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Omi levantou-se, recuou e, quando estava bem afastado, curvou-se e se afastou mais vinte passos. Em meio à segurança dos seus próprios guardas, sentou-se de novo e começou a esperar.

Toranaga e sua comitiva trotavam ao longo da estrada costeira que contornava a ampla baía, o mar chegando quase até a estrada, do lado direito. Ali a terra era baixa e pantanosa, com muitos charcos. Algumas ris ao norte a estrada se unia à Tokaido, a artéria principal. Mais vinte ris ao norte ficava Yedo. Toranaga tinha cem samurais consigo, dez falcoeiros e dez aves sobre o punho enluvado dos falcoeiros. Sudara tinha vinte guardas e três aves, e cavalgava como vanguarda.

— Sudara! — chamou Toranaga, como se fosse uma idéia súbita. — Pare na próxima estalagem. Quero comer alguma coisa!

Sudara acenou, dando a entender que ouvira, e prosseguiu a galope. Quando Toranaga chegou, criadas curvavam-se e sorriam, o estalajadeiro fazendo mesuras com toda a sua gente. Guardas cobriam o norte e o sul, e suas bandeiras estavam orgulhosamente plantadas.

— Bom dia, senhor, por favor, o que posso lhe servir para comer? — perguntou o estalajadeiro. — Obrigado por honrar a minha pobre hospedaria.

— Chá, e um pouco de talharim com soja, por favor. — Sim, senhor.

A comida foi trazida numa bela tigela quase imediatamente, cozida exatamente do modo como ele gostava, já que Sudara prevenira o estalajadeiro. Sem cerimônia, Toranaga se acocorou numa varanda e consumiu com prazer o prato simples, camponês, e observou a estrada à frente. Outros hóspedes se curvaram e foram tratar de seus próprios negócios, contentes, orgulhosos de se encontrarem na mesma hospedaria que o grande daimio. Sudara inspecionou os postos avançados, certificando-se de que estava tudo perfeito. — Onde estão os batedores agora? — perguntou ao mestre de caça.

— Alguns ao norte, alguns ao sul, e tenho homens extras nas colinas ali. — O velho samurai apontou para o interior na direção de Yokohama, infeliz e transpirando. ~ Por favor, desculpe-me, mas o senhor tem alguma idéia de aonde nosso amo gostaria de ir?

— Nenhuma, absolutamente. Mas não cometa mais enganos hoje.

— Sim, senhor.

Sudara terminou sua ronda, depois apresentou-se a Toranaga. — Está tudo satisfatório, senhor? Há alguma coisa que eu possa fazer pelo senhor?

— Não, obrigado. — Toranaga terminou a tigela e tornou o resto da sopa. Depois disse numa voz inexpressiva: — Você estava correto no que disse sobre o herdeiro.

— Por favor, desculpe-me, tive medo de talvez tê-lo ofendido, sem intenção.

— Você estava certo — por que eu ficaria ofendido? Quando o herdeiro se erguer contra mim, o que você fará?

— Obedecerei às suas ordens.

— Por favor, mande o meu secretário vir aqui e volte com ele.

Sudara obedeceu. Kawanabi, o secretário — um ex-samurai e ex-sacerdote -, que sempre viajava com Toranaga, chegou rapidamente com a sua caixa de papéis de viagem, tintas, carimbos, e pincéis que se ajustavam no seu cesto de sela.

— Senhor?

— Escreva isto: "Eu, Yoshi Toranaga-noh-Minowara, reemposso meu filho Yoshi Sudara-noh-Minowara como meu herdeiro, com todas as suas rendas e títulos restituídos".

Sudara curvou-se. — Obrigado, Pai — disse, a voz firme, mas perguntando a si mesmo: por quê?

— Jure formalmente aceitar todos os meus preceitos, testamentos — e o Legado.

Sudara obedeceu. Toranaga esperou em silêncio até Kawanabi escrever a ordem, depois assinou e tornou-a legal com seu carimbo, um pequeno pedaço quadrado de marfim com seu nome esculpido a uma extremidade. Pressionou-o contra a tinta escarlate quase sólida, depois na base do papel de arroz. A marca saiu perfeita. — Obrigado, Kawanabi-san, ponha a data de ontem. É tudo por enquanto.

— Por favor, desculpe, mas o senhor precisará de mais cinco cópias, para tornar a sua sucessão invioláveclass="underline" uma para o Senhor Sudara, uma para o conselho de regentes, uma para a Casa de Registros, uma para os seus fichários pessoais, e outra para os arquivos.

— Faça-as imediatamente. E dê-me uma cópia extra.

— Sim, senhor. -— O secretário deixou-os. Toranaga olhou para Sudara e estudou o rosto estreito, inexpressivo. Quando fizera o anúncio deliberadamente repentino, Sudara não deixara transparecer nada, nem no rosto nem nas mãos. Nenhum contentamento, gratidão, orgulho — nem mesmo surpresa, e isso o entristeceu. Mas, pensou Toranaga, por que ficar triste, você tem outros filhos que sorriem, riem, cometem erros, gritam, enfurecem-se, "travesseiram" e têm muitas mulheres. Filhos normais. Este filho é para seguir você, para comandar depois que você estiver morto, para manter os Minowara unidos e passar o Kwanto e o poder a outros Minowara. Para ser gelado e calculista, como você. Não, não como eu, disse-se ele com sinceridade. Eu posso rir às vezes, ter compaixão às vezes, e gosto de peidar e "travesseirar", enfurecer-me, dançar, jogar xadrez, representar, e algumas pessoas me alegram, como Naga, Kiri, Chano e o Anjin-san, e gosto de caçar e vencer, vencer, vencer. Nada o alegra, Sudara, sinto muito. Nada. Exceto a sua esposa, a Senhora Genjiko. A Senhora Genjiko é o único elo fraco na sua corrente.

— Senhor? — perguntou Sudara.

— Eu estava tentando me lembrar de quando o vi rir pela última vez.

— Deseja que eu ria, senhor?

Toranaga meneou a cabeça, sabendo que educara Sudara para ser o filho perfeito para aquilo que tinha que ser feito. — Quanto tempo você levaria para se certificar de que Jikkyu está realmente morto?

— Antes de deixar o acampamento, enviei uma mensagem cifrada de alta prioridade para Mishima, para o caso de o senhor já não saber se isso era verdade ou não, Pai. Terei uma resposta dentro de três dias.

Toranaga bendisse os deuses por ter tido conhecimento antecipado da conspiração contra Jikkyu através de Kasigi Mizuno, e a notícia da morte desse inimigo. Por um momento reexaminou seu plano e não conseguiu encontrar falha alguma nele. Então, levemente nauseado, tomou a decisão. — Ordene aos Décimo Primeiro, Décimo Sexto, Nonagésimo Quarto e Nonagésimo Quinto regimentos, em Mishima, que se ponham em alerta imediatamente. Dentro de quatro dias lance-os pela Tokaido.

— Céu Carmesim? — perguntou Sudara, desconcertado. — O senhor vai atacar?

— Sim. Não vou esperar que venham contra mim.

— Então Jikkyu está morto? — Sim.

— Bom — disse Sudara. — Posso sugerir-lhe que acrescente o Vigésimo e o Vigésimo Terceiro?

— Não. Dez mil homens devem ser suficientes — com surpresa. Ainda tenho que defender toda a minha fronteira, para o caso de fracasso, ou de uma armadilha. E também há Zataki a conter.

— Sim — disse Sudara.

— Quem deve comandar o ataque?

— O Senhor Hiromatsu. É uma campanha perfeita para ele. — Por quê?

— É direto, simples, conservador e dá ordens claras, Pai. Será perfeito para essa campanha.

— Mas já não é conveniente como comandante-chefe?

— Sinto muito, Yabu-san tinha razão, as armas de fogo mudaram o mundo. Punho de Aço está ultrapassado agora.

— Quem, então?

— Apenas o senhor. Até depois da batalha, aconselho-o a não ter ninguém entre o senhor e a batalha.

— Considerarei isso — disse Toranaga. — Agora, vá a Mishima. Você preparará tudo. A força de assalto de Hiromatsu terá vinte dias para atravessar o rio Tenryu e garantir a estrada Tokaido.

— Por favor, desculpe-me, permita-me sugerir que o objetivo final deles seja um pouco adiante, o cume do Shiomi. Dê-lhes trinta dias.

— Não. Se eu der essa ordem, alguns homens atingirão o cume. Mas a maioria será morta e não será capaz de desferir o contra-ataque, ou acossar o inimigo enquanto nossas forças se retiram.

— Mas certamente o senhor enviará reforços imediatamente nos calcanhares deles?

— Nosso ataque principal atravessa as montanhas de Zataki. Isto é uma simulação. — Toranaga estava avaliando o filho com todo o cuidado. Mas Sudara não revelou nada, nem surpresa, nem aprovação, nem desaprovação.