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— Já ouvi isso antes, Tsukku-san — disse Toranaga abruptamente. -— Que ajuda prática o padre cristão chefe pode me dar? — Senhor, deposite a sua fé em... — Alvito se conteve, depois disse com sinceridade: — Por favor, desculpe-me, senhor, mas acho, de todo o coração, que se o senhor depositar sua fé em Deus, ele o ajudará.

— Eu confio, mas mais em Toranaga. Entrementes sou informado de que Ishido, Kiyama, Onoshi e Zataki reuniram suas legiões. Ishido terá trezentos ou quatrocentos mil homens em campo contra mim.

— O padre-inspetor está pondo em execução o seu acordo com o senhor. Em Yokosé relatei fracasso. agora penso que há esperança.

— Não posso usar esperança contra espadas.

— Sim, mas Deus pode vencer contra quaisquer desigualdades.

— Sim. Se Deus existe, pode vencer contra quaisquer desigualdades. — A voz de Toranaga se aguçou ainda mais. — Que esperança o senhor está concedendo?

— Não sei, de fato, senhor. Mas Ishido não virá contra o senhor? Fora do Castelo de Osaka? Esse não é outro ato de Deus?

— Não. Mas o senhor compreende a importância dessa decisão?

— Oh, sim, muito claramente. Estou certo de que o padreinspetor também compreende isso.

-— Está dizendo que o trabalho dele é esse?

— Oh, não, senhor. Mas isso está acontecendo.

— Talvez Ishido mude de idéia, faça o Senhor Kiyama comandante-chefe, esconda-se em Osaka e lance Kiyama e o herdeiro contra mim?

— Não posso responder a isso, senhor. Mas se Ishido sair de Osaka será um milagre. Neh?

— Está alegando, a sério, que esse é outro ato do seu Deus cristão?

-— Não: Mas poderia ser. Creio que nada acontece sem o seu conhecimento.

— Mesmo depois de mortos, pode ser que nunca venhamos a saber sobre Deus. -— Então Toranaga acrescentou abruptamente: — Ouvi dizer que o padre-inspetor partiu de Osaka — e ficou contente de ver uma sombra cruzar o rosto de Tsukku-san. A notícia chegara no dia em que ele partira de Mishima.

— Sim — disse o padre, a apreensão aumentada. — Ele foi a Nagasaki, senhor.

-— Para conduzir um funeral especial para Toda Marikosama?

— Sim. Ah, senhor, sabe tanto! Somos todos argila no torno do oleiro que o senhor gira.

— Isso não é verdade. E não gosto de lisonja inútil. Esqueceu-se?

— Não, senhor, por favor, desculpe-me. Isso não teve a intenção de ser lisonja. — Alvito pôs-se ainda mais em guarda, quase sem forças. — Opõe-se ao serviço fúnebre, senhor?

— A mim não interessa. Ela era uma pessoa muito especial e seu exemplo merece ser honrado.

— Sim, senhor. Obrigado. O padre-inspetor ficará muito contente. Mas ele acha que isso tem muita importância.

— Claro. Porque ela era minha vassala e cristã, o seu exemplo não passará despercebido — por outros cristãos. Ou por aqueles que estão considerando a possibilidade de conversão. Neh?

— Eu diria que não passará despercebido. Por que passaria? Pelo contrário, ela merece grande louvor pela sua auto-imolação. — Dando a vida para que outros pudessem viver? — perguntou Toranaga criticamente, não mencionando seppuku ou suicídio.

— Sim.

Toranaga sorriu consigo mesmo, notando que Tsukku-san não mencionara nem Lima vez a outra garota, Kiyama Achiko, sua bravura, morte ou funeral, também com grande pompa e cerimônia. Endureceu a voz. — E o senhor não sabe de mais ninguém que tenha ordenado ou auxiliado na sabotagem do meu navio?

— Não, senhor. De outro modo que não através de orações, não sei.

— Fui informado de que a construção da sua igreja em Yedo está indo bem.

— Sim, senhor. Agradeço-lhe novamente.

— Bem, Tsukku-san, espero que os esforços do sumo sacerdote dos cristãos gerem fruto logo. Preciso de mais do que esperança e tenho uma excelente memória. Agora, por favor, solicito os seus serviços como intérprete. — Instantaneamente sentiu o antagonismo do padre. — O senhor não tem nada a temer.

— Oh, senhor, nao tenho medo, por favor, desculpe-me, só não quero estar perto dele.

Toranaga levantou-se. — Solicito-lhe que respeite o Anjin-san. Sua coragem é inquestionável e ele salvou a vida de Marikosama muitas vezes. Além disso, compreensivelmente, ele está quase fora de si — a perda do navio, neh?

— Sim, sim. Sinto muito.

Toranaga tomou a dianteira em direção à praia, guardas corri archotes iluminando o caminho. — Quando terei o relatório do seu sumo sacerdote sobre o incidente do contrabando de armas? — Assim que ele obtiver todas as informações de Macau. — Por favor, peça-lhe que acelere as investigações.

— Sim, senhor.

— Quem eram os daimios cristãos envolvidos?

— Não sei, sinto muito, nem se havia algum envolvido.

— É uma pena que o senhor não saiba, Tsukku-san. Isso me pouparia muito tempo. Não são poucos os daimios que estariam interessados em saber a verdade a esse respeito.

Ah, Tsukku-san, pensou Toranaga, mas você sabe, e eu poderia encostá-lo à parede agora e, enquanto você se contorcesse e se debatesse como uma cobra encurralada, eu lhe ordena ria que jurasse pelo seu Deus cristão, e aí, se você fizesse isso, teria que dizer: Kiyama, Onoshi e provavelmente Harima. Mas o momento não é oportuno. Ainda. Nem para que você saiba que acredito que os seus cristãos não têm nada que ver com a sabotagem. Nem Kiyama, Harima ou mesmo Onoshi. De fato, tenho certeza disso. Mas também não foi um ato de Deus. Foi um ato de Toranaga.

Sim.

Mas por quê? você poderia perguntar.

Kiyama prudentemente recusou o oferecimento que Mariko lhe entregou com a carta. Precisava ter provas da minha sinceridade. O que mais eu poderia dar além do navio — e o bárbaro -, que aterrorizava vocês, cristãos? Eu esperava perder os dois, embora só tivesse dado um. Hoje, em Osaka, intermediários meus dirão a Kiyama e ao chefe dos seus padres que isso é um presente espontâneo de mim para eles, uma prova da minha sinceridade: que não me oponho à Igreja, apenas a Ishido. É uma prova, neh?

Sim, mas você pode confiar em Kiyama? perguntará você, com toda a razão.

Não. Mas Kiyama é japonês em primeiro lugar, e cristão em segundo. Você sempre se esquece disso. Kiyama compreenderá a minha sinceridade. O presente do navio foi absoluto, assim como o exemplo de Mariko e a bravura do Anjin-san.

E como sabotei o navio? você poderia querer saber.

O que lhe importa isso, Tsukku-san? Basta que eu o tenha feito. E ninguém está a par, além de mim, alguns homens de confiança, e o incendiário. Ele? Ishido usou ninfas, por que eu não poderia? Mas contratei um homem e tive êxito. Ishido fracassou.

— Estupidez fracassar — disse alto. — Senhor? — perguntou Alvito.

— Estupidez fracassar em conservar um segredo tão inflamável como o dos mosquetes contrabandeados — disse ele asperamente — e incitar daimios cristãos à rebelião contra o seu suserano, o táicum. Neh?

— Sim, senhor. Se isso for verdade.

— Oh, tenho certeza de que é, Tsukku-san. — Toranaga deixou a conversa esmorecer, agora que o Tsukku-san estava evidentemente agitado e pronto para ser um intérprete perfeito.

Estavam na praia agora e Toranaga ia na dianteira, a passos seguros na semi-escuridão, pondo de lado o próprio cansaço. Ao passarem pelas cabeças na praia, viu Tsukku-san se persignar com medo e pensou: que estupidez ser tão supersticioso — e ter medo de nada.

Os vassalos do Anjin-san já estavam de pé, curvando-se, muito antes de ele chegar. O Anjin-san não. Ainda estava sentado, contemplando o mar com ar inexpressivo.

— Anjin-san — chamou Toranaga gentilmente.

— Sim, senhor? — Blackthorne voltou do devaneio e se pôs pé. — Desculpe, quer conversar agora?

— Sim. Por favor. Trago Tsukku-san porque quero convercom clareza. Compreende? Rápido e claro?

— Sim. — Toranaga viu a fixidez dos olhos do homem à cios archotes e sua total exaustão. Olhou para Tsukku-san. — Ele compreendeu o que eu disse? — Observou o padre falar, e ouviu a língua que tinha o som do mal. O Anjin-san assentiu, o olhar acusador não fraquejando nunca.