé da escada mas Blackthorne permaneceu implacavelmente no caminho, encarando Omi.

- Você não vai sem uma luta. Ninguém vai.

- Afaste-se da escada, piloto! Estou lhe ordenando! - Spillbergen ficou tremulamente no seu canto, tão longe da abertura quanto possível. Sua voz soou estridente:

- Piloto!

Mas Blackthorne não estava ouvindo.

- Preparem-se!

Omi recuou um passo e gritou ordens ríspidas a seus homens.

CAPÍTULO 4

Imediatamente um samurai, seguido de perto por dois outros, começou a descer os degraus, espadas desembainhadas. Blackthorne girou a escada e investiu contra o homem da dianteira, tentando estrangulá-lo e desviando-se do violento golpe de espada.

- Ajudem! Vamos! Pelas suas vidas!

Blackthorne mudou de posição para arrancar o homem dos degraus, enquanto o segundo homem se atirava para baixo. Vinck saiu de seu estado cataléptico e se lançou contra o samurai, frenético. Interceptou o golpe que teria cortado fora o pulso de Blackthorne, segurou o braço que empunhava a espada e esmagou o outro punho contra a virilha do homem. O samurai resfolegou o chutou com raiva. Vinck mal pareceu notar o golpe. Subiu os degraus e se atirou ao homem pela posse da espada, suas unhas partindo para arrancar-lhe os olhos. Os outros dois samurais estavam contidos pelo espaço limitado e por Blackthorne, mas um pontapé de um deles apanhou Vinck no rosto e ele cambaleou.

O samurai na escada desferiu um golpe contra Blackthorne, errou, então a tripulação inteira se arremessou contra a escada.

Croocq martelou o punho contra o peito do pé do samurai o sentiu um ossinho ceder. O homem tentou atirar a espada para fora do buraco - não queria armar o inimigo - e tombou pesadamente na lama. Vinck e Pieterzoon caíram em cima dele. O samurai invasor revidou ferozmente quando os outros acorreram para cima dele. Blackthorne agarrou a adaga do japonês e começou a subir a escada, Croocq, Jan Roper e Salamon atrás dele.

Ambos os samurais recuaram e permaneceram à entrada, com as espadas assassinas perversamente a postos. Blackthorne sabia que sua adaga era inútil contra as espadas. Ainda assim atacou, os outros dando-lhe cobertura de perto. No momento em que sua cabeça surgiu acima do solo, uma das espadas passou vibrando, errando por uma fração de polegada. Um pontapé violento de um samurai que permanecera invisível até então atirou-o de novo no subterrâneo.