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— Por favor, senhor. Isto a deixará muito orgulhosa. Eles são perfeitos, dentro do estilo chinês. Se não o fizer, ela vai pensar que o senhor está envergonhado dela. Perderá prestígio terrivelmente, diante do senhor.

— Por quê? .

— Acha que o senhor tirou as bandagens porque pensava que ela o estava enganando.

— Mas, por que eu pensaria assim?

— Porque o senhor é... bom, ela não conhecia nenhum europeu, antes. Por favor, senhor. Só o orgulho que sentir por ela compensará todas as lágrimas.

Então ele medira seus pés e manifestara uma alegria que não sentia, e ela se prosternara diante dele três vezes. Ele detestava ver homens e mulheres prosternando-se, com a testa a tocar o chão. Mas o costume antigo pedia este sinal de obediência de um inferior a um superior, e Struan não podia proibi-lo. Se protestasse, May-may ficaria assustada outra vez e se sentiria embaraçada diante de Gordon Chen.

— Pergunte se seus pés estão doendo agora.

— Vão doer sempre, senhor. Mas eu lhe garanto que ela sentiria muito mais dor se tivesse pés grandes e feios.

May-may então disse algo a Chen, e Struan reconheceu a palavra fan-quai, que significava “demônio bárbaro”.

— Ela quer saber o que fazer para agradar um não-chinês — disse Gordon.

— Diga a ela que os fan-quai não são diferentes dos chineses.

— Sim, senhor.

— E lhe diga que você vai lhe ensinar inglês. Imediatamente. Diga-lhe que ninguém pode saber que ela pode falar inglês. Diante dos outros, deve falar só chinês, ou pidgin, que você também lhe ensinará. Finalmente, você a protegerá com sua vida.

***

— Posso entrar agora? — May-may estava à porta, curvando-se delicadamente.

— Por favor.

O rosto dela era oval, os olhos amendoados, e as sobrancelhas perfeitos crescentes. Um perfume cercava-a agora, e seu vestido comprido e flutuante era do mais fino brocado de seda azul. Seu cabelo estava penteado em crescentes no alto da cabeça, e enfeitado com alfinetes de jade. Ela era alta, para uma chinesa, e sua pele tão branca a ponto de parecer quase translúcida. Era da província de Soochow.

Struan a comprara de Jin-qua, e discutira o preço por muitas semanas, mas sabia que, na realidade, Tchung May-may era um presente de Jin-qua, em troca de muitos favores, no curso de anos; que Jin-qua poderia tê-la vendido facilmente ao homem mais rico da China, a um príncipe manchu e até mesmo ao imperador, pelo seu peso em jade — e não apenas pelos quinze mil taéis de prata que, finalmente, acertaram. Ela era única, sem preço.

Struan ergueu-a e beijou-a, suavemente.

— Agora, conte-me o que está acontecendo. — Ele se sentou na poltrona, e segurou-a em seus braços.

— Em primeiro lugar, vim disfarçada por causa do perigo. Não apenas para mim, mas para você. Sua cabeça ainda está a prêmio. E o seqüestro em troca de resgate é um costume antigo.

— Onde deixou as crianças?

— Com a Irmã Mais Velha, claro — ela respondeu.

A Irmã Mais Velha era como May-may chamava a ex-amante de Struan, Kai-sung, de acordo com o costume, embora as duas não fossem parentes. E agora Kai-sung era a terceira esposa do compradore de Struan. Entretanto, entre May-may e Kai-sung havia um intenso afeto, e Struan sabia que as crianças estariam em segurança, e receberiam tantos carinhos como se fossem dela própria.

— Muito bem — disse. — E como estão eles?

— Duncan está com o olho machucado. Escorregou e caiu, e então eu chicoteei sua amaldiçoada ama, até ficar com o braço cansado. Duncan tem mau gênio, por causa do sangue bárbaro.

— É... o seu, não meu. E Kate?

— Nasceu seu segundo dente. Sinal de muita sorte. Antes do segundo aniversário.

— Ela se aninhou em seus braços um momento. — Então, li jornal. Aquele homem, Skinner? Mais pagode ruim, não? Aquele maldito Brock quer falir você, usando grandes dívidas em dinheiro. É verdade?

— Em parte, é. Sim, a menos que aconteça uma mudança de pagode, estamos falidos. Não vai haver mais sedas, perfumes, jades e casas — ele brincou.

Ayeeee yah! — disse ela, abanando a cabeça. — Você não é o único homem na China.

Ele lhe deu uma palmada no traseiro, e ela o espetou com suas unhas compridas, até ele lhe agarrar o pulso.

— Não diga isso outra vez — declarou ele, e beijou-a apaixonadamente.

— Sangue de Cristo — disse ela, tentando respirar outra vez. — Veja o que você fez com meu cabelo. Aquela puta preguiçosa, Ah Gip, passou uma hora fazendo esse penteado, e veja só!

Ela sabia que o agradava muito e tinha orgulho de poder agora, aos vinte anos, ler e escrever inglês e chinês e falar inglês e cantonês, bem como seu próprio dialeto de Soochow, e também mandarim, a língua de Pequim e da corte do imperador; e também por saber muitas coisas que Gordon Chen aprendera na escola, pois ele ensinara bem, e entre eles havia um grande afeto. May-may sabia que ela era única em toda a China.

Houve uma discreta batida na porta.

— Um europeu? — ela sussurrou.

— Não, garota. É apenas um criado. Eles têm ordem para anunciar todos que chegam. Sim?

O criado estava acompanhado de dois outros, e todos afastaram os olhos de Struan e da moça. Mas sua curiosidade era óbvia, e eles gastaram mais tempo do que o necessário para pôr os pratos contendo comida chinesa e os pauzinhos.

May-may atacou-os com uma torrente de cantonês e eles curvaram-se nervosamente e saíram às pressas.

— O que você disse a eles? — perguntou Struan.

— Eu simplesmente os avisei, por Deus, que se dissessem a alguém que eu estava aqui eu cortaria pessoalmente suas línguas e lhes arrancaria os olhos, e depois convenceria você a acorrentá-los num de seus navios e o afundaria no mar, junto com suas malditas esposas e filhos e parentes e, antes disso, você colocaria mau-olhado nesses malditos patifes e em sua maldita descendência, para sempre.

— Pare de praguejar, sua diabinha. E pare de brincar a respeito de mau-olhado.

— Não é brincadeira. Você tem isso, seu demônio bárbaro. Para todo mundo, menos para mim. Eu sei lidar com você.

— O diabo carregue você, May-may. — Ele interceptou-lhe as mãos e a carícia íntima. — Coma, enquanto a comida está quente e, mais tarde, eu vou cuidar de você. — Ele a pegou e carregou-a até à mesa.

Ela o serviu de camarões fritos, porco magro, cogumelos cozidos requintadamente em soja, noz-moscada, mostarda e mel, e depois serviu a si própria.

— Pela morte de Cristo, estou faminta — disse ela.

— Faça o favor de parar de praguejar!

— Você se esquece do seu “por Deus”, Tai-Pan! — Ela estava exultante, e começou a comer com grande gosto.

Ele pegou os pauzinhos e começou a usá-los, habilmente. Achou a comida soberba. Levara meses para se acostumar com o sabor. Nenhum dos europeus comia comida chinesa. Struan também, antes, preferia a cozinha sólida da velha Inglaterra, mas May-may lhe ensinara que era mais saudável comer como os chineses.

— Como você chegou até aqui? — perguntou Struan. May-may escolheu um dos grandes camarões fritos e cozidos em seguida em molho e verduras com gosto de soja, e elegantemente o decapitou, começando a lhe tirar a casca.

— Comprei passagem numa lorcha. Comprei um bilhete fantasticamente barato, de terceira classe, e me sujei para maior segurança. Você me deve cinqüenta mangos.

— Tire de sua mesada. Não pedi a você para vir aqui.

Esta vaca cria faz dinheilo bem fácil, não se incomodi.

— Pare com isso e se comporte.

Ela riu, ofereceu-lhe o camarão e começou a tirar a casca de outro.

— Obrigado, não quero mais.

— Coma tudo. Fazem muito bem a você. Eu já lhe disse muitas vezes que eles dão muita saúde e muita potência a você.