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— Quem vai consertar o navio, senhor?

— Você. É o capitão do White Witch. Mas depois que der o recado

***

Struan observava Yin-hsi. Ela ainda dormia, a seu lado. Ele a comparou com May-may. E May-may com sua amante chinesa de anos atrás. E as três com Ronalda, sua única esposa. Tão diferentes. Entretanto, em muitas maneiras, tão parecidas. E ficou imaginando por que as três orientais o excitavam mais do que Ronalda, que era seu amor — até ele conhecer May-may. E ficou perguntando a si próprio o que era o amor.

Sabia que as três chinesas tinham muito em comum: a pele incrivelmente sedosa e um humor, uma entrega, uma muda comunicação que excediam a tudo que já vira. Mas May-may superava de longe as outras duas. Era perfeita.

Tocou afetuosamente em Yin-hsi. Ela estremeceu, mas não acordou. Com cuidado, ele deslizou para fora da cama e espiou o céu, através das vigias. As nuvens eram ainda mais pesadas. Vestiu-se e desceu.

— Então... — disse May-may. Ela estava sentada na cama, inda.

— Então... — ele disse.

— Onde está minha irmã?

— Suprrre...ma Senhorr...ra me mandou vir.

— Ah — disse May-may, e jogou a cabeça para trás. — Você é mendaz e cheio de luxúria e já não adora mais sua velha mãe.

— É verdade — disse Struan, para arreliá-la. Ela parecia mais bela do que nunca e a palidez de seu rosto lhe ficava bem. — Acho que vou mandar você embora!

— Ayeee yah! E eu me importo muito!

Ele riu, e ergueu-a em seus braços.

— Cuidado, Tai-Pan — disse ela. — Você gostou de Yin-hsi? Estou tão satisfeita. Satisfeitíssima.

— Quando quer ser Tai-tai?

— O quê?

— Bom, se não está interessada, não falaremos mais disso.

— Ah, não, Tai-Pan! Quer dizer Tai-tai? Verdadeira Tai-tai, segundo os costumes? Não está falando isso de brincadeira? Por favor, não brinque comigo a respeito de uma coisa tão importante.

— Não estou brincando, May-may. — Sentou-se na cadeira, segurando-a nos braços. — Vamos para meu país. Juntos. Tomaremos o primeiro clíper disponível e nos casaremos a caminho de casa. Dentro de poucos meses.

— Ah, maravilhoso. — Ela o abraçou. — Solte-me, por um momento.

Ele a soltou e, capengando ligeiramente, ela caminhou até à cama.

— Veja, já estou quase boa.

— Vá para a cama, agora — ele disse.

— Pretende mesmo casar? De acordo com seus costumes? E com os meus?

— Sim. De acordo com ambos, se você quiser.

Ela se ajoelhou, graciosamente, diante dele, e tocou o tapete com a testa.

— Juro que serei digna de me tornar Tai-tai.

Ele a ergueu depressa e colocou-a na cama.

— Não faça isso, garota.

— Eu me ajoelhei porque você me deu o maior prestígio da terra. — Ela o abraçou outra vez e, depois, afastou-o um pouco e riu. — Gostou muito do presente de aniversário, hein? É por isso que quer casar com sua pobre mãe velha?

— Sim e não. Foi só por causa da idéia.

— Ela é ótima. Gosto muito dela. Estou satisfeita de que também goste.

— Onde você a encontrou?

— Era concubina na casa de um mandarim que morreu há seis meses. Eu já lhe disse que ela tinha dezoito anos? A casa dele entrou num período de dificuldade e então a Taitai chamou um casamenteiro para encontrar um bom marido para ela. Ouvi falar a seu respeito e conversei com ela.

— Onde? Em Macau?

— Ah, não. Há dois ou três meses. — May-may se aconchegou mais, de encontro a ele. — Conversei com ela em Cantão. A Tai-tai de Jin-qua foi quem me contou a seu respeito. Quando engravidei, pensei, ah, ótimo, e então mandei buscá-la. Porque meu homem é cheio de luxúria e em vez de ficar em casa talvez vá para um bordel. Você me prometeu não ir a bordel, mas foi, a noite passada. Maldição!

— Não procurei nenhuma mulher. Fui apenas visitar Aristotle.

— Ah! — May-may agitou um dedo, na cara dele. — Isso o que você diz. Eu não tenho ciúme de prostituta, mas não aquelas. Ah, muito bem, desta vez eu acredito em você.

— Muito obrigado.

— Yin-hsi é ótima, então você não precisa ir a bordéis. Ah, estou tão feliz. Ela canta maravilhosamente e toca muitos instrumentos, costura à perfeição e aprende tudo muito depressa. Eu lhe ensino inglês. Ela vai para a Inglaterra conosco. E Ah Sam e Lim Din também. — Franziu a testa, de leve. — Mas voltaremos à China? Muitas vezes?

— Sim. Talvez.

— Ótimo. Voltaremos, é claro. — Outra vez, um sorrisinho. — Yin-hsi é muito prendada. Ela é boa na cama? Os olhos de Struan semicerraram-se, de divertimento.

— Não fiz amor, se é isso que você está perguntando.

— O quê?

— Gosto de escolher quem vai para minha cama, e quando.

— Ela está em sua cama e você não fez amor?

— Sim.

— Juro por Deus, Tai-Pan. Não vou entender você nunca. Não a deseja?

— Claro. Mas decidi que hoje não era a ocasião. Talvez hoje à noite. Ou amanhã. Quando eu escolher. Não antes. Mas aprecio sua consideração.

— Juro por Deus que você é mesmo esquisito. Ou talvez estivesse tão cansado, por causa de uma suja prostituta, que não reagiu. Hein?

— Pense o que quiser. Houve uma batida à porta.

— Sim?

Lim Din entrou, com passos macios.

— Tai-Pan, há um senhor aqui. Quer ver Tai-Pan. Pode?

— Que senhor?

— Senhor Peeennnyworth.

CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

Brock observou Struan subir a estrada que levava até o cume do outeiro à sombra da igreja sem teto, abandonada. Viu o chicote de ferro reunido num molho e se sentiu um pouco enjoado. Entretanto, estava satisfeito por haver, afinal, um ajuste de contas.

Ajustou a correia de seu próprio chicote de ferro, levantou-se e saiu para terreno aberto. Agarrou a faca com a mão esquerda.

Struan viu Brock no momento em que saía do abrigo da igreja e, por um instante, esqueceu o plano que decidira executar. Parou. Só se lembrou de que o outro era um inimigo seu, a quem precisava destruir. Com um esforço, Struan desanuviou as idéias e continuou a subir o caminho, com os músculos tremendo de ansiedade em começar.

Afinal, os dois homens se enfrentaram.

— Você planejou a fuga e o duelo, não foi? — rosnou Brock.

— Sim — Struan deixou cair o chicote de ferro. Este tilintou, com ódio. Outra vez, ele precisou esforçar-se para lembrar o que decidira dizer. Brock agarrou o cabo de seu chicote de ferro, deu um passo para a frente e se preparou. Só os olhos de Struan se moveram.

— Sinto muito Gorth ter morrido do jeito que morreu — disse Struan. — Eu teria gostado de matá-lo. Brock não deu resposta. Mas deslocou seu peso, imperceptivelmente, com o vento leste agitando-lhe o cabelo. O punhal de Struan apareceu em sua mão esquerda e ele se agachou ligeiramente.

— Tess está com sífilis.

Brock parou no meio do caminho.

— Não! O médico disse que Culum está sadio.

— Os médicos podem ser comprados — disse Struan, sentindo a sede de sangue tomar conta dele. — Ela foi contaminada de sífilis, de propósito!

— Seu, seu... — Brock fez girar malignamente a maça e investiu contra Struan. A farpa de metal deixou de alcançar os olhos de Struan por apenas uma fração de polegada.

Struan recuou rapidamente e tornou a atacar, Brock se desviou e eles começaram a cercar um ao outro como dois animais.

— Foi o que Gorth planejou — disse Struan. Desejaria parar de falar. — Está ouvindo? Foi o que Gorth quis fazer.

A cabeça de Brock estalava. Tudo que ele conseguia pensar, era em cercar o inimigo e matá-lo.Novamente houve uma violenta escaramuça, e outra vez eles brandiram suas maças. Brock fugiu a uma punhalada de Struan, que saiu de seu alcance, com uma contorção, e percebeu não poder conter-se mais e nem se manter afastado por muito tempo.

— Gorth planejou a sífilis!