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— Não sei.

— Você será submetido ao teste, mais cedo ou mais tarde. Então conhecerá a si próprio.

— Então, quer dizer que o dinheiro é tudo?

— Quero dizer que sem poder não se pode ser santo, nos tempos que correm. O poder por si mesmo é um pecado. O dinheiro por si mesmo é um pecado.

— É tão importante assim ter dinheiro e poder?

— Não, rapazinho — disse Struan, com um sorriso irônico.

— O importante é a falta de dinheiro.

— Por que você quer poder?

— Por que você quer, Culum?

— Talvez eu não queira.

— Sim Talvez. Gostaria de tomar uma bebida, rapaz?

— Vou querer um pouquinho de champanha.

— Já comeu?

— Sim, obrigado. Ainda não conheço muito a mim mesmo. — disse Culum.

— Tem tempo, rapazinho. Estou tão satisfeito, de você se encontrar aqui! Muito satisfeito. Culum tornou a olhar para as moedas.

— Realmente, não tem importância, não é? Eu ser sócio ou não, e todo o resto. A companhia está liquidada. O que você vai fazer?

— Por vinte e nove dias, ainda não estamos liquidados. Se o pagode estiver contra nós, esta versão da Casa Nobre morrerá. Então começaremos de novo. — Não se iluda, ele pensou, você não pode jamais começar outra vez.

— Uma batalha interminável?

— O que você pensa que é a vida, rapaz?

— Posso desistir de ser sócio se não estiver gostando, ou se achar que não sou bom, e não mereço o lugar? De acordo com meus desejos?

— Sim. Mas, se um dia chegar a ser Tai-Pan, não. O Tai-Pan não pode jamais renunciar, até ter certeza de que a casa está em boas mãos. Ele precisa ter certeza. É sua responsabilidade final.

— Se os mercadores chineses nos devem tanto, não podemos cobrar? Assim teremos o dinheiro para pagar a Brock.

— Eles não têm o dinheiro. — Com mil demônios, disse Struan a si próprio, você está numa armadilha. Decida. É Ti-sen ou nada.

— E Sua Excelência? Ele não pode adiantar alguma coisa? Do dinheiro do resgate?

— Pertence à Corôa. Talvez o Parlamento cumpra seu acordo, talvez o repudie. O dinheiro não nos chegará às mãos em menos de quase um ano.

— Mas nós o conseguiremos. Com certeza, Brock aceitará suas garantias, não? A voz de Struan tornou-se áspera.

— Já lhe descrevi a medida da caridade de Brock. Eu não lhe daria vinte guinéus, se eu o tivesse preso em armadilha igual. Maldito seja, e maldita seja sua cria.

Culum mexeu-se, desajeitado, na cadeira. Seu sapato tocou num dos guinéus, e a moeda reluziu repentinamente.

— Sua Excelência não é muito... bom, ele não é um tanto tolo?

— Ele está deslocado na Ásia... isto é tudo. O homem errado para o posto. Eu estaria perdido, nas cortes da Europa. Mas ele é plenipotenciário. É tudo que importa. Sim, ele é tolo... mas tenha cuidado com ele também. Tenha cuidado com todo mundo.

— Ele sempre faz o que você manda?

Struan olhou a noite, lá fora, através da porta da tenda.

— Ele aceita meus conselhos, na maioria das vezes. Desde que eu seja o último a dá-los. Culum mexeu em outro guinéu.— Deve haver alguma coisa... Alguém a quem recorrer. Você deve ter amigos.

Inexoravelmente, a mente de Struan estava cheia do nome da única pessoa que poderia desmontar a armadilha: Ti-sen. Brock vai tomar os navios com toda tranqüilidade, ele pensou, fervendo de raiva impotente. Sem os navios, você está perdido, rapazinho. A casa, Hong Kong, o plano. Sim, você pode começar outra vez, mas não se iluda. Você não pode construir e tripular uma armada assim, outra vez. Jamais se equiparará a Brock novamente. Jamais. Vai ficar em segundo lugar. Será o segundo lugar para sempre.

Struan sentiu pulsarem as veias de seu pescoço. Sua garganta estava seca. Não vou ficar em segundo lugar. Por Deus Nosso Senhor, eu não posso. Eu não posso. Eu não posso. Diante de Brock ou de qualquer outra pessoa.

— Amanhã, quando o China Cloud voltar, eu vou a Cantão. Você vai comigo.

— E a venda de terras? Não devo começar os procedimentos?

— O diabo carregue a venda de terras! Temos a casa para salvar, em primeiro lugar. Vá para bordo do Resting Cloud, rapaz. Partiremos logo que possível.

— Está bem. — Culum levantou-se.

— Boa-noite, rapazinho.

As moedas prenderam o olhar de Culum, hipnotizando-o. Ele começou a pegá-las.

— Eu lhe disse para deixar aí essas moedas!

— Não posso. — Havia gotas de suor na testa de Culum. As moedas pareciam queimar-lhe os dedos. — Eu preciso... eu preciso ficar com elas.

— Por que, pelo amor de Deus, hein?

— Não sei. Simplesmente, quero ficar com elas. — Ele pôs as moedas em seu bolso. — Agora são minhas. Boa-noite, papai.

CAPÍTULO QUATRO

Struan estava jantando sozinho no espaçoso salão de refeições da majestosa feitoria da companhia, na Colônia de Cantão. A grande mansão de três andares fora construída pela Companhia das índias Orientais, há quarenta anos. Struan sempre a cobiçara como o local perfeito para a Casa Nobre. Oito anos atrás, ele a comprara.

O salão de refeições ficava no segundo andar, com vista para o Rio Pérola. Abaixo deste piso, havia um labirinto de escritórios, armazéns e depósitos. Acima, aposentos residenciais e os cômodos particulares do Tai-Pan, cuidadosamente separados. Havia pátios, passeios, suítes e dormitórios em toda a extensão do interior. Entre quarenta e cinqüenta funcionários portugueses viviam e trabalhavam no prédio, e entre dez e quinze europeus de outras nacionalidades. Cem criados chineses do sexo masculino. As criadas não eram permitidas, de acordo com a lei chinesa.

Struan afastou da mesa sua cadeira entalhada, e acendeu um charuto, cheio de irritação. Uma grande lareira aquecia o mármore que revestia paredes e piso. À mesa poderiam sentar-se quarenta pessoas, a prataria era georgiana, e o candelabro de cristal, todo iluminado por velas. Ele caminhou até uma janela e ficou olhando para os negociantes que passeavam pelo jardim, lá embaixo.

Para além do jardim, havia uma praça que ia de um extremo a outro da Colônia, no sentido do comprimento, e era contígua aos cais, na margem do rio. A praça estava, como de hábito, apinhada de vendedores ambulantes chineses, transeuntes, negociantes e compradores, advinhos, escrevedores de cartas, mendigos e cachorros. Fora da feitoria da Companhia, apenas no Jardim Inglês — como era chamado — os mercadores podiam movimentar-se com relativa tranqüilidade. Os chineses, fora os criados, tinham acesso proibido ao jardim e às feitorias. Havia treze prédios no terraço, com colunas que iam de uma ponta a outra da Colônia, com exceção de duas estreitas vielas — a Rua Hog e o Beco Velha China. Só Struan e Brock possuíam prédios inteiros. Os outros negociantes dividiam os restantes, ocupando o espaço necessário às suas necessidades, e. pagavam aluguel à Companhia das índias Orientais, que construíra a Colônia há um século.

Ao norte, a Colônia tinha como fronteira a Rua Treze, das feitorias. As muralhas da cidade de Cantão ficavam à distância de um quarto de milha. Entre as muralhas da cidade e a Colônia havia um formigueiro de casas e galpões. O rio estava congestionado com as inevitáveis cidades flutuantes, dos moradores em barcos. E, acima de tudo, havia um perpétuo murmúrio, pulsante e monótono, sugerindo uma enorme colméia.

Num dos lados do jardim, Struan viu Brock absorto numa conversa com Cooper e Tillman. Ficou imaginando se estariam explicando as complexidades da venda espanhola de chá-ópio a Brock. Boa sorte para eles, pensou, sem rancor. Vale tudo no amor e no comércio.

— Onde estará, com mil demônios, Jin-qua? — Ele comentou, em voz alta.