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— Tyler vai anular esse casamento. Foi sem permissão.

— Estamos casados diante de Deus, legalmente, e não se fala mais nisso. — Culum dizia o que ele e Tess haviam planejado. Mas sua ousadia parecia vazia, agora, por causa de Gorth. — Sinto muito que tenhamos fugido... não, não sinto. Estamos casados e farei tudo que estiver ao meu alcance para ser um bom genro, mas Tess fica comigo e fará o que eu disser.

— Tyler vai açoitá-lo!

— Ah, mamãe, não — exclamou Tess, correndo para Culum.

— Estamos casados e é a mesma coisa que se esperássemos três meses. Diga a ela, Tai-Pan, diga a ela que está errada.

— Tenho certeza de que seu pai vai ficar zangado, Tess. E com razão. Mas também tenho certeza de que ele perdoará a ambos. Liza, não pode perdoá-los aqui, agora?

— Não sou eu, Dirk Struan, quem tem de perdoar.

— Vamos, mamãe — disse Tess.

Nada pode acontecer agora, ela disse a si mesma. Agora que somos marido e mulher e ele me amou e doeu como antes, mas de maneira diferente. E ele está satisfeito e tem sido tão gentil e maravilhoso. Ela se esquecera de Nagrek para sempre.

— Vamos todos tomar juntos o desjejum.

Liza enxugou os lábios sobre os quais nasciam gotas de suor.

— É melhor você ir para casa. Mandarei um aviso para seu pai.

— Vamos ficar no Hotel Inglês — disse Culum.

— Não precisa fazer isso, Culum — disse Struan. — Há uma suíte para você em nossa residência.

— Obrigado, mas decidimos que assim é melhor. Achamos que devemos voltar para Hong Kong imediatamente, ver o Sr. Brock e pedir seu perdão. Por favor, Sra. Brock, vamos ser amigos. Papai me disse o que aconteceu com Gorth. Não foi culpa dele.

— Acho que foi, rapaz. E você não pode partir imediatamente. Temos de levar o caixão de volta, amanhã.

— O quê? — perguntou Tess.

— Gorth foi morto, querida — disse Culum. — Ontem.

— O quê?

— Ele foi traiçoeiramente morto por assassinos! — Liza gritou.

— Ó, Deus, não!

Struan contou-lhe tudo. Exceto o que Gorth tentara fazer a Culum.

— Não tive escolha senão desafiá-lo. — Finalizou Struan. — Mas seu sangue não está em minhas mãos. Acho que é melhor todos desembarcarmos. Tess soluçava, quieta. Culum mantinha seu braço em torno dela.

— Vamos, querida, enxugue os olhos. Não foi culpa nossa... nem de papai. — Ele a conduziu para fora da cabina. Struan rompeu o silêncio.

— Eles estão casados e felizes, Liza. Por que não deixar as coisas como estão?

— Se fosse por mim, eu diria sim. Se o que Culum diz é verdade. Mas Tyler não fará isso... você o conhece, como ele o conhece. Eu sei que você planejou isso, Dirk. Ele vai saber. Ele o matará... ou tentará matá-lo, e acho que você planejou tudo assim. Tyler e você matarão um ao outro, quando ele começar a persegui-lo, ou você a ele. Por que não deixou as coisas como estavam? Três meses não eram mais tanto tempo. Mas agora... ó, Deus!

***

Struan ergueu os olhos das cartas, enquanto Culum entrava desanimado no escritório e se sentava.

— Vai tudo bem?

— Sim. O médico disse que eu estou são.

— Já almoçou?

— Não. Nenhum de nós tinha vontade de comer. Ah, Deus!... tudo ia tão bem. Maldito Gorth e maldita sua loucura.

— Como vai a Sra. Brock?

— Tão bem quanto se poderia esperar... como diriam os jornais. Como vai... a cinchona chegou?

— Sim. Ela está ótima, agora.

— Ah, isso é maravilhoso!

— Sim.

Mas, apesar de seu sentimento de bem-estar, Struan estava perturbado por uma vaga mas penetrante apreensão. Não era nada que ele pudesse articular, só uma sensação de perigo, em alguma parte. As cartas não lhe deram nenhuma sugestão quanto ao que poderia ser. Gordon Chen escrevia que ainda tinha esperanças de achar a cinchona. E Skinner dissera que liberaria a notícia imediatamente, e esperava Struan naquele mesmo dia.

Mas agora não poderá mais ser hoje. Queria muito ter sido firme e dito a May-may que ela ficaria.

— Voltarei a Hong Kong amanhã. É melhor vocês dois virem comigo.

— Acho melhor irmos no White Witch, com a Sra. Brock e Lillibet — disse Culum.

— A Sra. Brock mandou notícia a Brock por uma lorcha, hoje pela manhã. A nosso respeito... e sobre Gorth.

— Não se preocupe, rapaz. Liza Brock se conformará e Tyler também não o incomodará. Ele fez um juramento, lembra-se? Culum observou o Tai-Pan por um momento.

— Você sabia que eu ia levar Tess no China Cloud?

— Bom, rapaz, quando ela sumiu eu fiquei esperando que sim — disse Struan, circunspectamente.

Culum pegou um peso de papel que se encontrava sobre a escrivaninha. Era de jade branco e pesado.

— Fui muito estúpido.

— Não acho. Foi a melhor coisa que poderia ter feito. Agora você está com tudo resolvido.

— Fui estúpido porque agi outra vez como um fantoche.

— Hein?

— Acho que você colocou em minha cabeça a idéia de fugir. Eu acredito que você, deliberadamente, colocou Orlov sob meu comando, sabendo que eu lhe ordenaria para nos casar. Acho que você mandou a mim e a Tess para fora sabendo que isto enlouqueceria Gorth e o faria atacar você publicamente, dando-lhe a oportunidade de matá-lo diante de todos. Não foi isso?

Struan ficou sentado, imóvel, em sua cadeira. Seus olhos não se desviaram dos olhos de Culum.

— Não sei direito como lhe responder, Culum. Não sei bem se você quer mesmo uma resposta. O fato é que você queria casar com Tess depressa e está casado. O fato é que Gorth realmente tentou matá-lo, da maneira mais traiçoeira que um homem poderia imaginar. O fato é que ele está morto. O fato é que eu lamento não ter tido o prazer de matá-lo, mas o fato é que seu sangue não está em minhas mãos. O fato é que, estando ele morto, você está vivo... você e Tess. O fato é que Brock, embora querendo fazer de tudo, com relação ao assunto, estará preso pelo juramento sagrado prestado por ele, e dar a você um ancoradouro seguro, num porto seguro. E o fato final é que, agora, logo você poderá assumir. Como o Tai-Pan.

Culum recolocou o peso de papel em seu lugar.

— Não estou preparado para ser o Tai-Pan.

— Eu sei. Mas logo estará. Voltarei para a Inglaterra dentro de poucos meses — disse Struan. — Levarei o Lótus Cloud no próximo ano e cuidarei de Wu Kwok. Mas tudo o mais será problema seu.

Culum pensou em ser Tai-Pan, em agir sozinho. Mas sabia que agora não agia mais sozinho. Agora, ele tinha Tess.

— Acho que posso fazer as pazes com Brock... se você não tentar fazer tudo em meu lugar — disse ele. — Planejou tudo isso? Posso ter um “sim” ou um “não”? — Ele esperou, desesperadamente desejoso de ouvir um “não”.

— Sim — disse Struan, deliberadamente. — Usei certos fatos para alcançar um fim calculado.

— Quando eu for Tai-Pan, ingressarei em Struan e Companhia com Brock e Filhos

— disse Culum. — Brock será o primeiro Tai-Pan e eu só assumirei depois dele! Struan ficou em pé, de um salto.

— Aquele filho da mãe não será o Tai-Pan da Casa Nobre. Ele não dirigirá meus navios!

— Não são seus navios. São da companhia. Será Brock só outro peão, para ser usado ou abusado de acordo com seus caprichos?

— Juro por Deus, Culum, eu não entendo você. Você tem toda a sua vida em suas próprias mãos e agora fará a única coisa capaz de destruí-la.

Culum de repente viu o pai com clareza — como homem. Viu a dimensão e a força do rosto castigado pelas intempéries, o cabelo vermelho-dourado e o verde surpreendente dos olhos. E percebeu que seria sempre o instrumento desse homem. Sabia que não poderia nunca combatê-lo, e nem convencê-lo de que a única maneira para ele sobreviver como Tai-Pan seria unir-se a Brock e apostar que Brock deixaria a ele e a Tess em paz.