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Não há mais nada que você possa fazer, pensou. É um títere. Seja paciente, Anjin-san, o seu turno termina ao meio-dia. Avaliou a altura do sol. Deve ser o começo do período de duas horas da Cobra. Depois da Cobra vem o Cavalo. No meio da hora do Cavalo é pleno meio-dia.

Sinos nos templos por todo o castelo e a cidade badalaram o início da Cobra e ele ficou contente com a própria exatidão. Notou uma pedrinha no chão do parapeito. Foi até ela, pegou-a e colocou-a cuidadosamente numa saliência de uma seteira ao sol, depois recostou-se, apoiou os pés confortavelmente, e pôs-se a contemplá-la.

Os cinzentos observavam cada movimento seu. O capitão franziu o cenho. Depois de algum tempo, disse: — Anjin-san, qual é o significado da pedra?

— Por favor?

— A pedra. Por que a pedra, Anjin-san? — Ah! Observo a pedra crescer.

— Oh, desculpe. Compreendo. Por favor, perdoe-me por tê-lo perturbado.

Blackthorne riu consigo mesmo e voltou a fixar o olhar na pedra. — Cresça, sua bastarda — disse. Mas por mais que imprecasse, ordenasse ou bajulasse, ela não crescia.

Você realmente espera ver uma rocha crescer? perguntou-se. Não, claro que não, mas isso passa o tempo e gera tranqüilidade. Você não pode ter wa suficiente. Neh?

Iiiiiih, de onde virá o próximo ataque? Não há defesa contra um assassino se o assassino estiver preparado para morrer. Há?

Rodrigues examinou a escorva de uns mosquetes que pegara no cavalete ao lado do canhão de popa. Achou que a pederneira estava usada, portanto perigosa. Sem uma palavra, jogou o mosquete em cima do atirador. O homem mal teve tempo de agarrá-lo antes que a coronha lhe atingisse o rosto.

— Nossa Senhora, senhor piloto — exclamou o homem —, não há necessidade...

— Ouça, seu bosta sem mãe, da próxima vez que eu encontrar alguma coisa errada num mosquete ou canhão durante o seu turno, você vai levar cinqüenta chicotadas e perder a paga de três meses. Contramestre!

— Sim, piloto? — Pesaro, o contramestre, aproximou mais o seu corpanzil arfante e fez uma carranca para o jovem atirador. — Pegue os dois turnos! Examine cada mosquete e canhão, tudo. Só Deus sabe quanto vamos precisar deles.

— Providenciarei, piloto. — O contramestre voltou-se para o atirador. — Vou mijar no seu grogue desta noite, Gomez, por todo o trabalho extra, e é melhor que você o lamba com um sorriso. Ponha-se ao trabalho!

Havia oito pequenos canhões a meia-nau no convés principal, quatro a bombordo, quatro a estibordo e um morteiro de proa. O suficiente para rechaçar quaisquer piratas sem canhões, mas não o suficiente para enfrentar um ataque. A pequena fragata tinha dois mastros e chamava-se Santa Luz.

Rodrigues esperou até que os tripulantes estivessem realizando suas tarefas, depois deu-lhes as costas e se debruçou na amurada. O castelo cintilava fracamente ao sol, a cor de estanho envelhecido, exceto pelo torreão com seus muros brancos e azuis e telhados dourados. Ele cuspiu na água e observou a saliva para ver se chegava aos pilares do ancoradouro, como esperava, ou se caía no mar. Caiu no mar. — Merda — murmurou para ninguém, desejando estar com a sua própria fragata, a Santa Maria, sob o seu comando bem naquele momento. Maldito azar que ela esteja em Macau bem quando precisamos dela.

— Qual é o problema, capitão-mor? — perguntara ele alguns dias antes em Nagasaki, quando fora arrancado da sua cama quente, na sua casa que tinha vista para a cidade e a enseada.

— Tenho que ir a Osaka imediatamente — dissera Ferreira, emplumado e arrogante como um galo de briga, mesmo àquela hora matinal. — Chegou uma mensagem urgente de Dell'Aqua. — Qual é o problema agora?

— Ele não disse, só que era vital para o futuro do Navio Negro.

— Nossa Senhora, qual é a brincadeira de mau gosto que estão tramando agora? O que é vital? Nosso navio está tão sólido quanto qualquer navio ao mar, o casco está limpo e o cordame perfeito. O comércio vai melhor do que jamais imaginamos e no prazo previsto, os macacos estão se comportando, o maldito Harima está confiante e... — Parou quando a idéia lhe explodiu na cabeça. — O Inglês! Ele zarpou?

— Não sei, mas se tiver zarpado...

Rodrigues olhara boquiaberto para a entrada da grande enseada, como que esperando ver o Erasmus já a bloqueá-los, ostentando a odiada bandeira da Inglaterra, esperando ali como um cão raivoso até o dia em que eles tivessem que se pôr ao largo, dirigindo-se para Macau e depois para casa. — Jesus, mãe de Deus e todos os santos, não deixem isso acontecer!

— Qual é o nosso meio mais rápido? Uma lorcha?

— A Santa Luz, capitão-mor. Podemos zarpar em menos de uma hora. Ouça, o Inglês não pode fazer nada sem homens. Não se esqueça...

— Minha Nossa Senhora, ouça você! Ele sabe falar a algaravia deles, eh? Por que não poderia usar macacos, eh? Há japonas piratas suficientes para lhe dar vinte vezes uma tripulação.

— Sim, mas não atiradores e marinheiros, como ele precisaria. Ele não teve tempo suficiente para treinar japonas. No ano que vem talvez, mas não contra nós.

— Por que, em nome da Virgem e dos santos, os padres lhe deram um dicionário eu nunca entenderei. Bastardos intrometidos! Deviam estar possuídos pelo Diabo! É quase como se o Inglês fosse protegido pelo Diabo!

— Digo-lhe que ele é apenas esperto!

— Há muitos que estão aqui há vinte anos e não sabem falar uma palavra da algaravia dos japonas, mas o Inglês sabe, eh? Digo-lhe que ele entregou a alma a Satã e em troca é protegido por magia negra. De que outro modo você explicaria? Há quantos anos você vem tentando falar a língua deles e você até vive com uma japonesa? Leche, ele poderia facilmente usar piratas japonas.

— Não, capitão-mor, ele tem que conseguir homens aqui, estamos à sua espera e o senhor já colocou todos os suspeitos a ferros.

— Com vinte mil cruzados em prata e uma promessa sobre o Navio Negro, ele pode contratar todos os homens de que necessita, inclusive os carcereiros e a maldita cela em torno deles. Cabrón! Talvez consiga até comprar você também.

— Cuidado com a língua!

— Você é o espanhol mais sem mãe e sem leite que existe, Rodrigues! A culpa é sua que ele esteja vivo, você é responsável. Deixou-o escapar duas vezes! — O capitão-mor postou-se diante dele enfurecido. — Deveria tê-lo matado quando ele esteve em seu poder.

— Talvez, mas isso é espuma na esteira da minha vida, já ficou para trás — dissera Rodrigues asperamente. — Fui até lá para matá-lo quando pude.

— Matou?

— Eu lhe disse vinte vezes. O senhor não tem ouvidos! Ou é a bosta espanhola de sempre nas suas orelhas, assim como na sua boca! — A mão dele se estendera para a pistola e o capitão mor sacara a espada, então a assustada garota japonesa se colocara entre eles. — Pro favoo, Rod-san, no raivas — no discusson, pro favoo! Criston, pro favoo!

A cólera ofuscante se extinguira e Ferreira dissera: — Digo-lhe diante de Deus que o Inglês foi gerado pelo Demônio! Quase o matei e você a mim, Rodrigues. Vejo claramente agora. Ele colocou um feitiço em todos nós, particularmente em você!

Agora ao sol de Osaka, Rodrigues estendeu a mão até o crucifixo que usava ao pescoço e rezou uma prece desesperada para ser protegido de todos os feiticeiros e para sua alma imortal ser conservada a salvo de Satã.

O capitão-mor não tem razão? Essa não é a única resposta? raciocinou ele de novo, cheio de pressentimentos. A vida do Inglês é encantada. Agora é íntimo do arquidiabo Toranaga, conseguiu o seu navio de volta, o dinheiro de volta e wakos, a despeito de tudo, e realmente fala como um deles e isso é impossível tão depressa, mesmo com o dicionário, mas ele conseguiu o dicionário e uma ajuda inestimável. Jesus Deus e Nossa Senhora, tirem o mau-olhado de cima de mim!