Os dedos do líder ainda assinalavam os momentos, depois a contagem parou. Ele fez um sinal mais urgente à escuridão e disparou atrás de Yabu. Vinte ninjas o seguiram saindo da escuridão, e outros quinze tomaram posições de defesa às duas extremidades do corredor, para guardar aquela via de fuga que levava por entre um labirinto de porões esquecidos e passagens que uniam o castelo a um dos esconderijos secretos de Ishido sob o fosso, e dali para a cidade.
Yabu corria velozmente agora, tropeçou no corredor, mal e mal conseguiu manter o equilíbrio, e irrompeu pelos aposentos dos criados, esparramando panelas, frigideiras, cabaças e pipas.
— Ninjaaaaas! — gritou, o que não fazia parte do acordo, mas que era o seu ardil para se proteger, caso fosse traído. Histericamente os homens e mulheres se dispersaram, uniram-se ao grito e tentaram sumir sob bancos e mesas enquanto ele continuava correndo, rumando para o outro lado, subindo outros degraus até um dos corredores principais para encontrar os primeiros — dos guardas marrons, que já haviam sacado as espadas.
— Toquem o alarma! — gritou Yabu. — Ninjas... há ninjas entre os criados!
Um samurai disparou para a escada principal, o segundo arremeteu bravamente para se postar sozinho no topo da escada em caracol que levava para baixo, a espada em riste. Vendo-o, os criados pararam, depois, gemendo de terror, amontoaram-se cegamente nas pedras, os braços sobre a cabeça. Yabu correu para a porta principal e atravessou-a, atingindo a escada. — Toquem o alarma! Estamos sendo atacados! — gritou conforme combinara fazer, para provocar a manobra diversionista do lado de fora, que cobriria o ataque principal através da porta secreta da câmara de audiência, para raptar Mariko e levá-la embora às pressas, antes que qualquer pessoa percebesse.
Os samurais junto aos portões e no adro giraram sobre os calcanhares, não sabendo onde proteger, e nesse momento os atacantes no jardim enxamearam para fora do esconderijo e sub jugaram os marrons. Yabu recuou para o vestíbulo, enquanto outros marrons desciam rapidamente da sala da guarda, a fim de apoiar os homens lá fora.
Um capitão correu na sua direção. — O que está acontecendo?
— Ninjas, lá fora e entre os criados. Onde está Sumiyori? — Não sei... no quarto dele.
Yabu saltou para a escada quando outros homens se precipitaram para baixo. Nesse momento o primeiro ninja vindo dos porões investiu por entre os criados para o ataque. Shurikens farpados eliminaram o defensor solitário, lanças mataram os criados. Num instante essa força de invasores se viu no corredor, gritando e berrando violentamente para criar confusão, os marrons, fora de si e movendo-se em círculos, sem saber de onde rebentaria o ataque seguinte.
No último andar, os ninjas à espera haviam escancarado suas portas ao primeiro alarma e caído em cima dos últimos marrons, que desciam às pressas, matando-os. Com dardos envenenados e shurikens, os ninjas repeliram-lhes o assalto furioso. Os marrons foram rapidamente dominados, e os atacantes pularam por sobre os cadáveres para atingir o corredor principal no andar de baixo. Uma furiosa investida de reforços marrons foi rechaçada pelos ninfas, que giravam as pesadas correntes e lançavam-nas contra os samurais, estrangulando-os ou embaraçando-lhes as espadas, para tornar mais fácil atingi-los com as facas de fio duplo. Shurikens cortavam o ar e os marrons foram logo dizimados. Alguns ninjas foram atingidos, mas rastejavam como animais hidrófobos e paravam de atacar somente quando a morte os tomava completamente.
No jardim a primeira arremetida dos reforços defensores foi enfrentada com facilidade enquanto marrons se precipitavam pela porta principal. Mas outra onda de marrons corajosamente organizou uma segunda investida e empurrou os invasores para trás com a sua absoluta superioridade numérica. A uma ordem dada aos gritos, os assaltantes recuaram, suas roupas negras fazendo deles alvos difíceis. Exultantes os marrons correram no seu encalço, para uma emboscada, e foram aniquilados.
Os atacantes com a pinta vermelha ainda se encontravam à espera do lado de fora da sala de audiência, seu líder com o olho colado ao visor. Via os preocupados marrons e cinzentos de Blackthorne, que guardavam a porta fortificada do corredor, ouvindo com ansiedade o holocausto que se elevava lá debaixo. A porta se abriu e outros guardas, marrons e cinzentos, se aglomeraram na abertura e então, incapazes de agüentar a espera, oficiais de ambos os grupos ordenaram a todos os homens que saíssem da sala de audiência para tomar posições defensivas à extremidade do corredor. Agora o caminho estava limpo, a porta do corredor interno aberta, apenas o capitão dos cinzentos ao lado dela, e também ele estava se afastando. O líder da pinta vermelha viu uma mulher surgir apressada à soleira, o bárbaro alto com ela, e reconheceu sua presa, outras mulheres reunindo-se atrás dos dois.
Impaciente por completar a missão e assim aliviar a pressão sobre os seus parentes embaixo, e açoitado pela ânsia de matar, o líder vermelho deu o sinal e irrompeu pela porta um instante cedo demais.
Blackthorne viu-o vindo e automaticamente sacou a pistola de sob o quimono e disparou. A cabeça do homem desapareceu, momentaneamente detendo o ataque. Simultaneamente, o capitão dos cinzentos se precipitou de volta e atacou com ferocidade, descuidado da própria segurança. Abateu um ninja, então o bando todo caiu em cima dele e o massacrou, mas esses poucos segundos deram tempo suficiente a Blackthorne para puxar Mariko para a segurança e bater a porta. Desesperado, agarrou a barra de ferro e colocou-a no lugar bem no momento em que os ninfas se lançavam contra ela enquanto outros se desdobravam para guardar a porta principal.
— Jesus Cristo! O que está...
— Ninjaaaaas! — gritou Mariko enquanto Kiri, a Senhora Sazuko, a Senhora Etsu, Chimmoko, Achiko e as outras criadas surgiam histericamente dos outros quartos, golpes martelando a porta.
— Depressa, por aqui! — berrou Kiri por sobre o tumulto, e disparou para o interior.
As mulheres a seguiram, aflitas, duas delas ajudando a velha Senhora Etsu. Blackthorne viu a porta balançar sob os golpes furiosos das alavancas de assalto. A madeira estava lascando. Blackthorne voltou correndo ao seu quarto, para pegar o chifre de pólvora e as espadas.
Na sala de audiência, os ninjas já haviam eliminado os seis marrons e cinzentos junto à porta externa principal, e haviam sobrepujado os demais no corredor abaixo. Mas haviam perdido dois homens, dois se feriram antes que a luta estivesse terminada, as portas externas fechadas e barradas e todo o setor garantido. — Depressa — rosnou o novo líder da pinta vermelha. Os homens com as alavancas não precisavam ser instados para tentar demolir a porta. Por um momento o líder parou junto ao cadáver do irmão, depois deu-lhe um pontapé furioso, sabendo que a impaciência do irmão destruíra o seu ataque de surpresa. Juntou-se aos seus homens, que rodeavam a porta.
No corredor Blackthorne recarregou a arma rapidamente, a porta rangendo sob as batidas. Primeiro a pólvora, socá-la cuidadosamente... um dos painéis da porta estalou... depois o tampão para apertar a carga, depois a bala e outro tampão... uma das dobradiças da porta cedeu e a extremidade da alavanca atravessou... depois, soprar cuidadosamente o pó da pederneira.
— Anjin-san! — gritou Mariko de algum lugar nos quartos. — Depressa!
Mas Blackthorne não prestou atenção. Encaminhou-se para a porta, pôs o bocal numa fenda lascada e puxou o gatilho. Do outro lado da porta houve um berro e o assalto à porta cessou. Ele recuou e começou a recarregar. Primeiro pólvora, socá-la cuidadosamente... novamente a porta toda estremeceu quando homens se lançaram contra ela com ombros, punhos e pés enfurecidos, e armas... depois o papel para apertar, a bala e outro papel... a porta urrou, estremeceu e um dos ferrolhos pulou fora e caiu no chão...