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O que fazer? Partir de Hong Kong, agora. Acabou. O estúpido Lord Cunnington estrangulou a Grã-Bretanha e nos deu a chave para a Ásia. Ótimo. Faça um acordo comercial com o Tai-Pan ou com Brock e, depois, vá embora logo que possível e prossiga até o Alasca. Faça acertos referentes às tribos. Depois, retorne para seu país. Não, melhor ainda — vá a Washington. Olhe e ouça e pense, e faça o que nasceu para fazer — sirva a Mãe Rússia até os confins da terra. A terra dela.

Zergeyev sentiu a dor no quadril e, pela primeira vez, gostou dela. Muito bom pagode, pensou. Então, está decidido. Partiremos, se sobrevivermos.

Mas, e Shevaun? Ah, eis uma moça sobre a qual vale a pena pensar, pela cruz! Valiosa politicamente, hein? E fisicamente. Mas não é suficientemente boa para um casamento, mesmo sendo seu pai um senador. Ou talvez seja. Talvez fosse uma medida muito aconselhável. Considere isso, Alexi. Vamos precisar de líderes para a América russa. O continente será dividido em principados. O casamento entre nacionalidades sempre foi uma forma de conquista, hein? Talvez você deva apressar esse dia.

Por São Pedro, gostaria que ela fosse minha amante. Como poderia conseguir isso? Será que ela aceitaria? Por que não? Louco idiota, o Cooper. É muito aborrecido que esteja prometida. Pena. Ela disse que não o amava.

O tufão estava no auge, mas o anel de montanhas ainda desviava a maior parte de sua violência do porto.

O Boston Princess debatia-se no meio do porto, com uma das amuradas sob o mar, fazendo água, pesadamente. Cooper sabia que o fim estava próximo, e segurava Shevaun, gritando que tudo acabaria bem.

O navio afundou mais e seguiu velozmente em direção a Kowloon. Depois encalhou. Os rochedos perfuraram-lhe o casco e as ondas lamberam-lhe os porões, e então um Vento Supremo ergueu-o acima do torvelinho e atirou-o de lado, por sobre a linha da arrebentação.

***

Agora que o vento soprava do sul, passava por sobre a cordilheira de montanhas e seguia em direção ao continente. E, no funil que formava o Vale Feliz, ele aumentava sua força incrível. Abateu-se sobre a Casa Nobre, procurando seu ponto fraco.

Struan embalava May-may em seus braços, na suíte relativamente protegida, do lado norte. Uma lanterna bruxuleava nervosamente, lançando sombras bizarras e dançantes. Além das janelas espatifadas, a sotavento das rajadas carregadas de chuva, só havia escuridão. Ah Sam estava ajoelhada no chão e Yin-hsi aninhava-se perto de Struan, procurando abrigo.

May-may virou-se e colocou os lábios perto da orelha de Struan, gritando: — Tai-Pan, estou muito infeliz com esse barulho todo.

Ele riu, segurou-a com mais força e ela colocou os braços em torno de seu pescoço. Sabia que nada os atingiria agora. O pior passara.

— Dentro de mais três, ou quatro horas, passará, garota.

— Tempestade horrível. Eu não lhe disse que era um dragão? Um dragão marinho?

— Sim.

— Pelo sangue de Cristo!

— O que há?— Esqueci de tomar a última xícara do nojento chá de cinchona. Hoje é o último dia, lembra-se?

— Você vai tomar, dentro de algumas horas.

— Sim, Marido! — May-may sentia-se muito feliz e saudável. Brincava com o cabelo comprido na nuca de Struan. — Espero que as crianças estejam bem.

— Sim. Não se preocupe. Chen Sheng cuidará deles.

— Quando iremos embora, hein? Estou com uma pressa incrível de me casar.

— Daqui a três meses. Seguramente, antes do Natal.

— Acho que você deve tomar outra esposa bárbara como Terceira Irmã.

Ele riu.

— É muito importante ter muitos filhos. Não ria, por Deus!

— Talvez você tenha tido um bom pensamento, garota — ele disse. — Talvez eu deva ter três bárbaras. Depois, virão você e Yin-hsi. Acho terrivelmente importante arranjarmos outra irmã chinesa, antes de partirmos.

— Ora! Se sua atividade com a Segunda Irmã até agora continuar assim, arranjaremos amantes, por Deus! — Depois ela beijou-lhe a orelha e gritou: — Estou muito satisfeita com meu pagode por me trazer você, Tai-Pan!

Um tiroteio dos Ventos Supremos quebrou as janelas do lado sul e todo prédio se mexeu como se houvesse um terremoto. Os pregos do telhado rangeram diante do puxão incômodo e, depois, uma rajada diabólica arrancou o telhado e atirou-o no mar.

Struan sentiu Yin-hsi ser arrastada para cima, pelo sorvedouro. Tentou agarrá-la, mas ela já desaparecera. Struan e May-may abraçaram-se, apertadamente.

— Não desista, Tai-Tai!

— Nunca! Eu o amo, Marido!

E os Ventos Supremos abateram-se sobre eles.

CAPÍTULO CINQÜENTA

O sol se ergueu bravamente e espalhou calor sobre a cidade destroçada e o porto seguro.

Culum encontrou o pai no torvelinho da residência. Struan estava esmagado num canto da suíte norte e, em seu braços, havia uma pequena e magra moça chinesa. Culum ficou imaginando como o pai poderia tê-la amado, pois, para ele, não era bonita.

A morte não os enfeara. Seus rostos estavam calmos, como se dormissem.

Culum saiu do quarto e desceu a escadaria quebrada, sendo envolvido, lá fora, pela suave brisa do leste.

Tess estava à espera. E quando viu que ele abanava desamparadamente a cabeça, seus olhos também se encheram de lágrimas e ela segurou-lhe a mão. Saíram do Vale Feliz pela Estrada da Rainha, sem nada ver.

A nova cidade encontrava-se em ruínas, com destroços espalhados por toda parte. Mas, aqui e acolá, havia prédios ainda de pé, alguns meras cascas, outros só ligeiramente danificados. A praia estava cheia de gente que corria de um lado para outro, ou permanecia em pé, em grupos, observando os destroços de suas residências ou casas de negócios. Muitos supervisionavam equipes de cules, resgatando seus pertences enlameados ou fazendo consertos. Cules com liteiras exerciam sua atividade. Os mendigos também. Patrulhas de soldados haviam sido colocadas em pontos estratégicos para impedir o inevitável saque. Mas, estranhamente, havia pouquíssimos saqueadores.

Sampanas e juncos pescavam no calmo porto, entre os pedaços flutuantes de navios quebrados. Outros chegavam trazendo novos povoadores. E o cortejo de chineses da praia até o Tai Ping Shan começara outra vez.

Havia fumaça por sobre a encosta. Alguns incêndios ardiam entre os destroços dos casebres. Mas, além da fumaça, havia a movimentação do trabalho. Restaurantes, casas de chá e de venda de alimentos e vendedores ambulantes faziam negócios outra vez, enquanto os moradores — martelando, costurando, cavando, conversando — consertavam suas casas ou começavam a reconstruir, abençoando seu pagode por estarem vivos.

— Olhe, Culum, amor — disse Tess. Estavam perto do cais. Culum se achava obtuso, com o cérebro mal funcionando.

Ele olhou para onde ela apontava. Numa encosta, seu lar quase concluído estava sem teto e deslocado dos alicerces.

— Ah, meu Deus — ela disse. — O que vamos fazer? Ele não respondeu. O medo dela aumentou, ao sentir o pânico dele.

— Vamos, amor. Iremos... iremos para o hotel e depois... depois para bordo do White Witch. Vamos, amor.

Skinner aproximou-se, correndo. Seu rosto estava manchado, as roupas rasgadas e sujas.

— Com licença, Sr. Culum. Onde está o Tai-Pan?

— O quê?

— O Tai-Pan. Sabe onde ele está? Preciso vê-lo, imediatamente.

Culum não respondeu, então Tess disse:

— Ele... ele está morto.

— Hein?

— Ele está morto, Sr. Skinner. Eu... meu Culum o viu. Ele está morto. Na feitoria.

— Ah, meu Deus, não! — disse Skinner, com voz rouca. Que mau pagode! Ele murmurou condolências e voltou para sua impressora e a máquina destroçada.

— Você é dono de jornal! — ele gritou. — De quê? Não tem impressora e nem dinheiro para comprar outra, e agora o Tai-Pan está morto, de modo que não pode pedir emprestado a ele, então nada tem e está liquidado! Liquidado! Que diabo você vai fazer?