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Imediatamente os atacantes desfizeram as mochilas e prepararam as armas de ataque — facas curtas, em forma de foicinhas, com gume duplo, com uma corrente presa ao cabo, shurikens e facas de arremesso. A uma outra ordem, homens selecionados desembainharam os bastões curtos. Tratava-se de lanças e zarabatanas, extensíveis, que assumiam o comprimento total com uma velocidade surpreendente. Assim que completou seus preparativos, cada homem se ajoelhou, acomodou-se encarando a porta e, aparentemente sem esforço consciente, tornou-se totalmente imóvel. O último homem se aprontou. O líder soprou a vela.

Quando os sinos da cidade tocaram a metade da hora do Tigre — quatro da manhã, uma hora antes do amanhecer —, a segunda onda de ninjas se infiltrou. Vinte deles deslizaram silenciosamente de um grande aqueduto fora de uso que servira uma vez aos córregos do jardim. Todos esses homens usavam espadas. Como uma multidão de sombras, atropelaram-se tomando posição entre moitas e arbustos, puseram-se imóveis e quase invisíveis. Ao mesmo tempo outro grupo de vinte subiu do solo com cordas e arpéus para atacar a ameia que dava para o adro e o jardim.

Havia dois marrons ali, cuidadosamente vigiando os telhados vazios do outro lado da avenida. Quando um deles correu os olhos em torno e viu os arpéus atrás deles, começou a apontar como alarme. Seu companheiro abriu a boca para gritar um aviso quando o primeiro ninja atingiu a seteira e atirou um shuriken farpado rodopiando até o rosto e a boca desse samurai, estrangulando o grito de modo hediondo, e se lançou contra o outro samurai, sua mão estendida transformada em arma letal, o polegar e o indicador esticados, investindo contra a jugular. O impacto paralisou o samurai, outro golpe violento quebrou-lhe a nuca com um estalo seco, e o ninfa saltou sobre o primeiro samurai agonizante, que se agarrava às farpas profundamente cravadas na sua boca e no seu rosto, o veneno já atuando.

Com um último esforço supremo, o samurai moribundo sacou a espada curta e atacou. O golpe feriu fundo e o ninfa arquejou, mas isso não lhe deteve a investida: sua mão atingiu a garganta do marrom, quebrando a cabeça do homem para trás e deslocando-lhe a coluna vertebral. O samurai morreu em pé. O ninfa sangrava seriamente, mas não emitiu ruído algum e ainda segurou o marrom morto, baixando-o cuidadosamente até as lajes de pedra, e caindo de joelhos ao seu lado. Agora todos os ninfas haviam subido pelas cordas e se erguiam no parapeito. Desviaram-se do companheiro ferido até que o parapeito estivesse garantido. O homem ferido ainda estava de joelhos ao lado dos marrons mortos, apertando o flanco. O líder examinou o ferimento. O sangue escorria num fluxo constante. Ele balançou a cabeça e falou com os dedos; o homem assentiu e se arrastou penosamente para um canto, o sangue deixando um rastro largo. Acomodou-se confortavelmente, apoiado ao muro, e puxou um shuriken. Arranhou as costas de uma mão várias vezes com as farpas envenenadas, depois encontrou o estilete, pousou a ponta da arma na base do pescoço e, com as duas mãos, com toda a força, empurrou-a para cima.

O líder certificou-se de que o homem morrera, depois voltou para a porta fortificada que levava para o interior. Abriu-a com cautela. Nesse momento ouviram passos aproximando-se e imediatamente se fundiram à parede em posição de emboscada.

No corredor daquela ala, a oeste, Sumiyori aproximava-se com os marrons. Deixou dois junto da porta do parapeito e, sem parar, prosseguiu. Os dois reforços saíram para o parapeito quando Sumiyori dobrou a esquina adiante e desceu um lanço circular de escada. Embaixo havia outro posto de controle, onde os dois samurais cansados se curvaram e foram substituídos.

— Juntem-se aos outros e voltem aos seus aposentos. Serão despertados ao amanhecer — disse Sumiyori.

— Sim, capitão.

Os dois samurais subiram as escadas de novo, contentes por não estarem mais em serviço. Sumiyori continuou, descendo para o outro corredor e substituindo sentinelas. Finalmente parou junto a uma porta e bateu, os últimos dois guardas consigo.

— Yabu-san?

— Sim? — A voz estava sonolenta. — Desculpe, é a mudança da guarda. — Ah, obrigado. Por favor, entre.

Sumiyori abriu a porta mas cautelosamente permaneceu à soleira. Yabu estava com o cabelo desgrenhado, apoiado sobre um cotovelo às cobertas, a outra mão na espada. Quando teve certeza de que era mesmo Sumiyori, descontraiu-se e bocejou. — Alguma novidade, capitão?

Sumiyori também se descontraiu e meneou a cabeça, entrou e fechou a porta. O quarto era grande, arrumado, e havia outra cama de futons convidativamente desdobrados. Janelas, que eram fendas, davam para a avenida e a cidade, um declive abrupto trinta pés abaixo. — Está tudo tranqüilo. Ela está dormindo agora... pelo menos a criada, Chimmoko, disse que estava. — Dirigiu-se para a escrivaninha baixa onde uma lâmpada a óleo bruxuleava e se serviu de chá frio. Ao lado do bule estava o passe deles, formalmente selado, que Yabu trouxera do escritório de Ishido.

Yabu bocejou de novo e se espreguiçou voluptuosamente. — O Anjin-san?

— Estava acordado na última vez que verifiquei. Foi à meia-noite. Pediu-me que não verificasse de novo até pouco antes do amanhecer — alguma coisa sobre os seus hábitos. Não compreendi claramente tudo o que ele disse, mas não há perigo, há uma segurança muito cerrada por toda parte, neh? Kiritsubo-san e as outras senhoras estão silenciosas, embora ela, Kiritsubo, tenha estado acordada a maior parte da noite.

Yabu levantou-se da cama. Estava usando apenas uma tanga. — Fazendo o quê?

— Simplesmente sentada à janela, olhando para fora. Não havia nada para ver. Sugeri que seria melhor que ela dormisse um pouco. Agradeceu-me polidamente, concordou e continuou onde estava. Mulheres, neh?

Yabu flexionou os ombros e cotovelos e coçou-se vigorosamente para fazer o sangue circular. Começou a se vestir. — Ela devia descansar. Tem um longo caminho a fazer hoje.

Sumiyori pousou a xícara. — Acho que é um truque.

— O quê?

— Não acho que Ishido fale a sério.

— Temos autorizações assinadas. Aqui estão. Todos os homens estão relacionados. Você verificou os nomes. Como ele pode voltar atrás num compromisso público conosco ou com a Senhora Toda? Impossível, neh?

— Não sei. Perdão, Yabu-san, ainda acho que é um truque.

— Que tipo de truque?

Yabu amarrou o sash lentamente. — Seremos emboscados.

— Fora do castelo? Sumiyori assentiu. — Sim, é nisso que estou pensando.

— Ele não ousaria.

— Ousará. Vai nos emboscar ou nos atrasar. Não consigo vê-lo deixando que ela se vá, ou a Senhora Sazuko ou o bebê. Mesmo a velha Senhora Etsu e os outros.

— Não, você está enganado.

Sumiyori meneou a cabeça tristemente. — Acho que teria sido melhor se ela se tivesse cravado a faca e o senhor a tivesse degolado. Deste modo nada está resolvido.

Yabu pegou as espadas e enfiou-as no cinto. Sim, estava ele pensando, concordo com você. Nada está resolvido e ela falhou no seu dever. Você sabe disso, eu sei, e Ishido também. Vergonhoso! Se ela tivesse morrido, teríamos todos vivido para sempre. Assim como é agora... ela voltou da beira da morte, desonrou a nós e a si mesma. Shikata ga nai, neh? Mulher estúpida!

Mas em voz alta disse: — Acho que você está enganado. Ela venceu Ishido. A Senhora Toda venceu. Ishido não se atreverá a nos emboscar. Vá dormir, eu o acordarei ao amanhecer.

Novamente Sumiyori meneou a cabeça. — Não, obrigado, Yabu-san, acho que vou fazer a ronda de novo. — Aproximou-se de uma janela e perscrutou o exterior. — Alguma coisa não está certa.

— Está tudo excelente. Tome um pouco... espere um instante! O que foi isso? Você ouviu alguma coisa?

Yabu aproximou-se de Sumiyori e fingiu procurar na escuridão, ouvindo atentamente, e então, sem qualquer sinal de advertência, sacou a espada curta e com o mesmo movimento espontâneo e fulminante cravou a lâmina nas costas de Sumiyori, tapando a boca do homem com a outra mão para impedi-lo de gritar. O capitão morreu instantaneamente. Yabu segurou-o cuidadosamente com o braço esticado, e com uma força imensa, de modo a não se manchar de sangue, carregou o corpo até os futons, arranjando-o numa posição adormecida. Depois puxou a espada e começou a limpá-la, furioso de que a intuição de Sumiyori tivesse forçado a morte não planejada. Ainda assim, pensou Yabu, não posso tê-lo rondando por aí agora.