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— Você me dá grande prestígio, Tai-Pan. Grande prestígio. Vinte mil taéis pelo remédio para a cura... Ayeee yah, valho para você tanto quanto uma imperatriz.

— Gordon lhe contou?

— Não. Eu estava escutando, à porta. Claro! Acha que sua velha mãe gosta de não saber o que o médico diz e o que você diz, hein? — ela deu uma olhada para a porta.

Struan virou-se e viu uma linda jovem curvando-se, graciosamente. Seu cabelo estava enrolado num espesso coque escuro no alto de sua bela cabeça, e enfeitado com ornamentos de jade e flores. Seu rosto em forma de amêndoa era como o mais puro alabastro.

— Essa é Yin-hsi — disse May-may. — Ela é minha irmã.

— Não sabia que você tinha irmã, garota. Ela é muito bonita.

— Sim, mas... bom, ela não é realmente irmã, Tai-Pan. As senhoras chinesas muitas vezes chamam umas às outras de “irmã”. É cortesia. Yin-hsi é seu presente de aniversário.

— O quê?

— Eu a comprei para seu aniversário.

— Você está fora de si?

— Ah, Tai-Pan, você é muito exasperante, algumas vezes demais! — disse May-may, começando a chorar. — Seu aniversário é daqui a quatro meses. Nessa ocasião, eu estarei com a barriga enorme, então mandei procurar uma “irmã”. Foi difícil decidir a melhor escolha. Ela é a melhor e agora, como estou doente, dou logo o presente, não vou esperar. Não gosta dela?

— Bom Deus, garota! Não chore, May-may. Escute. Não chore... Claro que gosto de sua irmã. Mas não se faz isso, comprar moças como presente de aniversário, pelo amor de Deus!

— Por que não?

— Ora, porque não!

— Ela é muito boazinha... quero que seja minha irmã. Eu ia ensinar a ela, durante esses quatro meses, mas agora... — Começou a soluçar, outra vez.

Yin-hsi veio correndo da porta, e se ajoelhou diante de May-may, segurando-lhe a mão e lhe enxugando as lágrimas, com solicitude, além de ajudá-la a beber um pouco de chá. May-may avisara-a de que os bárbaros são, algumas vezes, estranhos e mostram sua felicidade gritando e praguejando, portanto não deveria preocupar-se.

— Veja, Tai-Pan, como ela é bonita! — disse May-may. — Claro que gosta dela, não?

— Isso não vem ao caso, May-may. Claro que gosto dela.

— Então, está tudo decidido. — May-may fechou os olhos e tornou a se aninhar nos travesseiros.

— Não está decidido.

Ela reuniu forças para uma repreensão final.

— Está sim, e não vou mais discutir com você, por Deus! Peguei muito dinheiro por ela e ela é a melhor e não posso mandá-la embora, porque perderia todo prestígio e teria de se enforcar.

— Não seja ridícula!

— Juro a você que ela se enforca, Tai-Pan. Todos sabem que eu estava procurando uma nova irmã para mim e para você e, se você a mandar embora, o prestígio dela acaba. Acaba de vez. Ela vai se enforcar, pode ter certeza!

— Não chore, garota, por favor.

— Mas você não gostou de meu presente de aniversário.

— Gosto dela, e você não precisa mandá-la embora — ele disse, depressa; faria qualquer coisa para impedir suas lágrimas. — Diga a ela que fique. Ela será... uma irmã para você e, quando você estiver boa nós... nós encontraremos um bom marido para ela. Hein? Não há necessidade de chorar. Vamos, garota, pare com essas lágrimas.

Afinal, May-may parou de chorar e ficou outra vez deitada de costas. Sua irritação tira-lhe muito de sua preciosa energia. Mas valeu a pena, exultou. Agora, Yin-hsi ficará. Se eu morrer, ele estará em boas mãos. Se eu viver, ela será minha irmã, e a segunda irmã da casa, pois claro que ele a quererá. Claro que ele a quererá, ela disse a si mesma, enquanto adormecia. Ela é tão bonita.

Ah Sam entrou.

— Patrão. O patrãozinho está aí fora. Pode encontrar com ele?

Struan estava alarmado com a terrível palidez de May-may.

— Chame o médico depressa, entendido?

— Entendido, patrão.

Struan, desanimado, saiu do quarto. Ah Sam fechou a porta, e se ajoelhou ao lado da cama, dizendo a Yin-hsi:

— Segunda Mãe, eu preciso mudar a roupa da Suprema Senhora, antes do médico chegar.

— Sim. Eu vou ajudá-la, Ah Sam — disse Yin-hsi. — Papai certamente é um estranho gigante. Se a Suprema Senhora e você não me tivessem avisado, eu ficaria muito assustada.

— Papai é muito bom. Para um bárbaro. Claro, a Suprema Senhora e eu temos treinado Papai — Ah Sam franziu a testa, diante de May-may, que estava profundamente adormecida. — Ela parece realmente muito mal.

— Sim. Mas meu astrólogo previu boas notícias, de modo que devemos ser pacientes.

— Olá, Culum — disse Struan, ao entrar no belo jardim da frente, cercado por muros.

— Olá, Tai-Pan. Espero que não se incomode por eu vir aqui. — Culum ergueu-se do banco à sombra do salgueiro e tirou uma carta. — Acaba de chegar e... bom, em vez de mandar Lo Chum, achei que gostaria de ver como você estava. E saber como ela está.

Struan pegou a carta. Tinha uma anotação “Pessoal, Particular e Urgente” — e vinha de Morely Skinner.

— Perdeu a criança anteontem — disse ele.

— Terrível! — disse Culum. — A cinchona veio?

Struan abanou a cabeça.

— Sente-se, rapaz. — Abriu a carta.

Morely Skinner escrevia que pretendia reter a notícia sobre o “repúdio” até Struan voltar — achava perigoso liberá-la em sua ausência — mas agora era imperativo publicar

o relatório, imediatamente: “Uma fragata inglesa chegou hoje de manhã. Meu informante, na nau capitania, disse que o almirante ficou deliciado com o despacho particular do almirantado que recebeu, e alguém o ouviu dizer: ‘Está mesmo na hora, diabo! Com sorte, estaremos no norte dentro de um mês.’ Isto só pode significar que ele também sabe da notícia e a chegada de Whalen é iminente. Não posso enfatizar o suficiente a necessidade de sua volta. A propósito, ouvi dizer que há uma curiosa cláusula adicional no acordo entre Longstaff e Ching-so sobre o resgate de Cantão. Finalmente espero que tenha podido provar, de uma maneira ou de outra, o valor da casca da árvore cinchona. Lamento que, pelo que sei, não haja nenhuma por aqui. Sou, senhor, o seu mais humilde criado, Morely Skinner.”

May-may não resistirá a outro acesso de febre, pensou Struan, angustiado. Esta é a verdade, e você precisa encará-la. Amanhã, estará morta — a não ser que chegue a cinchona. E quem sabe se realmente irá curá-la?

Se ela morrer, você precisa salvar Hong Kong. Se ela viver, você precisa salvar Hong Kong. Mas, por quê? Por que não deixar aquela maldita ilha como era antes? Você pode estar errado — Hong Kong pode não ser necessária à Inglaterra. O que você prova, com sua louca cruzada para abrir a China e trazê-la para o mundo em seus termos, à sua maneira? Deixe a China ao seu próprio pagode e volte para seu país. Com May-may, se ela viver. E deixe Culum encontrar seu próprio valor como Tai-Pan. Um dia, você morrerá, e então a Casa Nobre encontrará seu próprio valor. Esta é a lei — a lei de Deus, a lei da natureza, e a lei do pagode.

Vá para a Inglaterra, e goze aquilo por que você suou e se sacrificou. Libere Culum de sua servidão de cinco anos; há mais do que suficiente para sustentar você, ele e os filhos de seus filhos. Deixe Culum decidir se quer ficar ou não. Vá para a Inglaterra e esqueça. Você é rico e poderoso e poderá freqüentar as cortes dos reis, se quiser. Sim. Você é o Tai-Pan. Parta como o Tai-Pan e a China que vá para o inferno. Desista da China. Ela é uma amante-vampiro.

— Mais notícias ruins?

— Ah, desculpe, Culum, esqueci de você. O que disse?

— Mais notícias ruins?

— Não, mas são importantes.

Struan notou que os últimos sete dias haviam marcado Culum. Não há mais traços juvenis em seu rosto, rapaz. Você é um homem. Então, lembrou-se de Gorth e pensou que não poderia sair da Ásia sem um ajuste de contas — com Gorth e com Brock.