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— A pequena Karen, sua prima Karen, a filha mais nova de Robb, quer chamá-lo Vale Feliz. Teríamos sido felizes ali. — voz de Struan ficou mais carregada. — Eles sofreram muito?

— Sim.

— Você vai me contar como foi?

— Agora não.

— A pequena Winifred. Ela morreu antes de você partir?

— Não. Mas estava muito fraca. Os médicos disseram que estando tão fraca... Os médicos só deram de ombros e foram embora.

— E o avô?

— A peste nunca o atingiu. Ele chegou como o vento até nós, e então levou Winifred. Fui para a casa de tia Uthenia para ajudar. Mas não ajudei. Struan encarava o porto, sem vê-lo.

— Você contou ao tio Robb?

— Sim. Acho que sim.

— Pobre Robb. É melhor eu ir para bordo. — Struan estendeu a mão e pegou os despachos, meio enterrados na areia. Estavam fechados. Ele limpou a areia.

— Desculpe — disse Culum. — Eu esqueci de entregá-los a você.

— Nada, rapaz. Você os entregou — Struan viu uma chalupa dirigindo-se para a praia. Isaac Perry estava à popa.

— Boa-tarde, Sr. Struan — disse Perry, cautelosamente. — Meus pêsames pela perda que sofreu.

— Como está Robb?

Perry não respondeu. Ele caminhou para a praia e gritou à tripulação: “Depressa!” e Struan ficou imaginando, em sua mente ferida e obscurecida, por que Perry tinha medo dele. Não havia razão para ter medo. Nenhuma.

Os homens carregaram para a praia uma mesa, bancos, e alimento, chá, conhaque e roupas.

— Depressa! — Perry repetiu, com irritação. — E vão embora! Para longe daqui, para o inferno, mas fiquem afastados!

Os remadores empurraram rapidamente a chalupa, fazendo-a retroceder, ficaram por sobre as ondas, satisfeitos de estarem longe. Struan ajudou Culum a vestir roupas secas e depois enfiou-se numa camisa limpa, pregueada, e num jaquetão mais quente. Perry ajudou-o a tirar suas botas encharcadas.

— Obrigado — disse Struan.

— Está doendo? — perguntou Culum, vendo as botas.

— Não.

— Quanto ao Sr. Robb, senhor — disse Perry. — Depois que Culum saiu, ele foi procurar bebida. Eu lhe disse que não, mas não quis ouvir. — Ele continuou, com hesitação. — O senhor tinha dado ordens. Então, a cabina ficou meio torta, mas eu tirei a bebida de suas mãos. Quando ele voltou a si, estava bem. Eu o levei a bordo do China Cloud e entreguei-o à sua mulher.

— Fez bem, Isaac. Obrigado.

Struan ajudou Culum a se servir de alimento — carne cozida, bolinhos de massa, frango frio, batatas, biscoitos duros de bordo — e pegou um canecão de estanho cheio de chá quente e doce para si próprio.

— Sua Excelência envia suas condolências. Ele gostaria que o senhor subisse a bordo, quando lhe convier.

Struan esfregou o rosto e sentiu o espetar da barba, imaginando logo por que sempre se sentia sujo, quando tinha as faces não barbeadas e os dentes sem escovar.

— Sua navalha está ali — disse Perry, indicando uma mesa lateral. Ele previra a necessidade que Struan sentiria de se arrumar. O Tai-Pan tinha uma fanática obsessão com seu asseio pessoal. — Tem água quente.

— Obrigado.

Struan encharcou uma toalha na água e limpou o rosto e a cabeça. Em seguida, cobriu o rosto de sabão e se barbeou habilmente, sem espelho. Depois, mergulhou uma pequena escova em seu canecão de chá e começou a limpar os dentes, vigorosamente. Enxaguou a boca com chá e atirou fora o resíduo. Lavou o canecão com chá fresco e tornou a enchê-lo, bebendo grande quantidade. Havia um pequeno vidro de água-de-colônia junto às suas coisas de barbear, e ele derramou algumas gotas nas mãos, esfregando-as no rosto.

Sentou-se, reanimado. Culum só brincava com a comida.

— Você precisa comer, rapaz.

— Não tenho fome, obrigado.

— Coma, de qualquer jeito. — O vento agitou os cabelos vermelho-dourados de Struan, que os usava compridos e lisos, e ele os escovou para trás. — Minha tenda está armada, Isaac?

— Claro. O senhor deu ordens. Está num outeiro, acima do local onde se encontra

o pau da bandeira.

— Diga a Chen Sheng, em meu nome, para ir a Macau comprar mel e ovos frescos. E conseguir ervas chinesas que curem as indisposições e seqüelas resultantes da peste de Bengala.

— Eu estou bem, pai, obrigado — Culum protestou, fracamente. — Não preciso de nenhuma infusão de feiticeiros pagãos.

— Não são feiticeiros iguais aos que conhecemos como tal — disse Struan. — E são chineses, não pagãos. Já me salvaram muitas vezes. O Oriente não é como a Europa.

— Não precisa se preocupar comigo, pai.

— Preciso, sim. O Oriente não é lugar para os fracos. Isaac, mande o China Cloud a Macau, com Chen Sheng e, se não voltar em tempo recorde, o Capitão Orlov e todos os oficiais estarão desligados. Chame a chalupa.

— Talvez Culum devesse ir para Macau no navio, Sr. Struan.

— Ele vai ficar sob minhas vistas até eu considerar que está bom.

— Ele seria bem tratado em Macau. A bordo não há...

— Pelo sangue de Deus, Isaac, não vai fazer o que eu disse? Chame a chalupa.

Perry enrijeceu-se instantaneamente e gritou para a chalupa vir à praia. Struan, com Culum a seu lado, sentou-se a meia-nau, Perry estava atrás deles.

— Para a nau capitânia! — Struan ordenou, verificando automaticamente a posição de seus navios, o vento, e estudando as nuvens, numa tentativa de ler sua mensagem de tempo. O mar estava calmo. Mas ele pressentia perturbações.

A caminho da nau capitânia, Struan leu os despachos. Lucros relativos ao chá do ano passado, bom. Perry fizera uma viagem lucrativa, bom. Uma cópia da conta da carga do Scarlet Cloud, comprada por Perry em Calcutá, ruim: duzentas e dez mil libras esterlinas de ópio perdidas. Graças a Deus, o navio estava no seguro — embora isto não fosse substituir os homens e o tempo perdido, enquanto outro navio estava em construção. A carga de ópio era contrabando e não poderia ser segurada. Lucro de um ano desaparecera. O que acontecera com a embarcação? Tempestade ou pirataria? Tempestade, mais provavelmente. A não ser que tivesse deparado com um dos navios corsários espanhóis, franceses ou americanos — sim, ou ingleses — que infestavam os mares. Finalmente, ele rompeu o selo da carta de seu banqueiro. Leu-a e explodiu de raiva.

— O que é? — Culum perguntou, assustado.

— Apenas uma dor antiga. Nada. Não é nada. — Struan fingiu ler o próximo despacho enquanto, interiormente, estava cheio de raiva com o conteúdo da carta. — Meu Deus do céu! “Lamentamos informar-lhe que, inadvertida e momentaneamente, o crédito foi exageradamente ampliado e houve uma corrida ao banco, iniciada por malignos rivais. Por isso, não podemos mais manter nossas portas abertas. A junta diretiva determinou que poderemos pagar seis centavos por libra. Tenho a honra de ser, senhor, seu mais obediente criado...” E temos quase um milhão de libras esterlinas em letras deles. Vinte e cinco mil libras esterlinas por um milhão, e nossas dívidas elevando-se a quase um milhão de libras esterlinas. Estamos em bancarrota. Meu Deus, adverti Robb para não colocar todo o dinheiro num só banco. Principalmente com toda a especulação que estava sendo feita na Inglaterra, um banco podendo emitir papel-moeda na quantia que quisesse.

“Mas esse banco é seguro”, dissera Robb, “e precisamos do dinheiro num só bloco, para garantir empréstimos” — e Robb continuara explicando os detalhes de uma complicada estrutura financeira que envolvia bônus espanhóis, franceses e alemães e bônus da Dívida Nacional e, no final, dava a Struan e Companhia uma posição bancária internacionalmente segura e um enorme poder aquisitivo para expandir a frota, como Struan queria, e comprar para a Casa Nobre privilégios especiais em lucrativos mercados alemães, franceses e espanhóis.

— Muito bem, Robb — ele disse, sem entender as complicações, mas confiando que as palavras de Robb fossem sábias.