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— Nosso negócio é saber, Jeff. O navio pode representar uma competição injusta. Se navegar como Dirk pensa que navegará, talvez nós o compremos, tirando-o de seu controle. Ou podemos construir quatro outros parecidos.

— Vai ser algo diferente para os ingleses, comprarem navios americanos — disse Cooper, tenso.

— Ah, não vamos comprar, Jeff — disse Struan. — Já temos uma cópia do projeto. Construiremos onde sempre construímos. Em Glasgow. Se eu fosse você, daria aos mastros um caimento de mais um ponto, aumentaria o cordame e acrescentaria mastaréus de sobrejoanete ao mastro principal e à vela. Como é que vai batizá-lo?

Independence.

— Então vamos chamar o nosso de Independent Cloud. Se o seu for digno disso.

— Vamos tirar vocês do mar. Já os derrotamos duas vezes na guerra, e agora vamos derrotar onde realmente dói. Vamos tomar seu comércio.

— Vocês não têm a mínima chance. — Struan notou que Tillman se afastava. Abruptamente, sua voz se endureceu. — E muito menos quando metade de seu país se baseia na escravidão.

— Isso vai mudar, no devido tempo. Foram os ingleses que começaram.

— Foi a ralé quem começou!

Sim, e os loucos continuam com isso, pensou Cooper, amargamente, lembrando-se das brigas particulares violentas que estava sempre tendo com seu sócio, que tinha escravos para a lavoura e fazia o tráfico negreiro. Como poderia Wilf ser tão cego?

— Vocês traficavam há cerca de oito anos.

— Struan jamais transportou carga humana, por Deus. E, em nome de Cristo, eu vou explodir qualquer navio que pegar fazendo isso. Dentro ou fora de águas britânicas. Fomos os pioneiros no mundo. A escravidão proibida. Pelo amor de Deus, demorou até 1833 para se conseguir isso, mas foi conseguido. Qualquer navio, lembre-se!

— Então faça outra coisa. Use sua influência para nos deixar comprar ópio da maldita Companhia das Índias Orientais. Por que todos, com exceção dos comerciantes ingleses, seriam totalmente excluídos dos leilões, hein? Por que devemos ser forçados a comprar ópio turco de má qualidade, quando há mais do que suficiente em Bengala para todos nós?

— Fiz mais do que podia para destruir a Companhia, como você sabe muito bem. Gaste algum dinheiro, rapaz. Jogue um pouco. Agite, em Washington. Pressione o irmão do seu sócio. Ele não é senador por Alabama? Ou será que está ocupado demais tomando conta de quatro malditos navios de tráfico de escravos e alguns “mercados” em Mobile?

— Você sabe minha opinião a respeito disso, por Deus — disse Cooper. — Abram os leilões de ópio e vamos derrotar vocês no comércio, no mundo inteiro. Acho que estão com medo de competir livremente, a verdade é essa. Por que motivo manter em vigor os Decretos de Navegação? Por que fazer uma lei dizendo que só navios ingleses podem levar mercadorias para a Inglaterra? Com que direito monopolizam o maior mercado consumidor do mundo?

— Não é por direito divino, rapaz — disse Struan asperamente — embora ele, segundo parece, esteja sempre presente no pensamento americano e em sua política externa.

— Em algumas coisas estamos certos e vocês errados. Vamos competir livremente. Malditas tarifas! Comércio livre e mares livres... isto é que está certo!

— Struan concorda com você, nesse ponto. Não lê os jornais? Não me incomodo de lhe dizer que compramos dez mil votos por ano para apoiar seis parlamentares dispostos a votar a favor da liberdade de comércio. Estamos fazendo um grande esforço.

— Um voto, um homem. Não compramos votos.

— Vocês têm seu sistema, e nós o nosso. E vou lhe dizer mais uma coisa. Os ingleses não eram a favor das guerras americanas, nenhuma das duas. Nem a favor daqueles malditos reis hanoverianos. Vocês não ganharam as guerras, nós as perdemos. Felizmente. Por que iríamos guerrear amigos e parentes? Mas se a gente das Ilhas decidir um dia fazer guerra aos Estados Unidos, cuidado, por Deus. Porque vocês estarão liquidados.

— Acho que está na hora de fazer um brinde — disse Robb. Os dois homens arrancaram os olhos um do outro e o fitaram. Para espanto de ambos, ele encheu três copos.

— Você não vai beber, Robb — disse Struan, tendo na voz uma violência de chicote.

— Vou. Pela primeira vez em Hong Kong. A última vez. Robb entregou-lhes os copos. O uísque era marrom-dourado e destilado exclusivamente para a Casa Nobre em Loch Tannoch, onde eles tinham nascido. Robb precisava da bebida; um barril inteiro.

— Você fez um juramento sagrado!

— Eu sei. Mas traz má sorte brindar com água. E este brinde é importante. — A mão de Robb tremia, quando ele ergueu seu copo. — Ao nosso futuro. Ao Independence e ao Independent Cloud. À liberdade nos mares. À liberdade, contra todos os tiranos.

Ele tomou um gole e conservou a bebida, sentindo-a arder, com o corpo torcendose de necessidade dela. Depois cuspiu-a e despejou o que restava nas pedrinhas da praia.

— Se eu tornar a fazer isso, arranque o copo de minha mão com um soco. — Ele se virou, nauseado, e caminhou em direção à terra.

— Eu não teria força para tanto — disse Cooper.

— Robb é louco, de tentar o Demônio desse jeito — disse Struan.

Robb começara a beber até à loucura há seis anos. No ano anterior, Sarah viera a Macau, da Escócia, com seus filhos. Durante algum tempo, tudo fora ótimo, mas depois ela descobrira a respeito da amante chinesa que Robb tinha há anos, Ming Soo, e sobre a filha dos dois. Struan lembrou-se da raiva de Sarah e da angústia de Robb, e ficou triste por ambos. Eles deveriam ter-se divorciado há anos, ele pensou, e amaldiçoou o fato de que o divórcio só poderia ser obtido através de um decreto parlamentar. Afinal, Sarah concordou em perdoar Robb, mas só se ele jurasse por Deus livrar-se imediatamente de sua adorada amante e da filha de ambos. Odiando a si próprio, Robb concordara. Dera secretamente a Ming Soo quatro mil taéis de prata e ela e a filha partiram de Macau. Ele jamais tornara a vê-las, e nem ouvira novamente falar delas. Mas, embora Sarah cedesse, jamais esquecera a bela moça e a menina, e continuou a atirar sal na ferida aberta para sempre. Robb começou a beber muito. Logo a bebida dominara-o, e ele ficara embrutecido por meses a fio. Então, certo dia, desapareceu. Afinal, Struan encontrara-o, num dos fedorentos botequins de Macau, carregara-o para casa e lhe curara a bebedeira; depois, dera-lhe uma arma.

— Atire em si próprio, ou jure por Deus que não tocará em bebida outra vez. É veneno para você, Robb. Você esteve bêbado por quase um ano. Você tem de pensar em seus filhos. As pobres crianças estão aterrorizadas com você e têm razão; e eu estou cansado de tirar você da sarjeta. Olhe para você mesmo, Robb! Vá!

Struan forçou-o a se olhar num espelho. Robb jurara, e então Struan mandara-o para o mar, durante um mês, com ordem de que não lhe dessem nenhuma bebida. Robb quase morrera. Depois de algum tempo, voltara a ser o que era, e agradecera ao irmão, tornando então a viver com Sarah, após fazer as pazes. Mas jamais houvera paz outra vez entre eles — e nem amor. Pobre Robb, pensou Struan. Sim, e pobre Sarah. É terrível marido e mulher viverem assim.

— Por que diabo Robb fez isso?

— Acho que ele queria impedir uma briga — disse Cooper. — Eu estava começando a ficar zangado. Desculpe.

— Não peça desculpas, Jeff. Foi minha culpa. Bom — acrescentou Struan — não vamos desperdiçar a coragem de Robb, hein? E nem o brinde que ele fez.

Beberam, silenciosamente. Em torno, pela praia inteira, negociantes e marinheiros divertiam-se ruidosamente.

— Ei, Tai-Pan! E você, maldito colono! Cheguem aqui! Era Quance, sentado perto do mastro da bandeira. Ele acenou para ambos e gritou de novo.

— Diabo, venham cá!

Tomou uma pitada de rapé, espirrou duas vezes e tirou o pó, com impaciência, de cima de sua roupa, usando um lenço de renda francesa.