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— Uma doença de quinhentos kokus?

Yabu riu, mas interiormente ficou furioso de que Toranaga houvesse rompido a sua rede de segurança. — Sim — disse — eu presumiria que sim, senhor. Meu irmão lhe contou? — Tora naga assentiu e pediu-lhe que explicasse aos demais. Yabu aquiesceu, não descontente, pois era um estratagema inteligente, e contou-lhes como Mizuno, seu irmão, passara o dinheiro proveniente do Anjin-san a um ajudante de cozinheiro que fora introduzido na cozinha particular de Jikkyu.

— Barato, neh? — disse Yabu alegremente. — Quinhentos kokus pela estrada meridional?

Hiro-matou disse rigidamente a Toranaga: — Por favor, desculpe-me, mas acho essa história repugnante.

Toranaga sorriu. — Traição é uma arma de guerra, neh? — Sim. Mas não de um samurai.

Yabu indignou-se. — Sinto muito, Senhor Hiro-matou, mas presumo que o senhor não tenha tido a intenção de me insultar? — Ele não teve a intenção. Teve, Hiro-matou? — disse Toranaga.

— Não, senhor — replicou o velho general. — Por favor, desculpe-me.

— Veneno, traição, deslealdade, assassinato sempre foram armas de guerra, amigo velho — disse Toranaga. — Jikkyu era um inimigo e um imbecil. Quinhentos kokeís pela estrada meri dional não é nada! Yabu-sama serviu-me bem. Aqui e em Osaka. Neh, Yabu-san?

— Sempre tentei servi-lo com lealdade, senhor.

— Sim, então, por favor, explique por que matou o Capitão Sumiyori antes do ataque ninja — disse Toranaga.

O rosto de Yabu não se alterou. Estava usando sua espada Yoshitomo, a mão, como sempre, frouxa sobre o punho da arma. — Quem diz isso? Quem me acusa disso, senhor?

Toranaga apontou para o grupo de marrons a quarenta passos de distância. — Aquele homem! Por favor, venha aqui, Kosami-san. — O jovem samurai desmontou, avançou coxeando e curvou-se.

Yabu cravou-lhe os olhos. — Quem é você, camarada?

— Sokura Kosami, da Décima Legião, designado para a guarda pessoal da Senhora Kiritsubo em Osaka, senhor — disse o jovem. — O senhor me pôs de guarda à porta dos seus aposentos — e de Sumiyori-san -, na noite do ataque ninja.

— Não me lembro de você. Atreve-se a dizer que matei Sumiyori?

O jovem hesitou. Toranaga disse: — Diga-lhe!

Kosami disse num fôlego: — Só tive tempo, senhor, antes de os ninjas caírem em cima de nós, de abrir a porta e gritar um aviso a Sumiyori-san, mas ele não se moveu. — Voltou-se para Toranaga, estremecendo sob o olhar de todos eles. — Ele... ele tinha sono leve, senhor, e foi só um momento depois de... isso é tudo, senhor.

— Você entrou no quarto? Sacudiu-o? — pressionou Yabu. — Não, senhor, oh, não, senhor, os ninjas chegaram tão depressa, que recuamos imediatamente e contra-atacamos assim que pudemos, foi como eu disse...

Yabu olhou para Toranaga. — Sumiyori-san estivera em serviço durante dois dias. Estava exausto — todos nós estávamos. O que isso prova? — perguntou a todos eles.

— Nada — disse Toranaga, ainda cordial. — Mas mais tarde, Kosami-san, você voltou ao quarto. Neh?

— Sim, senhor, Sumiyori-san ainda estava deitado nos futons do jeito que eu o vira e... e o quarto não estava em desordem, em absoluto, senhor, e ele tinha sido esfaqueado, senhor, esfa queado nas costas uma vez. Na hora pensei que tivessem sido os ninjas e mais nada, até que Omi-san me interrogasse.

— Ah! — Yabu voltou os olhos para o sobrinho, toda a sua hara centrada no seu traidor, medindo a distância entre eles. — Então você o interrogou?

— Sim, senhor — replicou Omi. — O Senhor Toranaga pediu-me que reexaminasse todas as histórias. Essa foi uma das mais estranhas que achei que poderiam ser trazidas à atenção do nosso amo.

— Uma das mais estranhas? Há outra?

— Seguindo as ordens do Senhor Toranaga, interroguei os criados que sobreviveram ao ataque, senhor. Havia dois. Sinto muito, mas ambos disseram que o senhor atravessou os aposentos deles com um samurai e retornou pouco depois, sozinho, gritando: "Ninfas"! Então eles...

— Eles nos atacaram e mataram o infeliz com uma lança e uma espada, e quase me abateram. Tive que recuar para dar o alarma. — Yabu voltou-se para Toranaga, cuidadosamente pondo os pés numa posição melhor para o ataque. — Já lhe tinha contado isso, senhor, tanto pessoalmente quanto no relatório escrito. O que criados têm a ver comigo?

— Bem, Otni-san? — perguntou Toranaga.

— Sinto muito, Yabu-sama — disse Omi -, mas ambos o viram abrir os ferrolhos de uma porta secreta no porão e ouviram-no dizer aos ninfas: "Sou Kasigi Yabu". Foi isso o que deu tempo a eles de se esconderem e não serem massacrados.

A mão de Yabu moveu-se uma fração. Instantaneamente Sudara saltou para a frente de Toranaga para protegê-lo e no mesmo momento a espada de Hiromatsu disparou na direção do pescoço de Yabu.

— Pare! — ordenou Toranaga.

A espada de Hiromatsu parou, seu controle miraculoso. Yabu não fizera movimento algum. Encarou-os, depois riu, insolente. — Serei eu um ronin imundo que atacaria seu suserano? Este é Kasigi Yabu, senhor de Izu, Suruga e Totomi. Neh? — Olhou diretamente para Toranaga. — De que sou acusado, senhor? De ajudar ninfas? Ridículo! O que têm as fantasias de criados a ver comigo? São mentirosos! Assim como este sujeito, que insinua uma coisa que não pode provar e eu não posso justificar!

— Não há provas, Yabu-sama — disse Toranaga. — Concordo integralmente. Não há provas em absoluto.

— Yabu-sama, o senhor fez essas costas? — perguntou Hiromatsu.

— Claro que não!

— Mas eu acho que fez — disse Toranaga -, portanto todas as suas terras estão confiscadas. Por favor, rasgue o ventre hoje. Antes do meio-dia.

A sentença era decisiva. Era o momento supremo para o qual Yabu estivera preparado a vida toda.

Karma, pensou, o cérebro trabalhando a uma velocidade frenética. Não há nada que eu possa fazer, a ordem é legal, Toranaga é meu suserano, eles podem me tirar a cabeça ou posso morrer com dignidade. De um jeito ou de outro estou morto. Omi traiu-me, mas esse é o meu karma. Os criados deviam ter sido todos mortos, conforme o plano, mas dois sobreviveram, e esse é o meu karma. Seja digno, disse-se ele, reunindo coragem. Pense com clareza e seja responsável.

— Senhor — começou ele, com uma demonstração de audácia -, primeiro, sou inocente desses crimes, Kosami está enganado, e os criados são mentirosos. Segundo, sou o melhor general de batalha que o senhor tem. Imploro pela honra de comandar o ataque pela Tokaido — ou o primeiro lugar na primeira batalha -, de modo que minha morte seja de uso direto.

— É uma boa sugestão, Yabu-san — disse Toranaga cordialmente -, e concordo sinceramente que o senhor é o melhor general para o Regimento de Mosquetes, mas, sinto muito, não confio no senhor. Por favor, rasgue o ventre afites do meio-dia. Yabu controlou a fúria cegante e satisfez sua honra como samurai e como líder do seu clã com a totalidade do seu autosacrifício. — Formalmente absolvo o meu sobrinho Kasigi Omisan de qualquer responsabilidade pela minha traição e formalmente o designo meu herdeiro.

Toranaga ficou tão surpreso quanto todos os demais.

— Muito bem — disse. — Sim, acho que isso é muito sábio. Concordo.

— Izu é o feudo hereditário dos Kasigi. Lego-o a ele.

— Izu já não é seu para dá-lo. O senhor é meu vassalo, neh?

Izu é uma das minhas províncias, a ser dada conforme eu desejar, neh?

Yabu encolheu os ombros. — Lego-o a ele, — Riu. — É um favor de vida. Neh?

— Pedir é justo. Sua solicitação está recusada. E, Yabusan, todas as suas últimas ordens estão sujeitas à minha aprovação. Buntaro-san, você será a testemunha formal. Agora, Yabusan, a quem deseja como assistente?

— Kasigi Omi-san.

Toranaga olhou para Omi. Omi curvou-se, — A honra será minha — disse.

— Bom. Então está tudo arranjado.

— E o ataque pela Tokaido? — disse Hiromatsu.