Toranaga subiu a elevação perto do acampamento, sua comitiva agrupada ao seu redor. Trazia Kogo sobre a luva, havia caçado ao longo da costa e agora se dirigia para as colinas acima da aldeia. Ainda restavam duas horas de sol e ele não queria desperdiçá-las, não sabendo quando teria tempo para caçar outra vez. Hoje foi para mim, pensou ele. Amanhã irei à guerra, mas hoje foi para pôr a minha casa em ordem, fingindo que o Kwanto estava seguro e Izu estava seguro, e a minha sucessão — que viverei para ver outro inverno e, na primavera, caçar por lazer. Ah, hoje foi muito bom.
Matara duas vezes com Tetsu-ko e a ave voara como num sonho, nunca estivera tão perfeita nem mesmo quando caçara com Naga, perto de Anjiro — aquele belo mergulho, de não se esque cer nunca, para pegar aquele astuto galo velho. Hoje ela pegara um grou com várias vezes o seu tamanho e voltara à isca perfeitamente. Um faisão fora apontado pelos cães e ele lançara o falcão para a posição circulante no ar. Depois o faisão fora abalado e o eleva-se, sobe e cai começara, para durar para sempre, um abate lindo. Novamente Tetsu-ko voltara à isca e se alimentara sobre o punho orgulhosamente.
Agora ele estava à procura de uma lebre. Ocorrera-lhe que o Anjin-san gostaria de carne. Assim, em vez de dar o dia por encerrado, satisfeito, Toranaga decidira caçar comida. Apertou o passo, não querendo falhar.
Seus batedores à dianteira passaram pelo acampamento, subiram a estrada coleante até o cume, e ele se sentia extremamente contente com o dia que tivera.
Seu olhar crítico varreu Q acampamento, procurando perigos, e não descobriu nenhum. Pôde ver homens em treinamento de armas — todo o treinamento e tiroteio do regimento estava proi bido enquanto Tsukku-san se encontrasse por perto -, e isso lhe agradou. A um lado, cintilando ao sol, estavam os vinte canhões que haviam sido salvos com tanto cuidado, e ele notou que Blackthorne estava sentado de pernas cruzadas no chão ali perto, concentrado sobre uma mesa baixa, sentado, agora, como qualquer pessoa normal se sentaria. Adiante via os restos do navio, notou que ainda não saíra do lugar, e perguntou-se como o Anjin-san o traria para a praia, se não pudesse ser puxado.
Porque, Anjin-san, você o trará para a praia, disse-se Toranaga, com toda a certeza.
Oh, sim. E construirá o seu navio e eu o destruirei como destruí o outro, ou o entregarei, outro bocado para os cristãos, que são mais importantes para mim do que os seus navios, meu amigo, sinto muito, e do que os outros navios esperando no seu país. Seus compatriotas os trarão para mim, e o tratado com a sua rainha. Não você. Preciso de você aqui.
Quando o momento for oportuno, Anjin-san, eu lhe contarei por que tive que queimar o seu navio, e então você não se importará, porque outras coisas o estarão ocupando, e compreenderá que o que eu lhe disse era verdade igualmente: era o seu navio ou a sua vida. Escolhi a sua vida. Foi correto, neh? Então riremos sobre o "ato de Deus", você e eu. Oh, foi fácil designar um turno especial de homens de confiança a bordo, com instruções secretas de espalhar pólvora com abundância na noite escolhida, depois de dizer a Naga — no momento em que Omi sussurrara sobre a conspiração de Yabu — que refizesse a escalação, de modo que a patrulha da praia e o vigia de convés fossem apenas homens de Izu, particularmente os cinqüenta e três traidores. Depois um único ninfa saído da escuridão com uma pederneira e o seu navio se tornou uma tocha. Claro que nem Omi nem Naga jamais estiveram a par da sabotagem.
Sinto muito, mas foi muito necessário, Anjin-san. Salvei-lhe a vida, que você desejava acima do seu navio. Cinqüenta vezes ou mais já tive que considerar a possibilidade de entregar a sua vida, mas até o momento consegui dar um jeito de evitar isso. Espero continuar a fazê-lo. Por quê? Este é um dia para verdade, neh? A resposta é que você me faz rir e eu preciso de um amigo. Não me atrevo a fazer amigos entre a minha própria gente, ou entre os portugueses. Sim, cochicharei isso num poço ao meio dia, mas só quando tiver certeza de estar sozinho: preciso ele run amigo. E também do seu conhecimento. Mariko-sarna estava certa de novo. Antes de você partir, quero saber tudo o que você sabe. Eu lhe disse que nós dois tínhamos muito tempo, você e eu.
Quero saber como navegar em torno da terra e compreender como uma pequena ilha pode derrotar um império imenso. Talvez a resposta se aplicasse a nós e à China, neh? Oh, sim, o táicum estava certo ein algumas coisas.
Na primeira vez que o vi, eu disse: — Não há desculpa para rebelião. — E você disse: — Há uma: se se vence! — Ah, Anjin-san, afeiçoei-me a você naquele momento. Concordo. Está tudo certo se se vence.
Estupidez fracassar. Imperdoável.
Você não fracassará, e estará seguro e feliz no seu grande feudo de Anjiro, onde Mura, o pescador, o protegerá dos cristãos e continuará a lhes fornecer informações falsas, conforme eu de termine. Que ingenuidade do Tsukku-san acreditar que algum dos meus homens, ainda que cristão, roubaria os seus portulanos e os daria secretamente aos padres sem o meu conhecimento ou a minha orientação. Ah, Mura, você tem sido fiel há trinta anos ou mais, logo receberá a sua recompensa! O que diriam os padres se soubessem que o seu verdadeiro nome é Akira Tonomoto, samurai — espião sob a minha orientação, assim como pescador, chefe de aldeia e cristão! Eles peidariam pó, neh?
Por isso não se preocupe, Anjin-san, eu estou me preocupando quanto ao seu futuro. Está em boas e fortes mãos e. ah, que futuro planejei para você!
— Devo ser consorte do bárbaro? oh! oh! oh! — gemera Kiku.
— Sim, dentro de um mês. Fujiko-san formalmente concordou. — Mais uma vez contara a verdade a Kiku e a Gyoko, pacientemente. — E mil kokus por ano após o nascimento do primeiro filho do Anjin-san.
-— Hein, mil... o que o senhor disse?
Ele repetira a promessa e acrescentara suavemente: — Afinal de contas, samurai é samurai, e duas espadas são duas espadas, e os filhos dele serão samurais. Ele é hatamoto, um dos meus vassalos mais importantes, almirante de todos os meus navios, um conselheiro pessoal íntimo — até um amigo. Neh?
— Sinto muito, mas, senhor...
— Primeiro você será consorte dele. — Desculpe, primeiro senhor?
— Talvez você devesse ser sua esposa. Fujiko-san disse-me que não deseja se casar, nunca mais, mas acho que ele deve se casar. Por que não com você? Se você lhe agradar o suficiente, e imagino que possa, e ainda, se o mantiver construindo o navio... neh? Sim, acho que você deve ser esposa dele.
— Oh sim, oh sim, oh sim! — Ela atirara os braços em torno do pescoço dele e o abençoara e pedira desculpas pela impulsiva falta de modos, interrompendo e não ouvindo com submis são, e o deixara, caminhando quatro passos acima do solo, quando um momento atrás estivera prestes a se atirar do penhasco mais próximo.
Ah, mulheres, pensou Toranaga, confuso e muito contente. Agora ela tem tudo o que deseja, assim como Gyoko — se o navio for construído em tempo, e será -, assim como os padres, assim como ...
— Senhor! -— Um dos caçadores estava apontando para uma moita ao lado da estrada. Ele freou e preparou Kogo, afrouxando os pioses que prendiam a ave ao seu punho, — Já — ordenou ele suavemente. Soltaram o cão.