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“Sob os Regulamentos, estávamos sem defesa, nosso comércio era controlado e poderia ser sangrado à vontade. Mesmo assim, ganhamos dinheiro. — Ele sorriu. — Ganhamos uma porção de dinheiro, e eles também. A maioria dos Regulamentos foi desobedecida por causa da cobiça das autoridades. Os importantes, relativos à proibição de navios de guerra, de contato oficial fora da alçada dos mercadores da Co-hong, da presença de esposas em Cantão, de ficar além de março e chegar antes de setembro, permaneceram em vigor.

“E, o que é tipicamente chinês, os pobres mercadores da Co-hong foram considerados responsáveis por nós. Quaisquer “complicações”, e a ira do imperador caía sobre eles. O que, outra vez, é tão completamente chinês. A Co-hong foi taxada pesadamente e está sendo taxada, até que vá à bancarrota a maioria de seus membros. Possuímos seiscentos mil guinéus de seu papel sem valor. Brock tem quase a mesma quantidade. De acordo com o costume chinês, a Co-hong tem de comprar suas posições ao imperador, e se espera que enviem continuamente grandes “presentes” para seus superiores... cinqüenta mil taéis de prata é o “presente” costumeiro, no dia do aniversário do imperador, de cada um dos membros.

“Acima da Co-hong, está a taxação do chefe de cobrança pessoal do imperador. Nós o chamamos Hoppo. Ele é o responsável pela sangria dos impostos cobrados aos mandarins de Cantão, à Co-hong, ou a qualquer pessoa. O Hoppo também compra sua posição... ele é o maior comerciante de ópio, aliás, e ganha uma fortuna com isso.

“Então, se permitirem a presença de um mandarim em Hong Kong, permitem a entrada de todo o sistema. O mandarim será um Hoppo. Todo chinês estará sujeito a ele.

Todo comerciante chinês que vier negociar terá de “comprar” licenças e será obrigado a pagar impostos e, em troca, eles nos sangrarão. O Hoppo destruirá aqueles que nos ajudarem e ajudará aqueles que nos odiarem. E não desistirão até nos expulsarem.

— Por quê?

— Porque são chineses.

Struan se espreguiçou para aliviar os ombros, sentindo o cansaço dominá-lo, depois caminhou até o aparador e despejou outro conhaque. Gostaria de poder ser chinês mais ou menos por uma hora, pensou ele, exausto. Então, poderia manobrar para conseguir um milhão de taéis de alguma parte, sem nenhum problema. Se esta é a resposta, disse ele a si próprio, então tente pensar como um chinês. Você é o Tai-Pan dos “bárbaros”, o mandarim, com poder ilimitado. De que adianta o poder, se você não o utilizar para mudar o pagode e ajudar a si mesmo? Como pode você usar seu poder? Quem tem um milhão de taéis? A quem você poderá pressionar, para consegui-los? Quem lhe deve favores?

— O que deveremos fazer, Dirk? Quero dizer, concordo plenamente — disse Longstaff.

— É melhor você mandar a Ti-sen um despacho imediato. Diga-lhe... não, ordene-lhe...

Struan parou abruptamente, enquanto seu cérebro clareava. Sua fadiga desapareceu. Você é um lacaio estúpido, parlador e idiota! Ti-sen! Ti-sen é a sua chave. Um mandarim. É tudo que você precisa arranjar. Duas medidas simples: primeiro, cancelar seu acordo, Longstaff, como deve ser cancelado, de qualquer maneira; segundo, dentro de uma ou duas semanas, fazer uma oferta secreta a Ti-sen, dizendo que, em troca de um milhão, em barras de prata, você fará Longstaff modificar sua posição e permitir a presença de um mandarim em Hong Kong. Ti-sen vai aceitar correndo porque, imediatamente, terá de volta tudo o que a guerra o forçou a conceder; ele arrancará o milhão em impostos da Co-hong, e eles ficarão satisfeitíssimos em pagar, porque, imediatamente, acrescentarão isso ao preço do chá que estão loucos para nos vender, e nós estamos loucos para comprar. O pobrezinho do Willie não representa nenhum problema, e não haverá objeções, por parte dos outros negociantes, a um mandarim. Não chamaremos o homem “mandarim”, nós vamos inventar um novo nome, para afastar qualquer um da pista. “Comissário de Comércio”. Os negociantes não farão objeções ao “comissário de comércio” chinês, porque ele assistirá o comércio e simplificará o pagamento alfandegário. Agora, como fazer a oferta secreta? Obviamente, o velho Jin-qua. Ele é o mais rico e o mais astuto dos integrantes da Co-hong e nosso principal fornecedor, e você o conhece há vinte anos. Ele é o homem, sem a menor dúvida.

Um mandarim garantirá o futuro da Casa Nobre. Sim. Mas ele destruirá Hong Kong. E destruirá o plano. Quer apostar como você fará o trato, sabendo que terá de lográ-lo depois? É um risco terrível... você sabe que um mandarim significa todo o sistema. Você não pode deixar esse legado diabólico para Robb ou Culum, ou os filhos deles. Mas, sem o dinheiro, não haverá Casa Nobre, e nem futuro.

— Você dizia o que, Dirk?

— Ordene a Ti-sen, em nome da rainha, para esquecer a idéia de colocar um mandarim em Hong Kong.

— É exatamente a minha maneira de pensar. — Longstaff, todo feliz, sentou-se à escrivaninha e pegou a pena. — O que devo dizer?

E o que deverei eu fazer, pobre Willie, com relação à segunda medida?, Struan perguntou a si mesmo. Será que o fim justifica os meios?

— Escreva isto: “Para Ti-sen, em Cantão. Uma Proclamação Especiaclass="underline" Só Sua Majestade Britânica, a Rainha Vitória, tem a autoridade para nomear funcionários para a ilha britânica de Hong Kong. Não haverá funcionários chineses aqui, e nem alfândega nenhuma.” — Hesitou e depois continuou, deliberadamente, sentindo que a oportunidade era aquela. — “E todos os chineses residentes na Colônia de Sua Majestade, Hong Kong, serão doravante súditos britânicos e estarão submetidos apenas às leis da Inglaterra.”

— Mas isto ultrapassa minha autoridade!

— O costume é que os plenipotenciários ultrapassem sua autoridade. Por isso são tão cuidadosamente escolhidos, Will. Este é o motivo de termos um império. Raffles, Hastings, Clive, Raleigh, Wellington. Você tem a autoridade plenipotenciária do Governo de Sua Majestade para acertar um tratado com a China. O que eles sabem sobre a China em nosso país, ou o que se importam com ela? Mas você é um inovador, um artífice da História, Will. Estará disposto a aceitar uma pequena ilha, estéril, quase desabitada, quando é um costume mundial se apoderar de continentes inteiros, quando você poderia tomar toda a China, se quisesse? Você é inteligente demais para se contentar com tão pouco.

Longstaff hesitou e chupou o alto da pena.

— Sim, mas já concordei que os chineses em Hong Kong estariam submetidos à lei chinesa, com a proibição de todas as formas de tortura. — Uma gota de suor alcançou-lhe o queixo. — Era uma cláusula do tratado e eu emiti uma proclamação especial.

— Você mudou de idéia, Will. Do mesmo modo como Ti-sen mudou também. Não havia cláusulas para que fosse nomeado um mandarim.

— Mas ficou combinado.