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— Kiku-san recuperou a saúde, senhor. Perfeitamente.

— Sim, eu vi. Ela está deliciosa! Desculpe... Yedo certamente é quente e rude no verão. Tem certeza de que ela está bem agora?

— Sim, oh sim, mas ela sentiu saudades do senhor. Devemos acompanhá-lo a Mishima?

— Que outros boatos você ouviu?

— Apenas que Ishido deixou o Castelo de Osaka. Os regentes formalmente declararam o senhor fora da lei — que impertinência, senhor.

— De que modo ele está planejando me atacar?

— Não sei, senhor — disse ela cautelosamente. — Mas imagino que seja um ataque bifurcado, ao longo da Tokaido com Ikawa Hikoju, partindo de Shinano, já que o Senhor Zataki tola mente se aliou ao Senhor Ishido contra o senhor. Mas atrás das suas montanhas o senhor está seguro. Oh, sim, estou certa de que o senhor viverá até uma idade bem avançada. Com a sua permissão, senhor, vou transferir todos os meus negócios para Yedo.

— Certamente. Enquanto isso, veja se consegue descobrir onde será a investida principal.

— Tentarei, oh, sim, senhor. Estes são tempos terríveis, senhor, quando irmão vai contra irmão, filho contra pai.

De olhos velados, Toranaga anotou mentalmente para aumentar a vigilância sobre Noboru, seu filho mais velho, cuja fidelidade última era para com o táicum. — Sim — concordou. — Tempos terríveis. Tempos de grandes mudanças. Algumas más, outras boas. Você, por exemplo, está rica agora, e o seu filho, por exemplo. Ele não está encarregado da sua fábrica de saquê em Odawara?

— Sim, senhor. — Gyoko ficou cinza por baixo da maquilagem.

— Tem tido grandes lucros, neh?

— Ele com certeza é o melhor administrador de Odawara, senhor.

— Assim ouvi dizer. Tenho um serviço para ele. O Anjin-san vai construir um novo navio. Estou providenciando todos os artesãos e materiais, por isso quero o lado comercial tratado com o maior cuidado.

Gyoko quase desmaiou de alívio. Presumira que Toranaga ia destruí-los a todos antes de partir para a guerra, ou taxá-la de modo exorbitante, porque descobrira que ela mentira sobre o Anjin-san e a Senhora Toda, ou sobre o infeliz aborto de Kiku, que não fora por acaso, como ela relatara tão lacrimosamente um mês atrás, mas por cuidadosa indução, por insistência, junto com a submissa anuência de Kiku. — Oh ko, senhor, quando quer meu filho em Yokohama? Ele garantirá que seja o navio mais barato jamais construido.

— Não o quero barato. Quero que seja o melhor — pelo preço mais razoável. Ele será supervisor e responsável, subordinado ao Anjin-san.

— Senhor, tem a minha garantia, o meu futuro, as minhas esperanças de futuro, de que será como o senhor deseja.

— Se o navio for construido perfeitamente, exatamente como o Anjin-san quer, dentro de seis meses a contar do primeiro dia, farei seu filho samurai.

Ela se curvou profundamente e por um momento não conseguiu falar. — Por favor, perdoe uma pobre imbecil, senhor. Obrigada, obrigada.

— Ele tem que aprender tudo o que o Anjin-san sabe sobre a construção do navio, de modo que se possam construir outros depois que ele parta. Neh?

— Será feito.

— Depois: Kiku-san. Os seus talentos merecem um futuro melhor do que apenas estar sozinha numa caixa, uma dentre muitas mulheres.

Gyoko levantou os olhos, novamente esperando pelo pior. — Vai vender o contrato dela, senhor?

— Não, ela não deveria ser cortesã novamente, ou mesmo uma das suas gueixas. Deveria estar numa família, uma senhora dentre poucas, muito poucas.

— Mas, senhor, se ela o vir, ainda que ocasionalmente, como poderia ter uma vida melhor em outro lugar?

Ele permitiu que ela o cumprimentasse, retribuiu, estendendo o cumprimento a Kiku, e disse: — Francamente, Gyoko-san, estou gostando demais dela e não posso me permitir ser distraído. Francamente ela é bonita demais para mim ... perfeita demais ... Por favor, desculpe-me, mas este deve ser outro dos nossos segredos.

— Concordo, senhor, claro, tudo o que desejar — disse Gyoko fervorosamente, ignorando tudo o que fora dito como mentiras, quebrando a cabeça à procura da verdadeira razão. -— Se a pessoa pudesse ser alguém que Kiku pudesse admirar, eu morreria contente.

— Mas somente depois de ver o navio do Anjin-san navegando, no prazo de seis meses — disse ele secamente.

— Sim ... oh, sim. — Gyoko moveu o leque, pois o sol estava quente agora, o ar úmido e abafado, tentando sondar por que Toranaga estava sendo generoso com elas duas, sabendo que o preço seria pesado, muito pesado. — Kiku-san ficará muito perturbada por deixar a sua casa.

— Sim, naturalmente. Acho que deveria haver alguma compensação pela obediência dela a mim, seu suserano. Deixe isso comigo, e por enquanto não toque no assunto com ela.

— Sim, senhor. E quando deseja que meu filho esteja em Yokohama?

— Você será informada antes de eu partir.

Ela se curvou e se afastou a trote. Toranaga foi nadar um pouco. Ao norte o céu estava muito escuro, e ele sabia que devia estar chovendo pesadamente lá.. Quando viu o pequeno grupo de cavaleiros vindo da direção de Yokohama, retornou.

Omi desmontou e desembrulhou a cabeça. — O Senhor Kasigi Yabu obedeceu, senhor, pouco antes do meio-dia. — A cabeça fora recentemente lavada, o cabelo penteado, e estava espetada na ponta de um pequeno pedestal, utilizado normalmente para esse exame.

Toranaga inspecionou um inimigo como já fizera dez mil vezes na vida, perguntando-se, como sempre, como se pareceria a sua própria cabeça depois da morte, examinada pelo seu conquistador, e se demonstraria terror, agonia, raiva, horror, ou tudo isso junto ou nada disso. Ou dignidade. A máscara de morte de Yabu mostrava somente uma cólera frenética, os lábios repuxados para trás num desafio feroz. — Ele morreu bem?

— O melhor que já vi, senhor. O Senhor Hiromatsu disse o mesmo. Os dois cortes, depois um terceiro na garganta. Sem auxílio e sem ruído — acrescentou Omi. — Aqui está o seu testamento.

— Você decepou a cabeça com um único golpe?

— Sim, senhor. Pedi permissão ao Anjin-san para usar a espada do Senhor Yabu.

— A Yoshitomo? A que eu dei a Yabu? Ele a deu ao Anjin-san?

— Sim, senhor. Eles conversaram por intermédio do Tsukku-san. Ele disse: "Anjin-san, dou-lhe isto para celebrar a sua chegada a Anjiro e como um agradecimento pelo prazer que o pequeno bárbaro me deu". Inicialmente o Anjin-san se recusou a aceitá-la, mas Yabu rogou-lhe que o fizesse e disse: "Nenhum destes comedores de esterco merece uma lâmina assim". O Anjin-san acabou concordando.

Curioso, pensou Toranaga. Eu esperava que Yabu desse a lâmina a Omi.

— Quais foram suas últimas instruções? — perguntou.

Orni contou-lhe. Exatamente. Se não estivessem todas escritas no testamento, que fora dado publicamente à testemunha formal, Buntaro, Omi não as teria comunicado todas e, na reali dade, teria inventado outras. Yabu tinha razão, pensou ele, furioso, lembrando-se de que devia ter sempre em mente que o pincel de escrita era um braço que se alongava da sepultura.

— Para honrar a bravura da morte do seu tio, devo respeitar-lhe os desejos de morte. Todos eles, sem alteração, neh? — disse Toranaga, testando-o.

— Sim, senhor. — Yuki!

— Sim, senhor — disse a criada. — Traga chá, por favor.

Ela saiu correndo, e Toranaga deixou a mente ponderar sobre as últimas vontades de Yabu. Eram todas muito sábias. Mizuno era um imbecil e totalmente no caminho de Omi. A mãe era uma megera velha, irritante e untuosa, também no caminho de Omi. — Muito bem, desde que você concorde, estão confirmadas. Todas elas. E também desejo aprovar os desejos de morte de seu pai antes de se tornarem finais. Como recompensa pela sua devoção, designo-o comandante do Regimento de Mosquetes.

— Obrigado, senhor, mas não mereço essa honra — disse Omi exultante.

— Naga será o segundo em comando. Depois: você fica nomeado cabeça dos Kasigi e o seu novo feudo serão as terras fronteiriças a Izu, de Atami, a leste, a Nimazu, a oeste, incluindo a capital, Mishima, com a renda anual de trinta mil kokus.