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— Ao longo da costa.

— Certamente, senhor. Por favor, com licença, vou providenciar a alteração. — O homem saiu correndo. Toranaga manteve os olhos nele. É tempo de que ele se aposente, pensou sem maldade. Então notou Omi aproximando-se dos estábulos com um jovem samurai ao seu lado, que mancava muito, um cruel ferimento de faca ainda lívido no rosto, resultado do combate em Osaka.

— Ah. Omi-san! — Retribuiu-lhes a saudação. — É esse o sujeito?

— Sim, senhor.

Toranaga chamou os dois à parte e interrogou o samurai habilmente. Fez isso por cortesia para com Omi, já tendo chegado às mesmas conclusões quando conversara com o homem na pri meira noite, assim como fora polido com o Anjin-san, perguntando o que continha a carta de Mariko, embora já soubesse o que Mariko escrevera.

— Mas, por favor, coloque com as suas próprias palavras, Mariko-san — dissera ele antes que ela partisse de Yedo para Osaka.

— Devo entregar o navio dele ao inimigo dele, senhor?

— Não, senhora — dissera ele, enquanto os olhos dela se enchiam de lágrimas. — Não. Repito: você vai sussurrar ao Tsukku-san os segredos que me contou, imediatamente aqui em Ycdo, depois ao sumo sacerdote e a Kiyama em Osaka, e dizer a todos que sem o navio o Anjin-san não é ameaça para eles. E escreverá a carta ao Anjin-san conforme sugeri, agora.

— Eles destruirão o navio.

— Tentarão fazer isso. Claro que pensarão na mesma resposta por si mesmos, portanto, na realidade, você não estará revelando nada, neh?

— Pode proteger o navio dele, senhor? — Será guardado por quatro mil samurais.

— Mas se tiverem êxito... o Anjin-san não vale nada sem o navio. Rogo pela vida dele.

— Não é preciso, Mariko-san. Garanto-lhe que ele é valioso para mim, com ou sem um navio. Prometo-lhe. Diga-lhe também, na carta, que, se o navio dele se perder, que por favor construa outro.

__ O quê?

— Você me disse que ele pode fazer isso, neh? Tem certeza? Se eu lhe der todos os carpinteiros e ferreiros?

— Oh, sim. Oh, como o senhor é inteligente! Oh, sim, ele disse muitas vezes que é um construtor de navios...

— Tem toda a certeza, Mariko-san?

— Sim, senhor.

— Bom.

— Então o senhor pensa que os padres cristãos terão êxito, mesmo contra. quatro mil homens?

— Sim. Sinto muito, mas os cristãos nunca deixarão o navio intacto, ou a ele mesmo vivo, enquanto o navio estiver flutuando e pronto para zarpar. É uma ameaça grande demais para eles. Esse navio está condenado, portanto não há mal em entregá-lo a eles. Mas você e eu sabemos e devemos saber que a única esperança do Anjin-san é construir outro navio. Sou o único que pode ajudá-lo a fazer isso. Resolva Osaka para mim e providenciarei para que ele construa o seu navio.

Eu disse a verdade a ela, pensou Toranaga ali no amanhecer em Yokohama, por entre o odor de cavalos, excremento e suor, seus ouvidos mal ouvindo agora o sa?nurai ferido e Omi, todo o seu ser entristecido por Mariko. A vida é tão triste, disse a si mesmo; cansado dos homens, de Osaka, de jogos, que causavam tanto sofrimento à existência, por maiores que fossem os prêmios a atingir.

— Obrigado por me dizer, Kosami — disse ele, quando o samurai terminou. — Agiu muito bem. Por favor, venha comigo. Vocês dois.

Toranaga voltou para junto da sua égua e fê-la ajoelhar uma última vez. Desta vez ela choramingou, mas ele não apertou mais a cilha. — Cavalos são muito piores do que homens em traição — disse, a ninguém em particular, e saltou para a sela e saiu a galope, seguido de seus guardas, Omi, e Kosami.

No acampamento, parou. Buntaro estava lá, ao lado de Yabu, Hiromatsu e Sudara, este com ura peregrinus no punho. Saudaram-no. — Bom dia -— disse ele jovialmente, chamando Omi com um gesto a participar da conversa, mas afastando todos os demais. — Está pronto, meu filho?

— Sim. Pai — disse Sudara. — Mandei alguns dos meus homens para as montanhas, a fim de verificarem que os batedores sejam perfeitos para o senhor.

— Obrigado, mas decidi caçar ao longo da costa. Imediatamente Sudara chamou um dos guardas e mandou-o a galope para trazer os homens de volta das colinas e conduzi-los para a costa. — Sinto muito, senhor, eu deveria ter pensado nisso e estar preparado. Por favor, desculpe-me.

— Sim. Então, Hiromatsu, como vai o treinamento? Hiromatsu, a espada inevitavelmente frouxa nas mãos, fez uma carranca. — Ainda acho que isso é desonroso e desnecessário. Logo seremos capazes de esquecê-lo. Mijaremos em cima de 1shido sem este tipo de traição.

— Por favor, desculpe-me — disse Yabu -, mas sem estas armas e esta estratégia, Hiromatsu-san, perderemos. Esta é uma guerra moderna, deste modo temos uma chance de vencer. — Olhou para Toranaga, que ainda não desmontara. — Fui informado durante a noite de que Jikkyu morreu.

— Tem certeza? — Toranaga fingiu surpresa. Obtivera a informação secreta no dia em que partira de Mishima.

— Sim, senhor. Parece que ele esteve doente algum tempo. Meu informante relata que ele morreu há dois dias — disse Yabu, regozijando-se abertamente. — O herdeiro é o filho dele, Hikoju.

— Aquele jovenzinho enfatuado? — disse Buntaro, com desdém.

— Sim. Concordo que ele não passa de um filhote. — Yabu parecia várias polegadas mais alto do que o habitual. — Senhor, isso não abre a estrada meridional? Por que não atacar pela estrada Tokaido imediatamente? Com a velha raposa morta, Izu está segura agora, e Suruga e Totomi estão tão indefesas quanto um. atum encalhado. Neh?

Toranaga desmontou pensativo.

— Bem? — perguntou a Hiromatsu calmamente.

O velho general respondeu imediatamente:

— Se pudéssemos dominar a estrada até o passo de Utsunoya e todas as pontes, e chegar á vertente Tenryu rapidamente — com todas as nossas comunicações garantidas -, retalharíamos o baixo-ventre de Ishido. Poderíamos conter Zataki nas montanhas, reforçar o ataque pela Tokaido e investir contra Osaka. Seríamos invencíveis.

— Enquanto o herdeiro comandar os exércitos de Ishido — disse Sudara -, poderemos ser vencidos.

— Não concordo — disse Hiromatsu.

— Nem eu, sinto muito — disse Yabu.

— Mas eu concordo — disse Toranaga, tão inexpressivo e grave quanto Sudara. Ainda não lhes falara sobre o possível acordo de Zataki em trair Ishido quando o momento fosse opor tuno. Por que deveria lhes dizer? pensou. Não é um fato ainda. Mas como é que você propõe pôr em prática o seu acordo solene com o seu meio irmão, casando-o com Ochiba se ele o apoiar, e ao mesmo tempo casar você mesmo com Ochiba, se for esse o preço dela? É uma pergunta razoável, disse-se ele. Mas é altamente improvável que Ochiba traia Ishido. Se o fizesse e esse fosse o preço, a resposta seria simples: meu irmão teria que se curvar ao inevitável.

Viu-os todos a olhá-lo.

— O que é?

Houve um silêncio. Então Buntaro disse:

— O que acontece, senhor, quando nos opomos à bandeira do herdeiro?

Nenhum deles jamais formulara essa pergunta formalmente, diretamente e publicamente.

— Se isso acontecer, eu perco — disse Toranaga. — Cometerei seppuku e aqueles que honram o testamento do táicum e a inconteste herança legal do herdeiro terão que se submeter com humildade, imediatamente, ao seu perdão. Os que não o fizerem não terão honra. Neh?

Todos assentiram. Então ele se voltou para Yabu para concluir o negócio que estava à mão, e tornou-se cordial de novo.

— Entretanto, ainda não estamos nesse campo de batalha, por tanto continuamos conforme planejamos. Sim, Yabu-sama, a estrada meridional é possível agora. De que morreu Jikkyu?

— De doença, senhor.