— Olá, Tai-Pan — disse Jeff Cooper, chegando rapidamente ao convés. — Suponho que tenha ouvido dizer o que fez aquele estúpido filho da mãe do Cunnington? Ficamos muito sentidos ao saber do duelo, e todo o resto. Aqueles dois jovens loucos fugiram?
— Sim. Como vai Wilf?
— Morreu.
— Maldição! Quando morreu?
— Há três dias.
— Vamos para baixo, hein?
— Está bem. O que achou da demissão de Longstaff e do repúdio ao tratado?
— Não significa nada. Apenas um estúpido erro político. Tenho certeza de que será corrigido.
Cooper mostrou o caminho até embaixo. A cabina principal era luxuosa.
— Conhaque?
— Obrigado. — Struan aceitou a bebida. — Saúde!
Struan abriu a pequena bolsa e tirou um pouco da cinchona.
— Está vendo isso, Jeff? É uma casca de árvore. Casca de cinchona. Algumas vezes chamada casca de árvore dos jesuítas. Com ela se faz um chá que cura a malária.
— Tem certeza?
— Sim. Curei minha amante. Esta revelação é particular... mas cura com certeza. Cooper pegou um pedaço da casca, com os dedos trêmulos.
— Ah, meu Deus, Tai-Pan, percebe o que fez? Percebe o que está dizendo?
— Sim. A malária existe no mundo inteiro... vocês têm a doença nos Estados Unidos por toda a Flórida e no território da Louisiana. Conheço a cura e como obter a casca de árvore. O que isso leva você a pensar?
— Trata-se de um serviço prestado à humanidade e representa uma fortuna para quem conseguir a casca primeiro.
— Sim, rapaz. Estou propondo uma sociedade. — Struan colocou a casca outra vez na bolsa, repentinamente triste. — É irônico, não? Há poucas semanas, isto poderia ter salvo Robb e a pequena Karen... e todos os outros, até Wilf, embora eu o desprezasse.
— Ele teve uma morte terrível — disse Cooper.
— Sinto muito. — Struan provou o conhaque e esqueceu o passado — Minha proposta é simples. Formamos uma nova companhia especializada na casca. Colocamos dinheiro em proporção igual. Quatro diretores... você, um designado seu, eu e Culum. Você administra a companhia. Eu forneço os dados referentes a onde, e como, e o que fazer de imediato, e você começa a planejar amanhã.
Cooper estendeu a mão.
— Negócio feito.
Struan contou-lhe onde obtivera a casca, de quem, e a respeito do navio que fretara e ia partir de Macau no dia seguinte, para o Peru.
— O bispo mandou dizer que o Padre Sebastião seguirá a bordo. Proponho a parceria, e não nos arriscaremos. Os custos dessa embarcação serão debitados da companhia e enviaremos outro navio... mas diretamente da América. Contrataremos dois médicos e dois homens de negócios para irem no navio e descobrirem tudo que puderem a respeito da cinchona. No dia em que partir o navio dos Estados Unidos, divulgaremos a notícia lá, usando suas relações. Estaremos um passo à frente de nossos concorrentes e cumpriremos minha aposta com o bispo. Divulgaremos a notícia aqui imediatamente, para afastar a maldição do Vale Feliz. E, logo que possível, na Europa. Quando nossos navios tiverem voltado, médicos no mundo inteiro estarão gritando por cinchona. Meus navios transportarão a mercadoria para o Império Britânico... você toma conta do continente americano... e dividiremos o resto do mundo. Podemos vender toneladas do produto só no sul da Itália.
— Quem mais sabe a respeito disso?
— Só você. Hoje. Vou dar a Skinner uma matéria a respeito esta noite, se conseguir encontrá-lo. Então, o assunto negócios está encerrado. Como vai Shevaun?
— Bem e mal. Aceitou o fato de que está prometida. Mas tenho de admitir, por mais que eu a ame, que ela não me ama.
— Vai comprar os interesses de Tillman?
— Se Shevaun casar comigo, não. Se ela não tivesse concordado... bom, seria um mau negócio não fazer isso. Agora que Wilf está morto, preciso encontrar um outro sócio. Isto significará uma participação nas ações... sabe muito bem dos problemas.
— Sim. O que foi feito de Zergeyev?
— Ah, ele ainda está aqui. O quadril já não o incomoda tanto. Nós o vemos muitas vezes. Jantamos com ele duas ou três vezes por semana. — Cooper sorriu, polidamente.
— Ele é muito ligado a Shevaun e ela parece apreciá-lo. Está fazendo uma visita a seu navio, agora. Struan esfregou o queixo, especulativamente.
— Então, tenho outro jogo para você. Mais perigoso do que a cinchona.
— Qual?
— Mande Shevaun para casa, por um ano. Dê a ela o poder de decisão... é uma puro-sangue. Se quiser voltar no fim de um ano, você se casará com ela, feliz. Se decidir contra você, dê-lhe liberdade. De qualquer maneira, diga-lhe que continuará a pagar a seu pai sua “parcela”, durante toda a vida dele. Quanto aos irmãos dela, que vão para o inferno. Não esqueça, podemos tirar vantagem das ligações do Senador Tillman, em nosso negócio da cinchona. O dinheiro que lhe dá renderá juros.
Cooper aproximou-se de sua escrivaninha para pegar os charutos e para dar tempo a si mesmo. Por que estaria o Tai-Pan sugerindo isso? Será que planejaria ele próprio ir atrás de Shevaun? Não, não havia necessidade de ser tão tortuoso: bastaria acenar, para Shevaun ir correndo.
— Tenho de pensar a respeito disso, Tai-Pan — disse. — Quer um charuto?
— Não, obrigado. E, enquanto estiver considerando isso, acrescente um novo jogo. Peça a Zergeyev para oferecer a ela passagem para os Estados Unidos em seu navio... acompanhada, claro.
— Você está louco!
— Não, rapaz. — Struan apresentou a cópia dos documentos, bem amarrados com uma fita verde. — Por favor, leia isso. Cooper pegou os papéis.
— O que é isso?
— Leia. Não tenha pressa.
Cooper sentou-se à sua escrivaninha e desamarrou a fita.
Bom, Struan dizia a si próprio, a cinchona está lançada. E Culum? Talvez o rapaz tenha razão, ele precisa de um sócio. Jeff é a solução. Struan-Cooper-Tillman. Pelo menos, Struan-Cooper; podemos esquecer Tillman, agora. Por que não? É uma grande vantagem para Jeff. Ganhamos uma vantagem com as Américas. Jeff é hábil e honesto. Pense a respeito disso com cuidado. É uma boa saída. Longstaff? Já foi mais bem cuidado do que nunca, em sua vida. Quando se afastar de você, fará só o que o próximo homem forte lhe disser. E Skinner? Até agora, agiu bem. Blore? É preciso ver o que anda fazendo. Mauss também. E depois? Depois, é ir para casa, ver May-may. Talvez Orlov tivesse razão. Talvez você só estivesse sentindo o mar a espiá-lo — teve um bom trabalho para ganhar seu dinheiro. Não ponha de lado sentimentos assim sem lhes dar nenhuma importância.
Inexoravelmente, sua mente se voltou para Brock: sim. Há um assassinato para ser cometido. E Liza tinha razão. Quando começa, talvez nunca termine. Ou terminará com ambos.
— Será que isso é verdadeiro?
— A fonte poderia ser classificada como “acima de qualquer suspeita”. O que acha disso?
— É diabólico. Zergeyev, obviamente, é um dos homens enviados para investigar a “esfera britânica de influência” na Ásia, e estudar os meios de emigração para o Alasca russo. — Cooper ficou pensando, por um momento. Depois, disse: — O que faremos com relação a isso? Bom, seguindo sua linha de pensamento: Shevaun. Zergeyev ficaria encantado em escoltá-la à América. Ela o seduz, deliberadamente, ou sem saber, e o leva para Washington. Seu pai, que é a pessoa indicada para receber isso tudo, claro, diz a Zergeyev, em particular, que os Estados Unidos estão aborrecidos com os russos e querem que vão embora. A Doutrina de Monroe e tudo mais. É isso que tem em mente?
— Você é um homem esperto, Jeff.
— Essas informações fazem Lord Cunnington parecer um idiota.
— É verdade.
— E evidenciam a necessidade, e a importância vital, de Hong Kong.
— Sim.
— Agora, temos a decidir como levar essas informações, de maneira imediata e segura, às mãos do senador. Ele verá sua cotação crescer enormemente nos círculos políticos, por causa delas, e procurará tirar todo o proveito. Deveremos arriscar-nos a deixar Shevaun inteirar-se dessa história ou, simplesmente, dar-lhe uma cópia do dossiê para levar a seu pai?