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Fez sinal para a retirada. Um de seus homens pôs um chifre curvo aos lábios e soprou um toque estridente, que ecoou pelo castelo e através da noite. O líder fez um último exame em Mariko. Um último exame na garota. E um último exame no bárbaro, que ele gostaria muito que estivesse morto. Depois girou sobre os calcanhares e comandou a retirada através dos quartos e passagens até a sala de audiência. Ninfas estavam defendendo a porta principal e esperaram até que todos os vermelhos estivessem na rota de fuga, depois atiraram mais bombas de fogo e fumaça no corredor e arremeteram para a segurança. O líder dos vermelhos deu-lhes cobertura. Esperou até que estivessem todos seguros, depois espalhou punhados de estrepes quase imperceptíveis e mortíferos pelo chão — pequenas balas de metal pontudo, cheias de veneno. Saiu na disparada quando marrons irromperam por entre a fumaça na sala de audiência. Alguns lhe saíram no encalço e outra falange arremeteu para o corredor. Seus perseguidores berraram quando as agulhas dos estrepes se enterraram nas plantas dos pés e eles começaram a morrer.

Na pequena sala, o único som era o dos pulmões de Blackthorne lutando por respirar. No parapeito Kiri pôs-se de pé, vacilante, o quimono rasgado e as mãos e os braços com escoriações. Entrou na sala, trôpega, viu Achiko e gritou, depois cambaleou na direção de Mariko e caiu de joelhos ao seu lado. Outra explosão em algum lugar no castelo sacudiu o pó ligeiramente, e houve mais gritos e berros distantes de "fogo". A fumaça aumentou na sala. Sazuko e algumas das criadas puseram-se de pé. Sazuko tinha escoriações no rosto e ombros, e estava com o pulso quebrado. Viu Achiko, olhos e boca arregalados no terror da morte, e soluçou.

Entorpecida, Kiri olhou para ela e fez sinal na direção de Blackthorne. A jovem cambaleou na direção de Kiri e viu Mariko. Começou a chorar. Depois conseguiu se controlar, aproximou-se de Blackthorne e tentou ajudá-lo a se levantar. Criadas acorreram para ajudá-la. Ele se apoiou nelas, fez força para se erguer, depois oscilou e caiu, tossindo e vomitando, o sangue ainda a lhe escoar dos ouvidos. Marrons irromperam na sala. Olharam em torno, consternados.

Kiri continuava de joelhos ao lado de Mariko. Um samurai ergueu-a. Outros se aglomeraram em torno. Afastaram-se quando Yabu entrou, o rosto pálido. Quando viu que Blackthorne ainda estava vivo, grande parte da ansiedade desapareceu.

— Tragam um médico! Depressa! — ordenou ele, e ajoelhou-se ao lado de Mariko. Ainda estava viva, mas extinguindo-se rapidamente. O rosto mal fora tocado mas o corpo estava terrivelmente mutilado. Yabu tirou o quimono e cobriu-a até o pescoço.

— Apressem o médico — disse, a voz rascante, depois se aproximou de Blackthorne. Ajudou-o a se sentar contra a parede. — Anjin-san! Anjin-san!

Blackthorne ainda estava em choque, os ouvidos ressoando, os olhos quase não enxergando, o rosto uma massa de contusões e queimaduras de pólvora. Então seus olhos clarearam e viram Yabu, a imagem se desfigurando, o cheiro de fumaça de pólvora a sufocá-lo, e não sabia onde estava nem quem era, apenas que estava a bordo, numa batalha, e seu navio fora atingido e precisava dele. Então viu Mariko e se lembrou.

Pôs-se de pé, oscilante, Yabu ajudando-o, e cambaleando.

Ela parecia em paz, adormecida. Ele se ajoelhou pesadamente e afastou o quimono. Estendeu-o de novo. Seu pulso estava quase imperceptível. Depois cessou.

Ele ficou olhando para ela, balançando, quase caindo, então chegou um médico, que meneou a cabeça e disse alguma coisa, mas Blackthorne não conseguiu ouvir ou compreender. Só sabia que a morte a levara e que ele também estava morto.

Fez o sinal-da-cruz sobre ela e disse as palavras sagradas em latim que eram necessárias para abençoá-la, e orou por ela, embora não lhe saísse som algum da boca. Os outros o observavam. Quando terminou de fazer o que tinha que fazer, esforçou-se por se levantar novamente e ficou ereto. Então susacabeça pareceu explodir numa luz vermelha e púrpura e ele desabou. Mãos gentis o seguraram e ajudaram-no a se deitar no chão, deixando-o descansar.

— Está morto? — perguntou Yabu.

— Quase. Não sei como estão seus ouvidos, Yabu-sama — disse o médico. — Ele pode estar sangrando por dentro.

— É melhor nos apressarmos — disse um samurai, nervoso —, tirem-nos daqui. O fogo pode se alastrar e ficaremos encurralados.

— Sim — disse Yabu. Outro samurai chamou-o urgentemente do parapeito e ele foi até lá fora.

A velha Senhora Etsu estava deitada contra a ameia, amparada pela criada, o rosto cinéreo, os olhos reumpsos. Fitou Yabu, focalizando com dificuldade. — Kasigi Yabu-san?

— Sim, senhora.

— O senhor é o oficial superior aqui? — Sim, senhora.

A velha senhora disse à criada: — Por favor, ajude-me a me levantar.

— Mas a senhora devia esperar, o méd... — Ajude-me a me levantar! Samurais ali na varanda observaram-na erguer-se, apoiada pela criada. — Ouçam — disse ela, a voz rouca e frágil em meio ao silêncio. — Eu, Maeda Etsu, esposa de Maeda Arinosi, senhor de Nagato, Iwami e Aki, declaro que Toda Mariko-sama pôs fim à vida para poupar-se de captura desonrosa por esses homens hediondos e vergonhosos. Declaro que... que Kiyama Achiko optou por atacar o ninfa, preferindo perder a vida a correr o risco da desonra de ser capturada... que não fosse a bravura do samurai bárbaro a Senhora Toda teria sido capturada e desonrada, assim como todas nós, e nós, que estamos vivas, devemos Ihes gratidão, assim como nossos senhores lhes devem gratidão por nos proteger dessa vergonha... Acuso o Senhor General Ishido de preparar esse ataque desonroso... e de trair o herdeiro e a Senhora Ochiba... — A velha senhora cambaleou e quase caiu, e a criada soluçou e segurou-a com mais firmeza. — E... e o Senhor Ishido os traiu e ao conselho de regentes. Peço a todos que prestem testemunho de que não posso mais viver com essa vergonha...

— Não, não, ama — soluçou a criada. — Não a deixarei... — Afaste-se! Kasigi Yabu-san, por favor, ajude-me. Vá embora, mulher!

Yabu aparou o peso da Senhora Etsu, que era desprezível, e ordenou à criada que se afastasse. Ela obedeceu.

A senhora Etsu sentia muita dor e respirava pesadamente. — Atesto a verdade disso com a minha própria morte — disse com uma voz tênue, e levantou os olhos para Yabu. — Eu ficaria honrada se... se o senhor fosse o meu assistente.

— Não, senhora. Não há necessidade de morrer.

Ela desviou o rosto dos outros e sussurrou apenas para ele: — Já estou morrendo, Yabu-sama. Estou sangrando por dentro — alguma coisa se rompeu lá dentro — a explosão... Ajude-me a cumprir o meu dever... Sou velha e inútil, e a dor tem sido minha companheira de cama há vinte anos. Deixe a minha morte também ajudar o nosso amo, neh? — Houve um lampejo nos velhos olhos.

— Neh?

— Por favor, ajude-me até o parapeito.

Gentilmente ele a ergueu e parou orgulhosamente ao seu lado na cornija, o adro muito lá embaixo. Ajudou-a a erguer-se. Todos se curvaram para ela.

— Eu disse a verdade. Atesto isso com a minha morte — disse, em pé, sozinha, a voz trêmula. Depois fechou os olhos, agradecida, e deixou-se tombar a frente, para dar as boas vindas à morte.

CAPÍTULO 58

Os regentes estavam reunidos no Grande Salão no segundo andar do torreão. Ishido, Kiyama, Zataki, Ito e Onoshi. O sol do amanhecer lançava sombras compridas e o odor de fogo ainda pairava pesadamente no ar.

A Senhora Ochiba estava perturbada.

— Sinto muito, senhor general, discordo — estava dizendo Kiyama na sua voz irritadiça. — É impossível ignorar o seppuku da Senhora Toda, a bravura da minha neta e o testemunho e a morte formal da Senhora Maeda — junto com cento e quarenta e sete homens de Toranaga mortos e aquela parte do castelo quase arrasada! Simplesmente não pode ser ignorado.