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Kiri seguia às pressas por uma passagem interna, resfolegando, as outras meio que arrastando a Senhora Etsu consigo, Sazuko chorando: — Para que isso, não há para onde ir... —, mas Kiri corria, enveredou, trôpega, por outro quarto, atravessou-o e puxou para o lado uma parte da parede shoji. Havia uma porta de ferro fortificada escondida na parede de pedra atrás da shoji. Ela a abriu. Os gonzos estavam bem oleados.

-— Isto... isto é o refúgio sec-secreto do meu amo — ofegou ela, e começou a entrar, mas parou. — Onde está Mariko? Chimmoko voltou-se e saiu correndo.

No primeiro corredor, Blackthorne soprou cuidadosamente o pó da pederneira e avançou de novo. A porta estava prestes a desabar, mas ainda oferecia cobertura. Novamente ele puxou o gatilho. Novamente um berro e um momento de trégua, depois os golpes recomeçaram, outro ferrolho caiu e a porta inteira oscilou. Ele começou a recarregar.

— Anjin-san! — Mariko estava ali na outra extremidade do assento, acenando-lhe freneticamente, então ele agarrou as armas e correu na sua direção. Ela se voltou e disparou, guiando-o. A porta despedaçou-se e os ninjas se lançaram atrás deles.

Mariko corria velozmente. Blackthorne nos seus calcanhares. Ela atravessou um aposento, tropeçou nas saias e caiu. Ele a agarrou e, juntos, arremeteram por outra sala. Chimmoko correu ao seu encontro. — Depressa! — grinchou ela, esperando que passassem. Seguiu-os um momento, depois, despercebida, voltou e parou na passagem, a faca na mão.

Ninjas invadiram a sala com ímpeto. Chimmoko se atirou, a faca estendida, contra o primeiro homem. Ele aparou o golpe e atirou-a para o lado como um brinquedo, arremetendo atrás de Blackthorne e Mariko. O último homem quebrou o pescoço de Chimmoko com o pé e continuou correndo.

Mariko corria velozmente, mas não o suficiente, suas saias atrapalhando-a, Blackthorne tentando ajudá-la. Cruzaram uma sala, depois à direita, passando por outra, e ele viu a porta, Kiri e Sazuko esperando aterrorizadas, Achiko e as criadas amparando a velha senhora na sala atrás delas. Ele empurrou Mariko para a segurança. Depois deu-lhe as costas, a pistola descarregada a uma mão, a espada à outra, esperando Chimmoko. Como ela não aparecesse imediatamente, ele começou a voltar, mas ouviu a carga de ninjas se aproximando. Parou e entrou na sala com um pulo assim que o primeiro ninja apareceu. Bateu a porta, e lanças e shurikens retiniram contra os ferrolhos antes que os atacantes se lançassem contra a porta.

Entorpecido, agradeceu a Deus pela sua escapada e depois, quando viu a força da porta e percebeu que as alavancas não poderiam quebrá-la com facilidade e que por enquanto se encontravam seguros, agradeceu a Deus novamente. Tentando recuperar o fôlego, olhou em torno. Mariko estava de joelhos, arquejando. Havia seis criadas, Achiko, Kiri e Sazuko, e a velha senhora, deitada, o rosto cinza, quase inconsciente. A sala era pequena, com paredes de pedra, e havia outra porta lateral que levava a, uma pequena varanda no parapeito. Ele tateou até uma janela e olhou para fora. Aquele canto da cornija projetava-se sobre a avenida e o adro, e ele podia ouvir sons da batalha trazidos pelo vento, lá debaixo, berros e guinchos e alguns gritos de batalha histéricos. Diversos cinzentos e samurais disponíveis já estavam começando a se reunir na avenida e nas ameias opostas. Os portões embaixo estavam fechados contra eles e defendidos por ninjas.

— Que diabo está acontecendo? — disse Blackthorne, o peito doendo.

Ninguém lhe respondeu. Ele voltou, ajoelhou-se ao lado de Mariko e sacudiu-a suavemente. — O que está acontecendo? — Mas ela ainda não podia responder.

Yabu corria por um amplo corredor na ala oeste, em direção aos seus aposentos. Dobrou uma esquina e parou, derrapando. À frente um grande número de samurais estavam sendo repelidos por um feroz contra-ataque de invasores, que se haviam precipitado do último andar.

— O que está acontecendo? — gritou Yabu por sobre o tumulto, pois não estavam previstos ninjas ali, só embaixo.

— Estão por toda parte — arquejou um samurai. — Estes vieram de cima...

Yabu soltou uma imprecação, percebendo que fora logrado e que não fora posto a par do plano de ataque integral. — Onde está Sumiyori?

— Deve estar morto. Eles dominaram este setor, senhor. O senhor teve sorte de escapar. Eles devem ter atacado pouco depois de o senhor ter saído. Para que os ninjas estão atacando?

Uma enxurrada de gritos distraiu-os. Na extremidade oposta, marrons desferiam outro contra-ataque a um canto, cobrindo samurais que lutavam com lanças. Os lanceiros rechaçaram os ninjas, e os marrons se atiraram em perseguição. Mas uma nuvem de shurikens envolveu essa onda de assalto e logo estavam todos berrando e morrendo, bloqueando a passagem, o veneno provocando-lhes convulsões. Momentaneamente o restante dos marrons recuou, para se reagrupar.

Yabu, fora de perigo, gritou: — Tragam arqueiros! — Homens saíram correndo para lhe obedecer.

— Para que é o ataque? Por que eles são tantos? — perguntou de novo o samurai, o sangue de um ferimento na face escorrendo-lhe pelo rosto. Normalmente os detestados ninjas atacavam isoladamente ou em pequenos grupos, para desaparecerem tão rapidamente quanto apareciam assim que a missão estivesse cumprida.

— Não sei — disse Yabu, todo aquele setor do castelo em rebuliço agora, os marrons ainda descoordenados, ainda desnorteados com a velocidade aterrorizadora do ataque.

— Se... se Toranaga-sama estivesse aqui, eu poderia compreender que Ishido tivesse ordenado um ataque repentino, mas... mas por que agora? — disse o samurai. — Não há ninguém nem nada... — Parou, entendendo de súbito. — A Senhora Toda! Yabu tentou dominá-lo, mas o homem gritou: — Estão atrás dela, Yabu-san! Têm que estar atrás da Senhora Toda! — Comandou uma investida para a ala leste. Yabu hesitou, depois o seguiu.

Para atingir a ala leste, tinham que cruzar o andar central, que os ninjas agora defendiam maciçamente. Havia samurais mortos por toda parte. Estimulados pelo conhecimento de que sua reverenciada líder estava em perigo, a primeira carga impetuosa rompeu o cordão. Mas esses homens foram abatidos rapidamente. Agora mais dos seus companheiros haviam se unido aos gritos de advertência e a notícia se espalhou rapidamente e os marrons redobraram esforços. Yabu acorreu para dirigir a luta, permanecendo em segurança o mais que ousava. Um ninja abriu a sua mochila, acendeu uma cabaça explosiva num archote de parede e atirou-a sobre os marrons. Despedaçou-se contra a parede e explodiu, espalhando fogo e fumaça, e imediatamente esse ninja comandou um contra-ataque que pôs os marrons numa confusão fumegante. Sob a coberta de fumaça, reforços ninjas surgiram do andar inferior.

— Recuem e reagrupem-se! — gritou Yabu num dos corredores que davam início ao patamar principal, querendo protelar o mais que ousasse, presumindo que Mariko já tivesse sido capturada e estivesse sendo carregada para o porão, esperando a qualquer momento o toque de clarim que indicaria o sucesso e ordenaria a todos os ninjas que cessassem o ataque e se retirassem. Então uma força de marrons vinda de cima se arremessou num assalto suicida a uma escada e rompeu o cordão. Morreram, mas outros também desobedeceram a Yabu e investiram. Mais bombas foram atiradas, ateando fogo aos reposteiros das paredes. As chamas começaram a lamber as paredes, fagulhas inflamaram os tatamis. Um súbito jato de fogo encurralou um ninja, transformando-o numa tocha humana uivante. Então o quimono de um samurai também pegou fogo e ele se atirou sobre outro ninja, para arderem juntos. Um samurai em chamas estava usando a espada como um machado de batalha para abrir caminho por entre os atacantes. Dez samurais o seguiram e, embora dois morressem e três caíssem mortalmente feridos, os demais desobstruíram a passagem e dispararam para a ala leste. Logo mais dez os seguiram. Yabu comandou o ataque seguinte em segurança, enquanto os ninjas remanescentes faziam uma retirada ordeira para o térreo e a sua rota de fuga embaixo. A batalha pela posse do beco sem saída na ala leste começou.