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Yin-hsi repetiu as palavras em inglês, decorando-as.

— Se não adiantar, volte para cá — continuou May-may. — Não haverá perda de prestígio, eu lhe prometo. Não tenha medo. Conheço muito Papai e sei como ele encara essa questão de prestígio. Não podemos, realmente, deixar que ele visite esses sujos bordéis. Esse teimoso foi direto a um deles, a noite passada.

— Não! — disse Yin-hsi. — Perdemos muito prestígio. Ah, querida. Eu, com certeza, desagrado Papai. Talvez seja melhor me vender a um coveiro.

— Ah! — disse May-may. — Eu ensinaria a ele, se estivesse boa. Não se preocupe, Yin-hsi. Ele nem mesmo a viu ainda. Eu já lhe expliquei. Ele é um bárbaro. É terrível ir a um bordel, quando você está aqui, e até mesmo Ah Sam.

— Concordo plenamente. Que homem terrível!

— São todos terríveis, querida — disse May-may. — Espero que ele esteja cansado e não mande você embora, como prevejo que vai fazer. Só durma na cama dele. Com Papai, temos de trabalhar bem as coisas. Mesmo na idade dele, ainda é muito tímido com relação ao amor.

— Ele sabe que eu não sou virgem? — Yin-hsi acariciava a cabeça de May-may.

— Ele ainda é bastante jovem para não precisar de virgens, a fim de se excitar, querida Irmã. E velho demais para ter a paciência de ensinar a uma virgem a fazer o amor, novamente. Basta dizer a ele: A Suprema Senhora me mandou vir.

Yin-hsi repetiu as palavras, em inglês, outra vez.

— Você é muito bonita, irmã. Vá, agora. Espere uma hora e então vá para junto dele. — May-may fechou os olhos e se instalou na cama, toda contente.

***

Yin-hsi olhou para Struan. Um dos braços dele estava atirado descuidadamente por sobre o travesseiro e dormia profundamente. As cortinas nas vigias da cabina estavam bem fechadas, para vedar a claridade da manhã. Tudo se achava muito silencioso.

Yin-hsi tirou seu pijama e deslizou cautelosamente por sob as cobertas, ao lado de Struan.

O calor da cama a excitou.

Ela esperou, sem fôlego, mas ele não acordou. Chegou mais perto dele e, suavemente, pôs uma mão sobre seu braço e esperou. Ainda assim, ele não acordou. Ela se moveu para mais perto ainda, e colocou seu braço em torno do peito dele, deixando-o descansar ali. E esperou.

Através da névoa de seus sonhos, Struan percebeu que May-may estava a seu lado. Sentia seu perfume e sua proximidade, e ficou satisfeito por sua febre ter-se tornado uma coisa distante, do passado, e por ela estar bem outra vez. Encontravam-se juntos ao sol, e ele podia sentir o bem-estar de May-may. Perguntou-lhe o que ela gostaria de ganhar de aniversário e ela, simplesmente, riu e abraçou-o ao sol, que era escuro e estranho, irreal, porém belo. Depois, ficaram muito juntos e ele escutou-lhe a conversa e, em seguida, nadaram juntos e ele achou isso estranho, pois sabia que ela não nadava, e imaginou como aprendera. Mais tarde, ficaram deitados, nus, na praia, lado a lado, todo o corpo dela tocando-o. Então, ela começou a tremer e ele ficou aterrorizado, temendo que tivesse febre outra vez, e lá estava o monge com sua batina manchada de sangue, e a taça de chá curou a febre de May-may e aí caiu a escuridão. Mas havia nuvens lá no alto, e estava escuro, quando deveria ser dia e Fong gritava, no meio das ondas: Tai-fung! Fugiram das nuvens e foram para a cama, salvos.

Ele estremeceu, adormecido, começou a acordar e sentiu o corpo cálido e macio tocando-o, e sua mão vagueou, e ele cobriu-lhe o seio e sentiu o tremor percorrê-la e a ele também.

Ficou deitado, quase acordando, na penumbra do quarto. O seio dela era macio em sua mão e ele sentiu a rigidez do mamilo.

Então, abriu os olhos.

Yin-hsi sorriu, recatadamente.

Struan apoiou-se sobre um cotovelo.

— Pelo sangue de Cristo, que diabo você está fazendo aqui? Yin-hsi piscou os olhos, com ar de quem não entende.

— Suprre... ma... Senhora... me mandou.

— Hein? — Struan tentava desanuviar as idéias.

— Suprrre... ma... Senhora... me mandou... Tai-Pan.

— Hein? May-may? May-may? Ela está louca? — Apontou para a porta. — Saia!

Yin-hsi abanou a cabeça.

— Suprrre... ma Senhora me mandou.

— Não me importa se você foi mandada pela Rainha da Inglaterra! Saia!

Yin-hsi fez uma expressão amuada.

— Suprrre... ma Senhora me mandou! — E plantou a cabeça firmemente no travesseiro, olhando para ele.

Struan começou a rir.

Yin-hsi estava confusa. Meu Deus, a Suprema Senhora tinha razão. Os bárbaros são

incríveis! Como você ousa ir a um bordel e me fazer perder prestígio diante da Tai-tai? Será que sou uma bruxa velha, por Deus? Ah, não, Tai-Pan! Não vou sair daqui! Sou muito atraente e sou a Segunda Irmã e Segunda Senhora em sua casa, é isso aí!

— Por todos os deuses! — disse Struan, recompondo-se. — Vou casar com May-may, nem que seja a última coisa que eu faça na vida. E que todo mundo vá para o inferno!

Deitou-se de novo e ficou imaginando o que ele e May-may fariam na Inglaterra. Ela será a favorita de Londres... desde que não use nunca roupas européias. Juntos, abalaremos a sociedade inglesa. Agora, tenho de voltar rapidamente para meu país. Talvez possa destruir pessoalmente o Ministro de Relações Exteriores! Ou derrubar Whalen. Sim. Agora, a chave para Hong Kong está em Londres. Então, é voltar para casa — quanto antes, melhor.

Virou a cabeça no travesseiro, olhou para Yin-hsi e realmente a viu, pela primeira vez. Achou-a muito desejável. Seu perfume era tão encantador como sua pele.

— Ah, garota eu estou seriamente tentado.

Ela se aproximou mais e aninhou-se contra ele.

CAPÍTULO QUARENTA E CINCO

O White Witch entrou com dificuldade no porto, pouco antes do meio-dia. Seu mastro dianteiro fora arrancado e havia no convés principal um emaranhado de vergas quebradas e cordame torcido.

Brock aproximou-se num escaler, enquanto o navio se encaminhava para suas amarrações.

— Por Deus, alguém vai pagar por isso! — rugiu, ao chegar ao convés, descobrindo, por instinto, ao ver as velas rasgadas e não rizadas, espalhadas entre as adriças, que o navio soltara pano demais. — O que aconteceu?

— Bom-dia, senhor — disse Michaelmas. Era o primeiro-imediato, um homem rijo e com marcas de bexiga. — Assumi o lugar do Sr. Gorth. Até saber o que o senhor pretendia. — Havia um chicote em seu grande punho! — O vento nos pegou duas horas depois da partida de Macau. O maldito vento quase nos fez virar. Arrancou o mastro e nos afastou do curso cinqüenta léguas.

Brock cerrou o punho e sacudiu-o junto ao rosto do homem.

— Não sabe se defender do vento? Não sabe rizar as velas, nesta temporada?

— Sim, senhor Brock — disse Michaelmas, sem medo. — Mas as rajadas nos pegaram a sotavento. Não me repreenda por causa do vento, por Deus! O punho de Brock atirou-o contra a amurada e ele caiu, inconsciente, no convés.

— Bennyworth! — gritou Brock ao segundo-imediato, um jovem atarracado e troncudo. — Você é o capitão, até segunda ordem! Lance as âncoras de tempestade. Vamos ter mau tempo. — Então, viu Culum no tombadilho. Os marinheiros se dispersaram, quando ele subiu no cordame e transpôs o curto passadiço. Ele se agigantou diante de Culum.

— Bom-dia, Sr. Brock, eu queria...

— Onde está a Sra. Brock?

— Lá embaixo, senhor. Não foi culpa do Sr. Michaelmas. E eu queria...

— Cale o bico! — Brock rosnou e, depois, deu as costas com desprezo para Culum. Culum ferveu com o insulto; Brock jamais viraria as costas para o Tai-Pan.

— Ninguém tem permissão para desembarcar! — Brock gritou. — Limpe tudo isso, Pennyworth, do contrário será demitido, como aquele patife do Michaelmas. Mande-o embora do meu navio! — Rodopiou, virando-se de novo para Culum. — Falarei com você com calma.

— Gostaria de falar agora.

— Mais uma só palavra, antes de eu estar preparado, e reduzo você a pó. Culum seguiu Brock até embaixo e desejou que o Tai-Pan estivesse ali. Ah, Deus, como posso tratar com Brock? Por que entramos naquele maldito vento?