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— Antes do entardecer, eu acho. Estava programado para partir no meio da manhã.

— Primeiro, falarei com Liza. Depois, com os dois. Então, em nome do Senhor, virei falar com você. — Saiu furioso.

— Que patife mal-educado! — Longstaff estava ofendido. — Poderia ter, pelo menos, batido à porta.

Struan relaxou como um gato relaxaria, depois de um perigo passar — os músculos se afrouxando, prontos para se enrijecerem outra vez, diante da próxima ameaça, mas os olhos imutáveis, ainda observando onde estava o perigo.

— Você nada tem a temer de Cunnington, Will. Ele está liquidado.

— Sim, claro, Dirk. E que bons ventos o levem! — Olhou para a porta, lembrou-se da luta e sentiu que a luta entre Dirk e Brock seria igualmente rancorosa. — O que Brock tem em mente, hein? Será que ele vai desafiar você para um duelo? Claro que ouvimos falar de sua briga com Gorth. As más notícias costumam circular rapidamente, não é? Que coisa terrível! Foi uma tremenda sorte que ele tivesse sido morto por outros.

— Sim — disse Struan. Agora que o perigo passara, ele sentia-se ligeiramente enjoado e fraco.

— O que deu naqueles dois jovens idiotas, para fugirem assim? É lógico que Brock só poderia ficar louco. Estupidez!

— Não foi estupidez, Will. Era a melhor coisa que podiam fazer.

— Claro. Se você diz que era. — E Longstaff ficou imaginando se os rumores eram verdadeiros: de que o Tai-Pan, deliberadamente, precipitara o casamento e o duelo. O Tai-Pan era esperto demais para não ter planejado isso, disse a si próprio. Então, Tai-Pan versus Brock. — E Peel, Dirk?

— Você é um diplomata, Will. Os diplomatas não devem ter ligações partidárias específicas. Pelo menos, deveriam ter boas relações com todos os partidos.

— É exatamente o que eu penso. — Os olhos de Longstaff se arregalaram. — Você quer dizer que eu devo tornar-me um Conservador... apoiar Peel?

— Apoiar igualmente os Whigs e os Conservadores. Hong Kong é bom para a Inglaterra. Você é Hong Kong, Will. Talvez isto — Struan agitou o papel — seja um grande golpe de sorte para você. Prova que Cunnington não só é um idiota, mas também um falador. É chocante ler um despacho particular nesse jornal. — Depois, falou-lhe da pasta de documentos, mas só o suficiente para deixar Longstaff tonto.

— Bom Deus!

Se, como o Tai-Pan sugeria, havia uma cópia do verdadeiro relatório secreto, com mapas de áreas de fronteira entre a Rússia e a China, e do interior, por Deus, isso seria um passaporte para um posto de embaixador e um cargo de nobreza.

— Onde a conseguiu?

— De uma fonte acima de qualquer suspeita. — Struan levantou-se. — Eu colocarei a pasta em suas mãos, antes de você partir. Use-a como quiser. Certamente, provará que você tem razão e Cunnington está errado, além de tudo o mais.

— Jantará comigo, Dirk? — Longstaff não se sentia tão bem há anos. — Podemos conversar a respeito dos velhos tempos.

— Hoje à noite, não, desculpe-me. Quem sabe, amanhã?

— Ótimo. Obrigado. E estou muito satisfeito por nossos pontos de vista terem sido comprovados.

— E, finalmente... há uma outra coisa que necessita de atenção imediata. Os Tríades.

— Hein?

— Gorth Brock foi assassinado pelos Tríades de Hong Kong. Do Tai Ping Shan.

— Puxa vida! Por quê?

— Não sei.

Struan contou o que o oficial português lhe contara sobre os Tríades. E sobre Gordon Chen. Sabia que tinha de dar a Longstaff esta informação pois, do contrário, iria parecer que tentara proteger seu filho, quando fosse oficialmente divulgada. Se Gordon estivesse envolvido com a sociedade, isto iria afastá-lo. Caso contrário, não haveria nenhum prejuízo.

— Ora essa — disse Longstaff, com uma risada. — Uma história ridícula.

— Sim, espalhada por meus inimigos, não há dúvida. Mas faça uma proclamação a respeito dos Tríades e ordene ao Major Trent para esmagá-los. De outra maneira, teremos os malditos mandarins atrás de nós.

— Boa idéia. Excelente, por Júpiter! Vou chamar Horatio... ora bolas, eu o mandei a Macau, numa folga de duas semanas. Você me cederia Mauss?

— Claro. Eu o mandarei procurá-lo.

Quando Struan partiu, Longstaff sentou-se, entusiasmado, à sua escrivaninha.

— Meu caro Sir William — ele disse para seu copo. — Eu me sinto ótimo. Para dizer a verdade, estou felicíssimo por deixar essa ilha fedorenta. Não dou a mínima para o que vai acontecer com ela... com os negociantes, os chineses ou os malditos Tríades. — Foi à janela e começou a rir. — Veremos o que a pasta contém. E quando voltarmos para a Inglaterra decidiremos. Se Cunnington cair, poderemos voltar com segurança para Hong Kong, e levando vantagem. Se Cunnington continuar, posso concordar que ele está certo e jogar a ilha no lixo, como uma coisa à-toa. Porque terei os documentos, uma chave para a alcova de qualquer Ministro de Relações Exteriores, e terei também uma porção de chá.

— Estourou de rir. Fazia alguns dias, um emissário particular, Ching-So viera vê-lo, para lhe dizer que as sementes pedidas Horatio poderiam ser embarcadas dentro de duas semanas. — Acho que teve um belo dia de trabalho, Excelência!

***

À bordo do Resting Cloud, Struan encontrou May-may já na cama, em seus próprios alojamentos, com excelente aspecto e ainda mais

— Estou muito satisfeita por me encontrar em casa, Tai-Pan. Você viu, não é? Sua velha mãe obedece como um marinheiro. Tomei duas xícaras de cinchona e estou preparada para mais três.

— Hein? — ele disse, com uma repentina suspeita.

— Ora, é a pura verdade. E não me olhe assim. Estou falando-, sério! Será que sou uma prostituta Hoklo? Uma miserável mendiga? Tenho cara de quem mente? Promessa é promessa, e não esqueci. Claro — ela acrescentou, com doçura — agora eu tomo o veneno com gosto de esterco misturado com suco de manga, coisa de que qualquer mulher normal se lembraria imediatamente, mas não os homens, ah, meu Deus, não... seria simples demais. — Ela ergueu a cabeça, com seu antigo ar imperioso. — Os homens!

Struan disfarçou o sorriso e o prazer de ver que ela voltara a ser como antes. — Retornarei mais tarde. E você fique na cama.

— Ora! Será que deixo de cumprir promessa? Será que sou um esterco inútil de tartaruga? — Estendeu a mão, como uma imperatriz. — Tai-Pan! Ele beijou-lhe a mão, com galanteria, e ela explodiu em risos e o abraçou.

— Vá, meu filho, mas nada de sujos bordéis!

Struan deixou-a, e foi para sua própria cabina. Destrancou seu cofre e tirou da pasta uma das duas cópias dos documentos e mapas, que mandara fazer meticulosamente. Colocou-os no bolso, com os pequenos sacos que continham os restos da casca de cinchona.

Entrou outra vez em seu escaler.

— Boston Princess — ordenou, dando o nome do pontão de Cooper-Tillman.

O sol morria no horizonte, mas tinha um brilho opaco, como se um véu tivesse sido puxado através do céu.

— O que acha disso, Mestre?

— Não sei, senhorrr. Vi tempo assim nos Mares do Sul, antes de clima bom e de tempestade. Se a lua tiver um anel em torno esta noite, então talvez vá chover, por um período.Ou coisa pior. Struan acrescentou para si mesmo. Levantou-se e olhou para o canal oeste. Não havia sinal do White Witch. Bom, cogitou, talvez permaneçam fora e voltem ao amanhecer. Não vou pensar a seu respeito ainda, Tyler.

O escaler parou ao lado do Boston Princess. Era um navio mercante adaptado, de grandes dimensões e três conveses, permanentemente ancorado. Struan subiu correndo a prancha de desembarque.

— Permissão para subir a bordo — disse ao oficial americano que se encontrava no convés. — Talvez o Sr. Cooper queira receber-me. É urgente.

— Só um minuto, Sr. Struan. — O oficial foi para baixo. Struan acendeu um charuto e atirou o fósforo por sobre a amurada. O China Cloud passava ao largo, encaminhandose para sua amarração, que ficava em águas profundas, em frente ao Vale Feliz.