Выбрать главу

— É tão maravilhoso se estar em paz, neh?

— Sim — disse ele. Desde que ela acordara e se descobrira viva e não morta, seu espírito se unira ao dele. Durante a primeira hora tinham estado sozinhos, ela nos braços dele.

— Estou muito contente que você esteja viva, Mariko — dissera ele em latim. — Vi-a morta.

— Pensei que estivesse. Ainda não consigo acreditar que Ishido capitulou. Nunca, em vinte vidas... Oh, como amo os seus braços ao meu redor, e a sua força.

— Eu estava pensando que esta tarde, a partir do primeiro momento do desafio de Yoshinaka, não vi nada além da morte — a sua, a minha, a de todos. Compreendi o seu plano, elaborado há muito tempo, neh?

— Sim. Desde o dia do terremoto, Anjin-san. Por favor, perdoe-me, mas não quis... não quis assustá-lo. Fiquei com medo que você não compreendesse. Sim, daquele dia em diante eu soube que era o meu karma tirar os reféns de Osaka. Apenas eu podia fazer isso para o Senhor Toranaga. E agora está feito. Mas a que preço, neh? Nossa Senhora me perdoe.

Então Kiri chegara e eles tiveram que se sentar separados, mas isso não fez diferença. Um sorriso, um olhar, uma palavra lhes bastava.

Kiri aproximou-se das janelas. No mar havia salpicos de luz dos barcos de pesca perto da costa. — Vai amanhecer logo — disse ela.

— Sim — disse Mariko. — Vou me levantar agora.

— Daqui a pouco. Agora não, Mariko-sama — disse-lhe Kiri. — Por favor, descanse. Precisa recuperar forças.

— Gostaria que o Senhor Toranaga estivesse aqui.

— Sim.

— A senhora preparou outra mensagem sobre... sobre a nossa partida?

— Sim, Mariko-sama, outro pombo partirá ao amanhecer. O Senhor Toranaga será informado da sua vitória hoje — disse Kiri. — Ficará muito orgulhoso da senhora.

— Estou muito contente que ele tenha tido razão.

— Sim — disse Kiri. — Por favor, perdoe-me por duvidar da senhora e dele.

— No íntimo também duvidei dele. Sinto muito.

Kiri voltou-se para a janela e olhou a cidade. Toranaga está errado, queria ela gritar. Nunca sairemos de Osaka, por mais que finjamos. É nosso karrna ficar — karma dele perder.

Na ala oeste, Yabu parou na sala de guarda. As sentinelas de substituição estavam prontas. — Vou fazer uma inspeção rápida.

— Sim, senhor.

— O resto de vocês espere por mim aqui. Você, venha comigo.

Desceu a escada principal seguido de um único guarda. Ao pé da escada, no vestíbulo principal, encontravam-se outros guardas, e, fora, o adro e o jardim. Uma olhada superficial mostrou que estava tudo em ordem. Então ele voltou para dentro da fortaleza e, após um momento, mudou de direção. Para surpresa do seu guarda, desceu a escada que levava aos aposentos dos criados. Os criados arrancaram-se do sono, colocando às pressas a cabeça sobre as lajes. Yabu mal os notou. Continuou descendo para as entranhas da fortaleza, ao longo de pouco usados corredores em arco, as paredes de pedra úmidas e mangradas, embora estivesse tudo bem iluminado. Não havia guardas ali nos porões, pois não havia nada a proteger. Logo começaram a subir de novo, aproximando-se dos muros externos.

Yabu parou repentinamente. — O que foi isso?

O samurai marrom parou, ouviu, e morreu. Yabu limpou a espada e puxou o corpo caído para um canto escuro, depois correu para uma pequena porta de ferro, pesadamente trancada com barras, quase despercebida, cravada numa das paredes de que o intermediário de Ishido lhe falara. Precisou usar de força para levantar as barras enferrujadas. A última soltou-se retinindo. A porta girou sobre os gonzos. Uma corrente de ar frio veio de fora, depois uma lança tocou-lhe a garganta e parou bem a tempo. Yabu não se moveu, quase paralisado. Ninjas o fitavam da escuridão total além da porta, armas assestadas.

Yabu ergueu uma mão trêmula e fez um sinal, conforme lhe disseram que fizesse. -— Sou Kasigi Yabu — disse.

O líder quase invisível, encapuzado e vestido de preto, assentiu, mas manteve a lança pronta para o golpe. Fez sinal a Yabu. Obedientemente o dainnio recuou um passo. Então, muito cautelosamente o líder caminhou para o meio do corredor. Era alto e forte, com grandes olhos chatos por trás da máscara. Viu o marrom morto e com um estalido do pulso atirou a lança reluzindo no cadáver, depois puxou-a com a leve corrente presa à extremidade da arma. Silenciosamente enrolou de novo a corrente, esperando, ouvidos atentos a qualquer perigo.

Finalmente satisfeito, fez um sinal à escuridão. Instantaneamente vinte homens surgiram e arremeteram para o lanço de escada, o caminho, de há muito esquecido, para os andares acima. Esses homens carregavam instrumentos de assalto. Estavam armados com facas presas a correntes, espadas e shurikens. E no centro dos seus capuzes negros havia uma pinta vermelha.

O líder não os observou a subir, mas manteve os olhos em Yabu e começou a contar com os dedos da mão esquerda. Um... dois... três... Yabu sentia muitos homens a vigiá-lo da passagem além da porta. Não conseguia ver ninguém.

Os atacantes com a pinta vermelha subiram a escada dois a dois, e no alto daquele lanço pararam. Uma porta barrava-lhes o caminho. Esperaram um momento, depois, cautelosamente, tentaram abri-Ia. Estava trancada. Um homem com um instrumento de assalto, uma curta barra de aço, curva a uma extremidade e cinzelada à outra, avançou e arrombou-a. Do outro lado da porta havia outra passagem e eles a tomaram em silêncio. Na esquina seguinte, pararam. O primeiro homem perscrutou ao seu redor atentamente, depois chamou os demais com um gesto para outro corredor. Na extremidade oposta, uma réstia de luz brilhava através de um visor no pesado painelamento de madeira que cobria a porta secreta. O homem encostou um olho ao visor. Viu a extensão da sala de audiência, dois marrons e dois cinzentos enfadonhamente de sentinela, guardando a porta do conjunto de aposentos. Olhou em torno, fez um sinal de cabeça aos outros. Um dos homens ainda estava contando com os dedos, sincronizado com a contagem do líder, dois andares abaixo. Os olhos de todos acompanharam a contagem.

Embaixo, no porão, os dedos do líder continuavam no tempo, assinalando os momentos, os olhos sempre cravados em Yabu. Yabu observava e esperava, o odor do seu próprio suor de medo pegando-lhe nas narinas. Os dedos pararam e o punho do líder se fechou pontualmente. Apontou para o corredor. Yabu assentiu, voltou-se e refez o caminho por onde viera, caminhando lentamente. Atrás dele a contagem inexorável começou de novo. Um... dois... três...

Yabu sabia do risco terrível que estava correndo, mas não tivera alternativa e amaldiçoou Mariko mais uma vez por forçá-lo a tomar o lado de Ishido. Parte do trato era que ele teria que abrir aquela porta secreta.

— O que há atrás da porta? — perguntara, desconfiado. -— Amigos. O sinal é este e a senha é dizer o seu nome. — Aí eles me matam, neh?

— Não. O senhor é valioso demais, Yabu-san. O senhor tem que providenciar para que haja proteção para a infiltração deles...

Ele concordara, mas nunca negociara com ninjas, os odiados e temidos mercenários semi-lendários, que prestavam fidelidade apenas às suas unidades familiares intimamente unidas e secretas, que transmitiam seus segredos apenas para parentes de sangue — como nadar vastas distâncias sob a água e escalar paredes quase lisas, como se tornar invisível e permanecer um dia e uma noite sem se mover, e como matar com as mãos, os pés ou quaisquer armas, incluindo veneno, fogo e explosivos. Para um ninja, a morte violenta por pagamento era a única finalidade da vida.

Yabu tentou manter o passo comedido à medida que se afastava do líder ninja pelo corredor, o peito ainda doendo do choque de que a força de ataque fosse ninja e não ronin. Ishido deve estar louco, disse a si mesmo, todos os sentidos vacilando, esperando uma lança, uma seta ou um garrote a qualquer momento. Agora se encontrava quase na esquina. Dobrou-a, a salvo mais uma vez, deu às pernas e subiu as escadas aos saltos, três degraus de cada vez. Ao topo, disparou pelo corredor em arcos, depois dobrou a esquina que levava aos aposentos dos criados.