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Dentro do pequeno aposento, eles olhavam fixamente para a porta. Podiam ouvir os atacantes raspando os gonzos e o chão. Então houve um súbido martelar e uma voz áspera e abafada lá fora.

Duas criadas começaram a soluçar.

— O que ele disse? -— perguntou Blackthorne.

Mariko passou a língua pelos lábios secos. — Disse... disse que abríssemos a porta e nos rendêssemos ou ele... ele explodiria a porta.

— Eles podem fazer isso, Mariko-san?

— Não sei. Eles... eles podem usar pólvora, naturalmente, e... — A mão de Mariko foi para o sash e voltou vazia. — Onde está a minha faca?

Todas as mulheres procuraram suas adagas. Kiri não tinha a sua, nem Sazuko. Tampouco Achiko ou a Senhora Etsu. Blackthorne havia armado a pistola e tinha a espada longa. A curta caíra na corrida desesperada para a segurança.

A voz abafada tornou-se mais encolerizada e mais insistente, e todos os olhos no aposento se fixaram em Blackthorne. Mas Mariko sabia que fora traída e que seu momento chegara.

— Ele disse que, se abrirmos a porta e nos rendermos, todos estarão livres menos o senhor. — Mariko tirou uma mecha de cabelo da frente dos olhos. — Disse que o querem como refém, Anjin-san. Isso é tudo o que querem...

Blackthorne avançou para abrir a porta, mas Mariko lançou-se pateticamente em seu caminho.

— Não, Anjin-san, é um truque! — disse. — Sinto muito, eu não acredito neles... Não acredite neles, eles não querem o senhor, querem a mim!

Ele sorriu para ela, tocou-a rapidamente e estendeu a mão para um ferrolho.

— Não é o senhor, sou eu... é um truque! Juro! Não acredite neles, por favor — disse ela, e agarrou-lhe a espada. Estava fora da bainha pela metade quando ele percebeu o que ela estava fazendo e segurou-lhe a mão.

— Não! — ordenou. — Pare!

— Não me entregue às mãos deles! Não tenho faca! Por favor, Anjin-san! — Tentou se libertar do aperto dele, mas ele a levantou, tirou-a do caminho e colocou a mão sobre o ferrolho superior. — Dozo — disse às outras, enquanto Mariko desesperadamente tentava detê-lo. Achiko avançou, suplicando a ela, e Mariko tentou empurrá-la e gritou: — Por favor, Anjin-san, é um truque... pelo amor de Deus!

A mão dele fez saltar o primeiro ferrolho, abrindo-o.

— Eles me querem viva — gritou Mariko desvairadamente. — Não entende? Querem me capturar, não compreende? Querem-me viva e então será tudo por nada, amanhã Toranaga tem que cruzar a fronteira, rogo-lhe, é um truque, diante de Deus... Achiko tinha os braços em torno de Mariko, suplicando, puxando-a, e fazia sinal a ele que abrisse a porta. — Isogi, isogi, Anjin-san...

Blackthorne abriu o ferrolho central.

— Pelo amor de Deus, não torne inútil todas as mortes! Ajude-me! Lembre-se do seu voto!

Então a realidade do que ela estava dizendo o atingiu e, em pânico, ele trancou de novo os ferrolhos. — Por que eles...

Um feroz martelamento na porta interrompeu-o, ferro retinindo sobre ferro, então a voz começou, num violento crescendo. Todos os sons exteriores cessaram. As mulheres correram para a parede oposta e se encolheram contra ela.

— Saia de perto da porta — gritou Mariko, correndo para junto delas. — Ele vai explodi-Ia!

— Retarde-os, Mariko-san — disse Blackthorne, e saltou para a porta lateral que levava para as ameias. — Nossos homens logo estarão aqui. Mexa nos ferrolhos, diga que estão emperrados, qualquer coisa. — Ele puxou com força o ferrolho superior da porta lateral, mas encontrou-o enferrujado. Obedientemente Mariko correu para a porta e simulou débeis tentativas de deslocar o ferrolho central, suplicando ao ninja do outro lado. Então começou a chocalhar o ferrolho inferior. A voz tornou-se mais insistente e Mariko redobrou suas súplicas chorosas. Blackthorne esmagou a mão fechada contra a lingüeta de novo, mas ela não se moveu. As mulheres olhavam, impotentes. Finalmente esse trinco se abriu ruidosamente. Mariko tentou cobrir o som e Blackthorne atacou o último ferrolho. Suas mãos estavam esfoladas e ensangüentadas agora. O líder ninja do lado de fora renovou a advertência colérica. Em desespero, Blackthorne agarrou a espada e usou o cabo como um porrete, sem se importar com o barulho agora. Mariko abafou os sons da melhor maneira que pôde. O ferrolho parecia soldado.

Do lado de fora da porta, o líder da pinta vermelha estava quase louco de fúria. Aquele refúgio secreto era totalmente inesperado. As ordens que recebera do líder do clã eram para capturar Toda Mariko viva, certificar-se de que ela estava desarmada, e entregá-la aos cinzentos que esperavam na extremidade do túnel que saía dos porões. Sabia que o tempo estava se esgotando. Podia ouvir a batalha devastadora no corredor, fora da sala de audiência, e sabia, desgostoso, que já estariam a salvo lá embaixo, a missão cumprida, não fosse aquele buraco de rato secreto e aquele imbecil superansioso do irmão, que começara o ataque prematuramente.

Karma ter um irmão assim!

Segurava uma lâmpada acesa na mão e estendera uma trilha de pólvora até os barriletes que haviam trazido nas mochilas para explodir a entrada secreta dos porões, a fim de assegurar a retirada. Mas estava num dilema. Explodir a porta era o único meio de entrar. Mas a mulher Toda estava bem do outro lado da porta e a explosão com certeza mataria todos os que estavam lá dentro e arruinaria a sua missão, tornando inúteis todas as suas perdas.

Passos correram até ele. Era um dos seus homens. — Depressa! — sussurrou o homem. — Não podemos agüentar muito tempo mais! — E afastou-se correndo.

O líder vermelho decidiu-se. Acenou a seus homens que se protegessem e gritou uma advertência através da porta: — Afastem-se! Vou explodir a porta! — Colocou a vela na trilha e deu um pulo para a segurança. A pólvora crepitou, inflamou-se e serpeou para os barriletes.

Blackthorne escancarou a porta lateral com um último empurrão. O doce ar noturno invadiu a sala. As mulheres se precipitaram para a varanda. A velha Senhora Etsu caiu, ele a agarrou, empurrou-a para fora, voltou-se para Mariko, mas ela se havia encostado ao ferro e anunciou firmemente: — Eu, Toda Mariko, protesto contra este ataque vergonhoso, e com a minha morte...

Ele saltou para cima dela, mas a explosão o atirou para o lado enquanto a porta era arrancada das dobradiças, voava pela sala e se chocava com estrondo à parede oposta. A detonação derrubou Kiri e as outras fora, no parapeito, mas deixou-as ilesas. A fumaça derramou-se pela sala, os ninfas seguindo-se instantaneamente. A porta de ferro chamuscada deslizou para um canto.

O líder da pinta vermelha estava de joelhos ao lado de Mariko, enquanto outros se desdobravam em leque, protegendo-o. Viu de imediato que ela tinha muitas fraturas e estava morrendo depressa. Karma, pensou, e pôs-se de pé com um pulo. Blackthorne jazia atordoado, um filete de sangue a escorrer-lhe dos ouvidos e do nariz, tentando rastejar de volta à vida. A pistola, retorcida e inútil, estava a um canto.

O líder deu um passo à frente e parou. Achiko moveu-se no vão da porta.

O ninja olhou para ela, reconhecendo-a. Depois baixou os olhos para Blackthorne, desprezando-o por causa da arma de fogo e da covardia em atirar cegamente através da porta, matando um de seus homens e ferindo outro. Olhou novamente para Achiko e estendeu a mão para a faca. Ela atacou cegamente. A faca dele atingiu-a no seio esquerdo. Estava morta quando caiu e ele, sem raiva, retirou a faca do corpo que se contraía, efetuando a última parte das ordens que recebera de cima — de Ishido, presumia ele, embora isso não pudesse nunca ser provado —, que se falhassem e a Senhora Toda conseguisse se matar, ele devia deixá-la intacta e não lhe cortar a cabeça; devia proteger o bárbaro e deixar ilesas todas as outras mulheres, exceto Kiyama Achiko. Ele não sabia por que recebera a ordem de matá-la, mas isso fora ordenado e pago, portanto ela estava morta.