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Pegou a mão de Yodoko, respeitando-a. — Senhora? — O-chan? — sussurrou Yodoko, usando-lhe o apelido. — Sim, senhora?

— Ah, como você está bonita, tão bonita, você sempre o foi. — A mão se ergueu e acariciou o belo cabelo e Ochiba não se ofendeu com o toque, pelo contrário, apreciou-o como sempre, gostando imensamente dela. — Tão jovem e bela e perfumada. Como o táicum teve sorte.

— Sente dor, senhora? Posso trazer-lhe alguma coisa?

— Nada... nada. Só queria conversar. — Os velhos olhos estavam encovados mas não haviam perdido nada da sua astúcia. — Mande os outros embora.

Ochiba fez-lhes sinal que saíssem e, quando ficaram as duas sozinhas, disse: — Sim, senhora?

— Ouça, minha querida, faça o senhor general deixá-la ir. — Ele não pode, senhora, ou todos os outros reféns partirão e perderemos força. Todos os regentes concordam — disse Ochiba.

— Regentes! — disse Yodoko com uma ponta de desprezo. — Você concorda?

— Sim, senhora, e à noite passada a senhora disse que ela não devia ir.

— Agora você deve deixá-la ir ou outros a seguirão no seppuku e você e nosso filho serão maculados por causa do engano de Ishido.

— O senhor general é leal, senhora. Toranaga não, sinto muito.

— Você pode confiar no Senhor Toranaga, não nele. Ochiba meneou a cabeça. — Sinto muito, mas estou convencida de que Toranaga se empenha em tornar-se xógum e destruirá nosso filho.

— Está enganada. Ele disse isso mil vezes. Outros daimios estão tentando usá-lo pelas suas próprias ambições. Sempre fizeram isso. Toranaga era o favorito do táicum, Toranaga sempre respeitou o herdeiro. Toranaga é Minowara. Não se deixe influenciar por Ishido, ou pelos regentes. Eles têm seus próprios karmas, seus próprios segredos, O-chan. Por que não deixá-la partir? É tudo tão simples. Proíba-lhe o mar, então ela sempre pode ser atrasada em algum lugar dentro das nossas fronteiras. Ela ainda está na rede do seu general, e Kiri e todas as outras, neh? Estará rodeada de cinzentos. Pense como o táicum pensaria, ou como Toranaga. Você e nosso filho estão sendo levados... — As palavras se arrastaram e suas pálpebras começaram a palpitar. A velha senhora reuniu as forças remanescentes e continuou: — Mariko-san nunca poderia objetar a guardas. Sei que ela pretende fazer o que diz. Deixe-a ir.

— Claro que isso foi considerado, senhora — disse Ochiba, a voz gentil e paciente —, mas fora do castelo Toranaga tem grupos secretos de samurais, escondidos dentro e em torno de Osaka, não sabemos quantos, e tem aliados — não temos certeza de quem. Ela poderia escapar. Uma vez que se vá, todas as outras a seguiriam imediatamente e perderíamos uma grande segurança. A senhora concordou, Yodoko-chan, não se lembra? Sinto muito, mas eu lhe perguntei ontem à noite, não se lembra?

— Sim, lembro, criança — disse Yodoko, a mente devaneando. — Oh, como gostaria que o senhor táicum estivesse aqui de novo para orientá-la. — A respiração da velha estava se tornando forçada.

— Posso dar-lhe um pouco de chá, ou saquê? — Chá, sim, por favor, um pouco de chá.

Ela ajudou-a a beber. — Obrigada, criança. — A voz estava mais débil agora, o esforço da conversa apressando a agonia. — Ouça, criança, deve confiar em Toranaga. Case-se com ele, negocie com ele pela sucessão.

— Não, não — disse Ochiba, chocada.

— Yaemon poderia governar depois dele, e então o fruto do seu novo casamento depois do nosso filho. Os filhos do nosso filho jurarão honrosamente fidelidade eterna a essa nova linhagem Toranaga.

— Toranaga sempre odiou o táicum. Sabe disso, senhora. Toranaga é a fonte de todo o problema. Há anos, neh? Ele!

— E você? E o seu orgulho, criança? — Ele é o inimigo, nosso inimigo.

— Você tem dois inimigos, criança. Seu orgulho e a necessidade de ter um homem que se compare ao nosso marido. Por favor, seja paciente comigo, você é jovem, bela, fértil e merece um marido. Toranaga é digno de você, você dele. Toranaga é a única chance que Yaemon tem.

— Não, ele é o inimigo.

— Ele era o melhor amigo do nosso marido e seu mais leal vassalo. Sim... sem Toranaga... você não vê... foi a ajuda de Toranaga... não percebe? Você poderia manobrar ... manobrá-lo ...

— Sinto muito, mas eu o odeio, ele me enoja, Yodoko-san. — Muitas mulheres... O que eu estava dizendo? Ah, sim, muitas mulheres se casam com homens que as enojam. Graças a Buda eu nunca tive que sofrer isso... — A velha dama sorriu brevemente. Depois suspirou. Foi um longo e sério suspiro, prolongou-se muito tempo, e Ochiba pensou que o fim tivesse chegado. Mas os olhos se abriram um pouco e uma voz minúscula soou de novo. — Neh?

— Sim.

— Faça. Por favor? — Pensarei nisso.

Os velhos dedos tentaram apertar. — Imploro-lhe, prometa-me que se casará com Toranaga e eu irei para Buda sabendo que a linhagem do táicum viverá para sempre, como o nome dele... o nome dele viverá par...

As lágrimas correram livremente pela face de Ochiba enquanto ela acariciava a mão lânguida.

Pouco depois os olhos tremeram e a velha sussurrou: — Você deve deixar Akechi Mariko partir. Não... não a deixe tomar vingança contra nós pelo que o táicum fez... fez ao... ao pai dela...

Ochiba foi pega desprevenida. — O quê?

Não houve resposta. Alguns instantes depois Yodoko começou a murmurar. — ...Querido Yaemon, alô, meu querido filho, como... você é um menino tão belo, mas tem muitos inimigos, tão tolos, tão... você também não é apenas uma ilusão, não é...

Um espasmo torturava-a. Ochiba segurou-lhe a mão e acariciou-a. — Namu Amida Butsu — sussurrou em homenagem. Houve outro espasmo, então a velha dama disse claramente: — Perdoe-me, O-chan.

— Não há nada a perdoar, senhora.

— Há muito a perdoar... — A voz se tornou mais tênue, e a luz começou a se esvair do seu rosto. — Ouça... prom-prometa sobre... sobre Toranaga, Ochiba-sama... importante ... por favor... pode confiar nele... — Os velhos olhos suplicavam, desejavam.

Ochiba não queria obedecer, embora soubesse que devia. Sua mente estava perturbada pelo que fora dito sobre Akechì Mariko, e ainda ressoava com as palavras do táicum, repetidas dez mil vezes: — Pode confiar em Yodoko-sama, O-chan. Ela é a Sábia, nunca se esqueça disso. Ela tem razão a maior parte das vezes e você pode sempre confiar nela com a própria vida, a vida do meu filho e a minha...

Ochiba cedeu. — Eu prom... — Parou abruptamente.

A luz de Yodoko-sama bruxuleou uma última vez e extinguiu-se.

— Namu Amida Butsu. — Ochiba levou-lhe a mão aos lábios, curvou-se, estendeu a mão de novo sobre a coberta e fechou-lhe os olhos, pensando na morte do táicum, a única outra morte que presenciara tão de perto. Daquela vez a Senhora Yodoko fechara os olhos, como era privilégio de esposa, e fora naquela mesma sala, Toranaga esperando do lado de fora, assim como Ishido e Kiyama estavam agora, continuando a vigília que se iniciara na véspera.

— Mas por que mandar chamar Toranaga, senhor? — perguntara ela. — O senhor devia descansar.

— Descansarei quando estiver morto, O-chan — dissera o táicum. — Preciso determinar a sucessão. Finalmente. Enquanto tenho forças.

Então Toranaga chegara, forte, vital, transbordante de poder. Os quatro ficaram sozinhos: Ochiba, Yodoko, Toranaga e Nakamura, o táicum, senhor do Japão, em seu leito de morte, todos à espera das ordens que seriam obedecidas.

— Bem, Tora-san — dissera o táicum, recebendo-o com o apelido que Goroda dera a Toranaga fazia muito tempo, os olhos fundos perscrutando do minúsculo e mirrado rosto simiesco, cravado num corpo igualmente minúsculo, um corpo que tivera a força do aço até, poucos meses antes, quando a devastação começara. — Estou morrendo. Do nada para o nada, mas você estará vivo e meu filho, indefeso.