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— Bom-dia, Sr. Brock — disse Liza, batendo solidamente os pés no convés, com os braços cruzados sobre a enormidade de seu busto. — Dia bonito, puxa vida!

— Onde esteve, amor? Bom-dia, Tess. Olá, Lillibet, querida — disse Brock, com a adoração pelas filhas dominando-o.

Elizabeth Brock tinha seis anos e cabelos castanhos. Aproximou-se correndo de Brock e fez uma curvatura, quase caindo, depois pulou nos braços dele e o abraçou, fazendo-o rir.

— Estivemos em casa da Sra. Blair — disse Liza. — Ela está mesmo ruim.

— Vai perder o bebê?

— Não, se Deus quiser — disse Liza. — Bom-dia, Nagrek.

— Bom-dia, Madame — disse Thumb, tirando os olhos de Tess, que estava em pé na amurada, olhando em direção à ilha. Tess Brock tinha dezesseis anos, era alta e encurvada, com a cintura elegantemente fina. Seus traços eram marcados e ela não era bonita. Mas tinha um rosto forte e a vitalidade que nele existia tornava-o atraente. E muito desejável.

— Vou pegar um pouco de comida. — Liza notou a maneira como Nagrek olhara para Tess. Está em tempo de ela casar, pensou. Mas não com Nagrek Thumb, por Deus.

— Desça daí, Tess. E cuide de você própria, Lillibet — disse, enquanto Elizabeth estendia os braços para ser carregada.

— Por favor, por favor, por favor, mãezinha. Por favor, por favor.

— Use suas próprias pernas, menina. — Mas, ainda assim, Liza acabou arrastandoa, com seu grande braço, e carregou-a para baixo. Tess seguiu-as e sorriu para o pai, fazendo com embaraço um aceno de cabeça para Nagrek.

— Tem certeza quanto a Struan e Longstaff? — perguntou Brock outra vez.

— Sim. — Nagrek virou-se para Brock, forçando a mente acalorada a não pensar na menina. — Um guinéu de ouro na mão de um homem torna longas suas orelhas. Tenho um espião na nau capitânia.

— Struan jamais iria concordar com isso. Não poderia. Ele iria ficar arruinado, como todos nós.

— Bom, foi dito com bastante certeza. Hoje de manhã.

— O que mais foi dito, Nagrek?

— Fui tudo que o espião ouviu.

— Então deve ser um truque... mais uma de suas sujas maldades.

— Sim. Mas o quê?

Brock começou a examinar possibilidades.

— Mande um recado para as lorchas. Levem todas as caixas de ópio para a costa. Enquanto isso, mande uma bolsa com vinte guinéus para nosso espião a bordo do China Cloud. Diga-lhe que receberá mais vinte se descobrir o que há por trás disso. Que tenha cuidado. Não queremos perdê-lo.

— Se Struan chegar a pegá-lo, ele vai nos mandar a sua língua.

— Junto com a cabeça. Aposto cinqüenta guinéus como Struan tem um homem seu a bordo do nosso navio.

— Aposto cem que está enganado — disse Thumb. — Todos os homens a bordo são de confiança!

— É melhor que eu nunca o pegue vivo em sua frente Nagrek.

***

— Mas por que ele sinalizaria “Zenith”? — Robb estava dizendo.

— Claro que iremos para bordo imediatamente.

— Não entendi — disse Struan. Zenith significava: “Proprietário venha para bordo

— urgente.” Franziu a testa, olhando para o Thunder Cloud. O Mestre McKay estava fora do alcance da voz, na praia, mais adiante, esperando pacientemente.

— Vá você a bordo, Robb. Dê meus cumprimentos a Isaac e lhe diga para vir à praia imediatamente. Traga-o ao vale.

— Por quê?

— Há muitos ouvidos a bordo. Pode ser importante. — Depois, ele gritou — Mestre McKay!

— Sim, sim, senhorrr! Desculpe, senhorrr — disse Mestre McKay, desajeitadamente. — Tem um rapazola. Ramsey. No H.M.S. Mermaid, o navio de Glessing. Os Ramseys são parentes dos McKays. O primeiro-imediato acabou com o rapaz. Trinta chicotadas ontem e mais para amanhã. Ele foi recrutado em Glasgow.

— E daí? — Struan perguntou, com impaciência.

— Ouvi dizer, senhorrr — disse o mestre, cuidadosamente — que ele gostaria de encontrar emprego em algum lugar.

— Pelo sangue de Cristo, você é idiota? Não acolhemos desertores a bordo de nossos navios. Se recebermos um deles, sabendo o que é, poderíamos perder o navio... e com justiça!

— É verdade! Pensei que poderia comprá-lo — disse McKay depressa — porque vi como o Capitão Glessing é amigo seu. O dinheiro ganho por mim como prêmio iria ajudar, senhorrr. Ele é um bom rapaz e mudaria de navio, se não houvesse nenhum obstáculo.

— Vou pensar a respeito.

— Obrigado, senhorrr. — O mestre tocou em seu topete e disparou.

— Robb, se você fosse Tai-Pan, o que faria?

— Homens sob pressão são sempre perigosos, e jamais se deve confiar neles — disse Robb, imediatamente. — Então eu nunca o compraria. E agora vigiaria McKay. Talvez McKay seja agora um homem de Brock e tenha tramado tudo. Eu submeteria McKay a um teste e também um inimigo de McKay... e poria Ramsey na mesma lista, jamais voltando a confiar em suas informações.

— Você me disse o que eu faria — observou Struan com um toque de humor. — Eu perguntei o que você faria.

— Não sou Tai-Pan, então o problema não é meu. Se fosse, provavelmente não lhe diria, de qualquer jeito. Ou talvez dissesse e então faria o oposto. Para testar você. — Robb ficou satisfeito de poder odiar seu irmão, de vez em quando. Isto fazia com que gostasse muito mais do outro.

— Por que você tem medo, Robb?

— Eu lhe direi, dentro de um ano. — Robb caminhou atrás do mestre.

Durante algum tempo, Struan ficou pensando sobre seu irmão e o futuro da Casa Nobre; depois pegou uma garrafa de conhaque e começou a caminhar ao longo da abertura entre os rochedos, em direção ao vale.

A multidão dos negociantes diminuía, e alguns já partiram em suas chalupas. Outros ainda estavam comendo e bebendo e havia repentinas gargalhadas por causa de alguns que dançavam uma quadrilha escocesa.

— Senhor!

Struan parou e olhou para o jovem fuzileiro.

— Sim?

— Preciso de sua ajuda, senhor. Desesperadamente — disse Norden, com olhos estranhos e rosto pálido.

— Que ajuda? — Struan estava consciente, sombriamente, da arma à cintura do fuzileiro, uma baioneta. — Estou com sífilis... apanhei com uma mulher. O senhor pode ajudar. Me dê o remédio, senhor. Farei tudo, qualquer coisa.

— Não sou médico, rapaz — disse Struan, com os pêlos do pescoço arrepiando-se.

— Você já não deveria estar em seu barco?

— O senhor teve a mesma coisa. Mas tinha o remédio. Tudo que eu quero é o remédio. Farei qualquer coisa — a voz de Norden era um grasnido e seus lábios estavam com respingos de espuma.

— Jamais tive essa doença, rapaz. — Struan notou o mestre-d’armas que se encaminhava para eles, gritando algo que parecia um nome.

— É melhor você ir para seu barco, rapaz. Estão esperando você.

— O remédio. Diga-me como. Tenho minhas economias, senhor. — Norden puxou um trapo sujo, amarrado com um nó, e o ofereceu orgulhosamente, com o rosto coberto de suor. — Sou econômico e aqui está... tem cinco xelins completos e quatro pence, senhor, isto é tudo que tenho no mundo, e tem também o meu pagamento, vinte xelins por mês, que o senhor pode guardar. Pode ficar com tudo, senhor, juro por Cristo, senhor!

— Nunca tive essa doença apanhada com as mulheres, rapaz. Nunca.

Struan disse outra vez, com o coração oprimido à lembrança de sua infância, quando riqueza eram moedas e não barras de prata valendo dezenas de milhares de taéis. E vivendo outra vez o horror inesquecível de toda sua juventude — sem dinheiro, sem esperança, sem calor, sem teto, e os estômagos inchados e protuberantes das crianças. Deus do céu, eu posso esquecer minha própria fome, mas nunca a das crianças, nunca seus gritos, sob o vento enregelante, num canto de sarjeta.