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O navio, Thunder Cloud, saiu velozmente do canal e, agora que tinha o caminho livre, corria adiante do vento, ganhando rapidez.

Struan colocou diante dos olhos o curto óculo de alcance e focalizou as bandeiras de código que procurava. A mensagem dizia: “Crise não resolvida. Novo tratado com o Império Otomano contra a França. Conversa sobre guerra”. Depois, Struan examinou o navio; sua pintura estava boa, a cordame retesado, os canhões em seus lugares. E, num canto de sua vela dianteira, havia um pequeno remendo negro, sinal de código, usado apenas em emergências e cujo significado era: “Importantes despachos a bordo.”

Ele baixou o binóculo e ofereceu-o a Cooper.

— Quer emprestado?

— Obrigado.

— É chamado bi-óculo, ou binóculo Dois olhos. Você focaliza com a rosca central — disse Struan. — Mandei fazer especialmente.

Cooper espiou através do binóculo e viu as bandeiras de código. Ele sabia que todos na armada estavam tentando ler a mensagem e todas as companhias gastavam muito tempo e dinheiro tentando decifrar o código da Casa Nobre. O binóculo era mais poderoso do que um telescópio.

— Onde posso conseguir doze dúzias disso?

— Cem guinéus por peça. Um ano para entregar.

É pegar ou largar, pensou Cooper, amargamente, conhecendo aquela entonação de voz.

— Fechado.

Novas bandeiras de código foram erguidas e Cooper devolveu o binóculo. A segunda mensagem era uma única palavra, “Zenith”, um código dentro do código principal.

— Se eu fosse você — disse Struan a Cooper — eu descarregaria o meu algodão da temporada. Depressa.

— Por quê? Struan deu de ombros.

— Só estou tentando ser útil. Com licença.

Cooper observou-o, enquanto se afastava para interceptar Robb, que se aproximava com o mestre. O que haverá naquelas malditas bandeiras? — perguntou a si mesmo. E o que ele queria dizer com relação ao nosso algodão? E por que diabo não chegou o naviocorreio?

Era isso que tornava o comércio tão excitante. Comprava-se e se vendia para um mercado quatro meses antecipado, sabendo apenas a posição deste mercado quatro meses antes. Qualquer erro representava a ameaça de prisão por dívida. Um jogo calculado que, se perdido, resultava na aposentadoria e partida para sempre do Oriente. Sentiu uma dor de barriga. Uma dor do Oriente, que o acompanhava sempre — e à maioria deles — e também um estilo de vida. Teria sido uma informação amistosa do Tai-Pan ou uma manobra calculada?

***

O Capitão Glessing, acompanhado de Horatio, estava observando o Thunder Cloud com inveja. E também com impaciência. Era um prêmio que valia a pena conquistar, e o primeiro navio do ano a fazer a viagem da Inglaterra a Calcutá, com certeza com os porões cheios de ópio. Glessing ficou imaginando qual seria o significado das bandeiras. E por que havia um remendo negro na vela da frente.

— Belo navio — disse Horatio.

— Sim, é mesmo.

— Mesmo sendo pirata? — Horatio perguntou, ironicamente.

— A carga e os proprietários é que fazem com que seja pirata. Mas um navio é um navio, e este é um dos mais belos que já serviram ao homem — respondeu Glessing secamente, aborrecido com a brincadeira de Horatio. — Falando de coisas belas — disse ele, tentando não ser óbvio — será que você e a Srta. Sinclair aceitariam cear comigo esta noite? Gostaria de lhes mostrar o meu navio.

— É muita gentileza, George. Sim, aceito. E imagino que Mary ficará encantada. Ela nunca visitou uma fragata. Talvez esta noite, disse Glessing a si mesmo, surja uma oportunidade para descobrir o que Mary sente a meu respeito.

— Mandarei uma chalupa buscá-los. Estará bem às três badaladas do sino... o último toque de três?

— É melhor às oito badaladas — disse Horatio, despreocupadamente, só para mostrar que sabia que às três badaladas seu relógio marcaria sete e meia, mas as oito horas seriam assinaladas por oito badaladas.

— Muito bem — disse Glessing. — A Srta. Sinclair será a primeira dama que vou receber a bordo.

Meu Deus, pensou Horatio, será que Glessing teria por Mary mais do que um interesse passageiro? Claro! O convite era realmente para ela, não para mim. Que coragem! Idiota enfarpelado! Pensar que Mary chegaria a considerar uma união dessas. Ou que eu permitiria que ela se casasse agora.

Um mosquete bateu ruidosamente nas pedras e eles deram uma olhadela em torno. Um dos fuzileiros desmaiara e estava caído na praia.

— Que diabo ele tem? — perguntou Glessing. O mestre-d’armas virou o jovem fuzileiro.

— Não sei, senhorrr. É o Norden, senhorrr. Há semanas que ele está se comportando de uma maneira esquisita. Talvez tenha a febre.

— Bom, deixe-o onde está. Reúna os marinheiros e fuzileiros ... aos botes! Quando todos estiverem a bordo, volte para pegá-lo.

— Sim, senhorrr. — O mestre-d’armas pegou o mosquete de Norden e o atirou para outro fuzileiro, fazendo em seguida os homens se afastarem, marchando.

Quando já era seguro mover-se, Norden — que tinha apenas fingido desmaiar — esgueirou-se e procurou abrigo sob alguns rochedos, escondendo-se. Oh, Cristo, protegeime, até eu poder chegar ao Tai-Pan, ele rezava, desesperadamente. Jamais terei uma oportunidade como esta, outra vez. Protegei-me, ó Jesus abençoado, e ajudai-me a encontrá-lo antes que voltem à minha busca.

***

Brock estava em pé no tombadilho de seu navio, com o telescópio dirigido para as bandeiras. Ele decifrara o código de Struan há seis meses e entendeu a primeira mensagem. Agora, o que queria dizer aquele “Zenith”? Qual o significado? — perguntou a si mesmo. E o que haveria de tão importante com relação ao tratado otomano, a ponto de Struan se arriscar a ver a notícia dada assim abertamente, mesmo em código, em vez de em segredo, quando se encontrasse a bordo? Talvez saibam que decifrei o código. Talvez queiram que eu entenda, e “Zenith” signifique, para eles, que a mensagem é falsa. Crise e guerra significam que o preço do chá e da seda vai aumentar. E do algodão. É melhor comprar muito. Se for verdade. E talvez eu coloque a minha cabeça na armadilha de Struan. Onde diabo está o Gray Witch? Não é direito que tenha sido derrotado. Maldito Gorth! Ele me fez perder mil guinéus.

Gorth era seu filho mais velho, capitão do Gray Witch. Um filho que dava orgulho. Tão grande quanto ele, tão duro, tão forte, tão bom marinheiro como nunca houvera navegando pelos mares. Sim, um filho para sucedê-lo, e merecedor de ser o Tai-Pan dentro de um ano ou dois. Brock rezou silenciosamente pela segurança de Gorth e depois o amaldiçoou outra vez, por não estar à frente do Thunder Cloud.

Focalizou seu óculo de alcance na praia, onde Struan se encontrava com Robb, e desejou ouvir o que estavam dizendo.

— Com licença, Sr. Brock. — Nagrek Thumb era capitão do White Witch, um alto e robusto natural da Ilha de Man, com mãos grandes e um rosto da cor de carvalho em conserva.

— Sim, Nagrek?

— Está correndo um boato pela frota. Não creio muito nele, mas nunca se sabe. O boato é de que a Marinha está conseguindo poderes para nos fazer parar de contrabandear ópio. E assim poderemos ser presos como piratas.

Brock escarneceu.

— Seria mesmo uma coisa estrambólica.

— Também dei risada, Sr. Brock. Até ouvi dizer que a ordem vai ser dada às quatro badaladas. E até ouvi dizer que Struan disse a Longstaff que deveríamos ter, todos, seis dias de prazo para vender todo nosso estoque.

— Tem certeza? — Brock mal teve tempo de absorver a chocante notícia, quando foi distraído por uma movimentação no passadiço. Eliza Brock entrou pesadamente no convés. Era uma mulher grande, com braços grossos e a força de um homem; seu cabelo cinza-aço estava preso num coque frouxo. Estavam com ela suas duas filhas, Elizabeth e Tess.