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— Sim, senhor — disse o padre.

— Agora traduza para mim, por favor, Tsukku-san, como antes. Tudo exato: ouça, Anjin-san, trouxe Tsukku-san a fim de que possamos falar direta e rapidamente sem perder o sentido de palavra alguma. É muito importante para mim, por isso peço-lhe paciência. Acho que é melhor assim.

— Sim, senhor.

— Tsukku-san, primeiro jure diante do seu Deus cristão que nada do que ele disser passará dos seus lábios outra pessoa. Como num confessionário. Neh?

— Mas, senhor, isto não é...

— Isso é o que o senhor fará. Agora. Ou retirarei todo meu apoio, para sempre, ao senhor e à sua Igreja.

— Muito bem, senhor. Concordo. Diante de Deus.

— Bom. Obrigado. Explique o trato a ele. — Alvito obedeceu, depois Toranaga acomodou-se sobre as dunas de areia e agitou a leque contra os insetos noturnos. — Agora, por favor, conte-me, Anjin-san, o que aconteceu em Osaka.

Blackthorne começou vacilante, mas aos poucos sua mente começou a reviver tudo e logo as palavras fluíam e o Padre Alvito tinha dificuldade em acompanhá-lo. Toranaga ouvia em silêncio, nunca interrompendo o fluxo, apenas acrescentando um encorajamento cauteloso quando necessário, o ouvinte perfeito. Blackthorne terminou ao amanhecer. Nessa altura Toranaga sabia tudo o que havia a contar — tudo o que o Anjin-san estava preparado para contar, corrigiu-se ele. O padre também sabia mas Toranaga tinha certeza de que não havia nada no que fora dito que os católicos ou Kiyama pudessem usar contra ele, contra Mariko ou contra o Anjin-san, o qual, nessa altura, mal notava o padre.

— Tem certeza de que o capitão-mor o teria colocado na fogueira, Anjin-san? — perguntou de novo.

— Oh, sim. Não fosse o jesuíta. Sou um herege aos olhos dele — supõe-se que o fogo "limpe" a alma de um herege de algum modo. .

— Por que o padre-inspetor o salvou?

— Não sei. Tinha alguma coisa a ver com Mariko-sama. Sem o meu navio não posso tocá-los. Oh, eles teriam pensado nisso por si mesmos, mas talvez ela lhes tenha dado um indício de como fazê-lo.

— Que indício? O que ela saberia sobre incendiar navios?

— Não sei. Ninjas entraram no castelo. Talvez os ninjas pudessem se infiltrar entre os homens aqui. Meu navio fai sabotado. Ela viu o padre-inspetor no castelo no dia em que morreu. Acho que disse a ele como incendiar o Erasrnus -— em troca da minha vida. Mas não tenho vida sem o meu navio, senhor. Nenhuma.

— Está enganado, Anjin-san, Obrigado, Tsukku-san — disse Toranaga, dispensando-o. — Sim, agradeço-lhe o trabalho. Por favor, vá descansar um pouco.

— Sim, senhor. Obrigado. — Alvito hesitou. — Peço desculpas pelo capitão-mar. Os homens nascem em pecado, a maioria permanece em pecado, embora sejam cristãos.

— Os cristãos nascem em pecado, nós não. Somos um povo civilizado que compreende o que é realmente pecado, não camponeses iletrados que não conhecem coisa melhor. Ainda assim, Tsukku-san, se eu fosse o seu capitão-mor, não teria deixado o Anjin-san ir embora, tendo-o ao meu alcance. Foi uma decisão militar, uma boa decisão. Acho que ele viverá para lamentar não ter insistido — e o mesmo fará o padre-inspetor.

— Quer que eu traduza isso, senhor?

— Isso foi para os seus ouvidos. Obrigado pelo seu auxílio. — Toranaga retribuiu as saudações do padre e mandou alguns homens acompanharem-no de volta a casa, depois se voltou para Blackthorne. — Anjin-san. Primeiro nadar.

— Senhor?

— Nadar! — Toranaga se despiu e entrou na água à luz crescente. Blackthorne e os guardas o seguiram. Toranaga nadou vigorosamente mar adentro, depois voltou e contornou o navio. Blackthorne vinha atrás dele, revigorado pelo frio da água. Logo Toranaga retornou à praia. Criadas tinham toalhas prontas, quimonos limpos, chá, saquê e comida.

— Coma, Anjin-san.

— Desculpe, não tenho fome. — Coma!

Blackthorne engoliu alguns bocados e vomitou. — Sinto muito.

— Estupidez. E fraqueza. Fraco como um comedor de alho. Não como um hatamoto. Neh?

— Senhor?

Toranaga repetiu. Brutalmente. Depois apontou para o navio, sabendo que agora tinha toda a atenção de Blackthorne: — Aquilo nâo é nada. Shikata ga nai. Sem importância. Ouça: Anjin-san é hatamoto, neh? Não comedor de alho. Compreende?

— Sim, sinto muito.

Toranaga chamou o guarda-costas com um aceno, e o homem lhe estendeu um pergaminho lacrado. — Ouça, Anjin-san, antes de partir de Yedo Mariko-sarna deu-me isto. Mariko-sarna disse que, se você vivesse depois de Osaka — se vivesse, compreende? -, pediu-me que lhe desse isto.

Blackthorne pegou o pergaminho oferecido e, após um momento, rompeu o lacre.

— O que diz a mensagem, Anjin-san? — perguntou Toranaga. "

Ela escrevera em latim: "Você. Eu o amo. Se isto for lido por você, então terei morrido em Osaka e talvez, por minha causa, seu navio esteja morto também. Eu talvez sacrifique essa parte muito estimada da sua vida por causa da minha fé, para salvaguardar a minha Igreja, mas mais para salvar a sua vida, que para mim é mais preciosa do que tudo — até do que o interesse do meu Senhor Toranaga. Eu talvez chegue a uma escolha, meu amor: você ou o seu navio. Desculpe, mas escolho a vida para você. Esse navio está condenado de todo modo — com ou sem você. Entregarei o seu navio ao seu inimigo, de modo que você possa viver. Esse navio não é nada. Construa outro. Isso você pode fazer — você não aprendeu a ser um construtor de navios, assim como um navegador de navios? Acredito que o Senhor Toranaga lhe dará todos os artesãos, carpinteiros e ferreiros necessários — ele precisa de você e dos seus navios -, e da minha fortuna pessoal leguei a você todo o dinheiro necessário. Construa outro navio e construa outra vida, meu amor. Tome o Navio Negro do próximo ano, e viva para sempre. Ouça, meu querido, a minha alma cristã reza para vê-lo de novo num paraíso cristão — minha hara japonesa reza para que na próxima vida eu seja tudo o que for necessário para dar-lhe alegria e para estar com você esteja você onde estiver. Perdoe-me — mas a sua vida é tudo o que importa. Eu o amo".

— O que diz a mensagem, Anjin-san?

— Desculpe, senhor. Mariko-sama diz que esse navio não é necessário. Diz para construir um novo navio. Diz...

— Ah! É possível? É possível, Anjin-san?

Blackthorne viu o interesse cintilante do daimio. — Sim. Se tiver... — Não conseguiu se lembrar da palavra "carpinteiro". — Se Toranaga-sama der homens, homens que fazem navio, neh? Sim. Eu posso. — Na sua mente esse novo navio começou a tomar forma. Menor, muito menor do que o Erasmus. Entre noventa e cem toneladas seria tudo o que ele poderia dirigir, pois nunca supervisionara ou projetara um navio completo antes, embora Alban Caradoc o tivesse educado como construtor naval e como piloto. Deus o abençoe, Alban, exultou ele. Sim, noventa toneladas para começar. O Gondel Hind de Drake tinha mais ou menos isso, e lembre-se do que ele agüentou! Posso pôr vinte canhões a bordo e isso seria o suficiente para... — Jesus Cristo, os canhões!

Saiu correndo e foi olhar os restos do navio, então viu Toranaga e todos eles a fitá-lo e percebeu que estivera falando em inglês. — Ah, desculpe, senhor. Pensar rápido demais. Armas grandes — lá, no mar, neh? Preciso pegar depressa!

Toranaga falou com seus homens, depois encarou Blackthorne de novo. — Os samurais dizem que tudo o que estava no navio está no acampamento. Algumas coisas retiradas do mar aqui, na maré baixa, neh? Agora no acampamento. Por quê?

Blackthorne sentia-se em delírio. — Posso fazer navio. Se tiver armas grandes, posso lutar inimigo. Toranaga-sama pode conseguir pólvora?

— Sim. Quantos carpinteiros? Quantos são necessários?