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- Hai.

- Okiro.

- Diz para você se levantar.

Blackthorne se levantou, uma dor martelando-lhe a cabeça. Tinha os olhos pregados em Omi e Omi sustentava-lhe o olhar.

- Você irá com Mura e obedecerá às ordens dele.

Blackthorne não retrucou nada.

- Omi-san diz: você concorda em se comportar?

- Wakarimasu ka? - perguntou Omi rispidamente.

- Hai. - Blackthorne estava medindo a distância entre si e Omi. Já podia sentir os próprios dedos no pescoço e no rosto do homem, e rezou para ser rápido e forte o bastante para arrancar os olhos de Omi antes que o tirassem de cima dele. - E o   rapaz? - perguntou.

O padre falou com Omi, hesitante.

Omi deu uma olhada no caldeirão. A água ainda estava apenas morna. O rapaz desmaiara, mas estava incólume.

- Tirem-no daí - ordenou. - Tragam um médico se for preciso.

Seus homens obedeceram. Viu Blackthorne se dirigir para o rapaz e auscultar-lhe o coração. Omi fez um gesto para o padre.

- Diga ao chefe que o jovem também pode ficar fora do buraco hoje. Se o chefe se comportar e o jovem se comportar, outro bárbaro talvez saia do buraco amanhã. Depois outros. Talvez. Ou mais de um. Depende de como se comportem os que estiverem aqui em cima. Mas você - olhou para Blackthorne - é responsável pela mínima infração a qualquer regra ou ordem. Compreende?

Depois de o padre traduzir, Omi ouviu o bárbaro dizer "sim" e viu parte da raiva sanguínea e vítrea desaparecer-lhe dos olhos.

Mas o ódio permaneceu. Que tolice, pensou Omi, e quanta ingenuidade ser tão aberto. Pergunto a mim mesmo o que ele não teria feito se eu tivesse jogado mais tempo, fingido voltar atrás na minha promessa ou restringido o que prometera.

- Padre, qual é mesmo o nome dele? Diga devagar.

Ouviu o padre dizer o nome diversas vezes, mas ainda lhe soava como linguagem inarticulada.

- Você consegue dizer? - perguntou a um de seus homens.

- Não, Omi-san.

- Padre, diga-lhe que daqui em diante o nome dele é Anjin - Piloto -, neh? Quando merecer, será chamado de Anjin-san. Explique-lhe que não existem sons na nossa língua para dizermos o verdadeiro nome dele. - Omi acrescentou secamente: - Convença-o de que isto não tem a intenção de ser insultante. Adeus, Anjin, por enquanto.

Todos se curvaram para ele. Retribuiu a saudação polidamente e se afastou. Quando estava bem longe da praça e certo de que ninguém o observava, permitiu-se dar um largo sorriso. Domar o chefe dos bárbaros tão rapidamente! Ter percebido imediatamente como dominá-lo, e a eles!

Como esses bárbaros são extraordinários, pensou. Iiilh, quanto mais depressa o Anjin falar a nossa língua, melhor. Então saberemos como esmagar os bárbaros cristãos de uma vez por todas!

- Por que você não lhe urinou na cara? - perguntou Yabu.

- Primeiro pretendia fazer isso, senhor. Mas o piloto ainda é um animal indomado, totalmente perigoso. Fazer isso, bem, para nós, tocar o rosto de um homem é o pior dos insultos, neh? Então raciocinei que se o insultasse tão profundamente ele perderia o controle. De modo que lhe urinei nas costas, o que acho que foi suficiente.

Estavam sentados na varanda de sua casa, sobre almofadas de seda. A mãe de Omi servia o chá com toda a cerimônia - fora bem treinada para isso, quando jovem. Ofereceu a xícara com uma reverência a Yabu. Este curvou-se e polidamente ofereceu-a a Omi, que naturalmente recusou com uma reverência mais profunda; então Yabu aceitou-a e sorveu a bebida com prazer, sentindo-se completo.

- Estou muito impressionado com você, Omi-san - disse. - Seu raciocínio é excepcional. O modo como você planejou e lidou com toda essa história foi esplêndido.

- É muito gentil, senhor. Meus esforços poderiam ter sido muito melhores, muito melhores.

- Onde foi que aprendeu tanto sobre a mente dos bárbaros?

- Quando tinha catorze anos, tive um professor durante um ano, um monge chamado Jiro. Tinha sido padre cristão, pelo menos um aprendiz de padre, mas felizmente percebera os erros dessa estupidez. Nunca me esqueci de uma coisa que ele me contou. Disse que a religião cristã era vulnerável porque ensinava que a divindade principal, Jesus, disse que todas as pessoas deviam amar-se mutuamente. Não ensinou nada sobre honra ou dever, apenas amor. E também que a vida era sagrada. "Não matarás", neh? E outras tolices. Esses novos bárbaros bradam ser cristãos também, embora o padre negue isso, então pensei que talvez sejam apenas de uma seita diferente, e essa é a causa da inimizade deles, exatamente como algumas seitas budistas que se odeiam entre si. Achei que, se eles "se amam uns aos outros", talvez pudéssemos controlar o líder tirando a vida ou mesmo ameaçando   tirar a vida de um de seus homens. - Omi sabia que essa conversa era perigosa por causa da morte sob tortura, a morte infame. Sentiu a advertência não pronunciada de sua mãe atravessando o espaço entre eles.

- Mais chá, Yabu-sama? - perguntou ela.

- Obrigado - disse Yabu. - Está muito bom, muito.

- Obrigada, senhor. Mas, Omi-san, o bárbaro está definitivamente dominado? - perguntou, mudando o rumo da conversa.

- Talvez você devesse dizer ao nosso senhor se acha que isso é temporário ou permanente.

Omi hesitou.

- Temporário. Mas acho que ele deveria aprender a nossa língua o mais depressa possível. Isso é muito importante para o senhor. Provavelmente terá que destruir um ou dois para manter a ele e ao resto sob controle, mas até lá ele terá aprendido como se comportar. Uma vez que possa falar diretamente com ele, Yabu-sama, poderá usar-lhe o conhecimento. Se o que o padre disse é verdade - que ele pilotou o navio por dez mil ris -, ele deve ser mais do que só um pouco inteligente.

- Você é mais do que só um pouco inteligente. - Yabu riu. - Você fica encarregado desses animais. Omi-san, treinador de homens!

Omi riu com ele.

- Tentarei, senhor.

- Seu feudo fica aumentado de quinhentos kokus para três mil. Você terá controle sobre vinte ris. - Uma ri, era uma medida de distância, aproximadamente uma milha. - Como símbolo da minha afeição, quando voltar a Yedo lhe mandarei dois cavalos, vinte quimonos de seda, uma armadura, duas espadas, e armamento suficiente para equipar mais cem samurais, que você recrutará. Quando a guerra vier, você se reunirá imediatamente ao meu estado-maior pessoal, na qualidade de hatamoto. - Yabu estava se sentindo expansivo: hatamoto era um assistente pessoal especial de um daimio, que tinha o direito de se aproximar do senhor e de usar espadas na presença dele. Estava encantado com Omi e sentia-se descansado, até renascido. Dormira deliciosamente bem. Ao despertar, estava sozinho, o que era de esperar, pois ele não pedira nem à garota nem ao menino que ficassem. Tomara um pouco de chá e comera frugalmente uma sopa de arroz. Depois um banho e a massagem de Suwo.

Foi uma experiência maravilhosa, pensou. Nunca me havia sentido tão próximo da natureza, das árvores, das montanhas e da terra, da incalculável tristeza da vida e sua transitoriedade. Os gritos haviam rematado tudo à perfeição.

- Omi-san, há uma rocha no meu jardim em Mishima que eu gostaria que você aceitasse, também para comemorar este acontecimento, esta noite maravilhosa e nossa boa fortuna. Vou mandá-la com as outras coisas - disse ele. - A pedra vem de Kyushu. Dei-lhe o nome de "A Pedra da Espera", porque estávamos esperando que o senhor taicum ordenasse um ataque quando a encontrei. Isso foi, oh, há quinze anos. Eu fazia parte do exército dele que esmagou os rebeldes e dominou a ilha.

- O senhor me concede muita honra.

- Por que não colocá-la aqui, no seu jardim, e rebatizá-la? Por que não chamá-la de "A Pedra da Paz do Bárbaro", para comemorar a noite e a interminável espera de paz pela qual o bárbaro passou?