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Struan abriu com habilidade a garrafa e encheu copos limpos para Brock e para si mesmo.

— Está bem gelado, rapaz. No ponto. — Brock estalou os lábios. — Vinte e cinco mil não é grande coisa por um milhão, verdade? Struan nada disse. Seu rosto estava impassível.

— Seis centavos a libra, eles disseram. Recebi uma carta no pacote de correspondência de ontem. Perdi dez mil mangos. É ruim. É muito ruim que um banco jogue com o dinheiro de seus clientes. — Brock deu uma risadinha. — Por acaso, encontrei aquele patife do Skinner. Ele também achou ruim. Vai escrever um artigo. A manchete do jornal, aposto. E com toda razão. Cortou um pedaço de torta de maçã e comeu com gosto.

— Ah, sim, a propósito, possuo oitocentas mil letras à vista de Struan e Companhia. Andei comprando, nos últimos seis meses, apesar das dificuldades. Pelo menos, meu filho Morgan e nossos agentes da cidade de Londres andaram comprando.

— Um bom investimento, Tyler. Muito bom.

— Sim. Skinner também achou isso, Dirk, meu rapaz. Ele ficou muito chocado com seu mau pagode, mas eu lhe disse que manterei os nomes de seus navios. É mau pagode mudar os nomes. Mas ele melhorarão sob minha bandeira.

— Você precisa conseguir esses navios, primeiro.

— Dentro de trinta dias, eles serão meus, rapaz. É quando as letras vão vencer. Todo mundo já saberá o que aconteceu. E você deixará de ter crédito no Oriente. Está liquidado, rapaz.

— Talvez eu destrua meus navios, antes de você ficar com ele.

— Você não faria uma coisa dessas, Dirk. Eu o conheço muito bem. Outros fariam, mas não você. Somos parecidos, quanto a isso. Navios são uma coisa toda especial. Melhor do que qualquer prostituta. — Ele terminou seu champanha. Struan tornou a encher o copo.

— Foi você quem começou a corrida ao banco?

— Não. Se tivesse pensado nisso eu teria começado, há muito tempo. Uma ótima idéia. Imagine você com os colhões presos no laço da armadilha.

— Se tiver sido proposital, eu descobrirei.

— Foi proposital, rapaz.

— Quem fez isso?

— Morgan — disse Brock. — Tenho de creditar a ele... o moleque está crescido. Sim. Foi meu filho, e estou orgulhosíssimo. — Ele coçou, todo satisfeito, os piolhos que representavam um estilo de vida. — Então, você está quebrado, Dirk. Depois de todos esses anos. Liquidado.

— Muita coisa pode acontecer, em trinta dias.

— Sim, pode. Ouvi dizer que seu filho está encarregado da venda das terras.

— Sim. Mas será honesta. Quem fizer a oferta mais alta fica com a terra. Não enganamos ninguém, Tyler. Outras pessoas, sim. Nós não precisamos.

— Um raio lhe parta! — Brock berrou. — Está querendo dizer que eu trapaceio?

— Você trapaceia o tempo todo — disse Struan, encolerizado. — Você trapaceia com seus homens, trapaceia com seus navios, e é isto que vai destruí-lo. Não se pode construir sempre com o chicote.

— Não faço nada além dos outros, por Deus. Só porque você andou recebendo umas merdas de idéias da moda, isto não quer dizer que os outros estejam errados. O chicote mantém a ralé em seu lugar. Ralé!

— Você vive do chicote e vai morrer através dele.

— Quer acertar nossas contas agora? Chicote contra chicote? Faca contra faca? Ora, por Deus! Ou será que é um covarde?

— Eu já lhe disse, um dia, e vou dizer-lhe pela última vez. Um dia, eu irei atrás de você, com um chicote... talvez esta noite, talvez amanhã, talvez no dia seguinte. Mas, por Deus, um dia eu irei atrás de você. E vou lhe dizer outra coisa. Se, por acaso, você morrer antes de eu estar preparado, irei atrás de Gorth e Morgan e destruirei sua companhia.

Brock puxara a faca.

— Talvez, rapaz, eu corte sua garganta agora.

Struan serviu mais champanha. Agora, a garrafa estava vazia.

— Abra outra garrafa. Há muitas mais.

Brock riu.

— Ah, Dirk, rapaz, você é um tipo único. Está falido e ainda quer fingir. Você está liquidado, está ouvindo, rapaz? Sua Casa Nobre está no fim da linha. E você é um covarde!

— Ah, não sou um covarde, Tyler. Você sabe disso.

— Sabe aquele outeiro onde ia ficar sua Grande Casa? — perguntou Brock, com os olhos reluzindo.

— Sim.

— É meu, rapaz. Eu vou comprá-lo. Você pode oferecer quanto quiser, eu vou oferecer mais.

Struan sentiu o sangue subir-lhe à cabeça, pois sabia que não tinha dinheiro para competir com Brock agora. A não ser que fizesse o pacto com Ti-sen. A não ser que entregasse Hong Kong.

— Vá para o inferno!

— Será meu, rapaz. E todo este rochedo maldito. — Brock esvaziou o copo e arrotou outra vez. — Depois que sua companhia falir, eu vou expulsar você e sua gente desses mares. — Ele pegou uma bolsa e contou vinte guinéus de ouro. Depois atirou as moedas no chão da tenda. — Compre um caixão para você.

Saiu da tenda, com arrogância.

— Com sua licença, senhorrr — disse McKay. Struan saiu de seu devaneio.

— Sim?

— O Sr. Culum está em terra. Ele quer falar com o senhor. Struan ficou espantado ao ver que a lua aguada estava alta no céu, e era noite fechada.

— Eu vou falar com ele.

— Vieram outras pessoas, senhorrr. Aquele chinês, Gordon Chen. A Srta. Sinclair. Um casal que não conheço. O velho Quance. Eu disse que o senhorrr ia falar com eles amanhã. Espero ter feito bem, deixando o Sr. Culum vir, sem pedir. — McKay viu os vinte guinéus de ouro no chão, mas nada disse.

— Enquanto obedecer às ordens, você nunca estará errado, McKay.

Culum apareceu à porta da tenda.

— Estou perturbando você, papai?

— Não, rapaz. Sente-se.

Culum viu as moedas no chão e começou a pegá-las.

— Deixe onde estão.

— Por quê?

— Porque quero que sejam deixadas aí. Culum sentou-se.

— Quero falar com você.

— Não estou com disposição para falar, rapaz.

— Falava sério, quando me tornou sócio?

— Sim.

— Não quero ser sócio. Não quero ficar no Oriente. Quero voltar para nossa terra.

— Sei disso mais do que você, Culum. Mas me dê tempo.

— O tempo não vai fazer diferença.

— Você é jovem, rapaz. Terá muito tempo. Tenha paciência comigo. E com a China. Robb lhe disse como proceder, quanto à venda de terras?

— Sim. — Maldito tio Robb, Culum pensou. Se, pelo menos, não tivesse explodido com papai e dito que ia embora. Maldito, maldito, maldito. Que vá para o inferno aquele banco amaldiçoado. Arruinou tudo. Pobre papai. — Acho que serei capaz de fazer tudo.

— Você não terá problema nenhum, se tudo for feito de maneira correta. Quem oferecer mais fica com a terra.

— Sim, claro. — Culum olhou para os guinéus. — Por que quer que as moedas fiquem aí?

— São o dinheiro para eu comprar meu caixão.

Não compreendo.

Struan contou-lhe o que acontecera com Brock.

— É melhor você saber a respeito dele, Culum. Tenha cuidado, porque ele irá atrás de você, como eu vou atrás de Gorth.

— Os pecados do pai não são culpa do filho.

— Gorth Brock é igual ao pai.

— Cristo não ensina o perdão?

— Sim, rapaz. Mas eu não posso perdoá-los. Eles são o que há de mais podre sobre a face da terra. São tiranos e acreditam que o chicote responde a todas as perguntas. Uma coisa certa, na terra: dinheiro é poder... seja você rei, proprietário de terras, caudilho, mercador ou seareiro. Sem dinheiro, a pessoa não pode proteger o que tem, e nem melhorar a sorte de outrem.

— Então, está dizendo que os ensinamentos de Cristo estão errados?

— Não estão errados, rapaz. Estou dizendo que alguns homens são santos. Alguns são felizes sendo mansos, humildes e desprovidos de ambição. Alguns homens nascem contentes com o segundo lugar... mas não eu. E nem Brock. Você é assim?