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— Os nossos contratos iranianos ainda são muito lucrativos. — Gavallan estava dizendo. — Não podemos acusar nossos sócios quanto a isso, e com os contratos da Guerney, ficaremos como porcos na lama!

Sim, pensou McIver, embora estejam nos espremendo mais a cada ano, de modo que nossa parte vai ficando cada vez menor e a deles cada vez maior.

— ...Eles têm penetração no país, sempre tiveram, e juram por tudo o que é mais sagrado que tudo vai se ajeitar. Eles precisam de helicópteros para prestar assistência aos seus campos de petróleo. Todo mundo aqui diz que tudo isso vai passar. O ministro, o embaixador deles, o nosso. Por que eu não acreditaria? O xá fez o possível para modernizar o país, a renda da população aumentou, o analfabetismo caiu. Os lucros com o petróleo são enormes, e vão subir mais ainda assim que esta confusão terminar, segundo o ministro. O mesmo dizem meus contatos em Washington, até o velho Willie da ExTex, e pelo amor de Deus, ele deve saber mais do que qualquer pessoa. A aposta é de cinqüenta para um que as coisas estarão normais dentro de seis meses, o xá vai abdicar em favor do seu filho Reza que estabelecerá uma monarquia constitucional Enquanto isso, acho que nós dev..

A ligação foi cortada. McIver bateu no gancho ansiosamente. Quando a linha voltou, dava apenas sinal de ocupado. Com raiva, bateu com o telefone. De repente, a luz voltou.

— Droga — disse Genny — a luz da vela é muito mais bonita. Pettikin sorriu e apagou as luzes. A sala ficou mais agradável, mais aconchegante; a prataria brilhava na mesa que ela tinha posto mais cedo.

— Você tem razão, Genny, mais uma vez.

— Obrigada, Charlie. Vou lhe dar uma porção extra. O jantar está quase pronto. Duncan, pode tomar mais um uísque, não tão forte quanto o que você tomou escondido, e não banque o inocente, mas depois de falar com o nosso Líder Destemido, até eu preciso de um estímulo extra. Durante o jantar você me conta o que ele disse. — Ela os deixou a sós.

McIver relatou a Pettikin a maior parte do que Gavallan dissera — Pettikin não era diretor nem da S-G nem da CHI, então, por força do ofício, McIver tinha que decidir sozinho a respeito de muita coisa. Pensativo, caminhou até a janela, contente de ter falado com seu velho amigo. Faz muitos anos, pensou, quatorze.

No verão de 1965, quando a colônia estava envolvida pela revolução, com os Guardas Vermelhos de Mao Tsé-tung agitando toda a China Continental, dilacerando a terra natal e começando a se espalhar para as ruas de Hong Kong e Kowloon, chegara a carta de Gavallan. Naquela época, o negócio de helicópteros de McIver estava à beira da falência, ele estava atrasado no pagamento do aluguel do seu pequeno helicóptero, a Genny tentava agüentar com dois filhos adolescentes num apartamento mínimo e barulhento em Kowloon, onde os tumultos eram mais violentos.

— Pelo amor de Deus, Gen, dê uma olhada nisto! — A carta dizia: "Caro sr. McIver, talvez o senhor se lembre de que nos encontramos uma ou duas vezes nas corridas quando eu estava trabalhando na Struan's há alguns anos. Nós dois ganhamos uma bolada num cavalo chamado Chinês. O tai-pan, Ian Dunross, sugeriu que eu lhe escrevesse, já que tenho necessidade imediata de sua experiência, sei que o senhor lhe ensinou a pilotar helicópteros, e ele o elogiou muito. O petróleo do mar do Norte é um fait accompli. Eu defendo a teoria de que a única maneira de abastecer as plataformas, em quaisquer condições de tempo, é através de helicópteros. No momento, isto ainda não é possível; acho que o senhor chamaria isso de Regras de Vôo por Instrumentos, RVI. Nós poderíamos torná-lo possível. Eu tenho as condições de tempo, o senhor tem a habilidade. Mil libras por mês, um contrato de três anos para provar a possibilidade ou a impossibilidade desta idéia, uma gratificação dependendo do sucesso, transporte para o senhor e sua família aqui para Aberdeen, e uma caixa de uísque Loch Vay no Natal. Por favor, telefone o mais depressa possível..."

Sem dizer uma palavra, Genny devolvera-lhe a carta e fizera menção de sair da sala, sob o barulho constante da cidade grande — tráfego, buzinas, vendedores de rua, navios, aviões a jato, e a estridente música chinesa entravam pela janela que batia com o vento.

— Onde diabos você vai?

— Vou fazer as malas. — Então ela riu, correu para ele e o abraçou. — É um presente do céu, Duncan, depressa, ligue para ele, ligue para ele agora...

— Mas Aberdeen? RVI em quaisquer condições de tempo? Meu Deus, Gen, isto nunca foi feito antes. Não existe instrumentação para isso, eu não sei se será poss...

— Para você é, rapaz. É claro. Agora, onde terão se metido Hamish e Sarah?

— Hoje é sábado, eles foram ao cinema e...

Um tijolo quebrou uma das janelas e o tumulto recomeçou. O apartamento deles era no segundo andar e dava para uma rua estreita de Mong Kok, uma área altamente populosa de Kowloon. McIver pôs Genny num lugar seguro e olhou cautelosamente pela janela. Lá em baixo, na rua, de cinco a dez mil chineses, todos gritando Mao, Mao, Kwai Loh! Kwai Loh — demônio estrangeiro, demônio estrangeiro — seu grito de guerra habitual, avançavam em direção ao posto policial, a uns cem metros de distância, onde um pequeno destacamento de policiais chineses uniformizados e três oficiais britânicos esperavam, silenciosamente, atrás de uma barricada.

— Meu Deus, Gen, eles estão armados! — exclamou McIver. Geralmente a polícia usava apenas cassetetes. Na véspera, o cônsul da Suíça e a mulher morreram queimados ali perto, quando um grupo virou o carro deles e tocou fogo. À noite, o governador avisara pelo rádio e pela televisão que ordenara à polícia tomar todas as medidas necessárias para acabar com qualquer tumulto.

— Abaixe-se, Gen, saia da frente...

Suas palavras foram abafadas pelos alto-falantes da polícia, com o superintendente ordenando aos revoltosos, em cantonês e inglês, que se dispersassem. A multidão não deu nenhuma atenção e atacou a barricada. Mais uma vez a ordem de parar foi desobedecida. Então o tiroteio começou. Os que estavam na frente entraram em pânico, sendo pisoteados pelos que tentavam fugir. Em pouco tempo a rua estava limpa, exceto por cerca de uns 12 corpos caídos no chão. Aconteceu o mesmo na ilha de Hong Kong. No dia seguinte, toda a colônia estava mais uma vez em paz; não houve mais nenhum distúrbio sério, só alguns poucos guardas vermelhos durões tentando inflamar a multidão, e que foram rapidamente deportados.

Em uma semana McIver vendeu sua parte no negócio de helicópteros, voou para Aberdeen na frente de Genny, e mergulhou em seu novo emprego com prazer. Ela levou um mês para empacotar tudo, resolver o problema do apartamento e vender o que não precisariam mais. Quando chegou, ele já tinha encontrado o apartamento ideal, perto do heliporto de McCloud, que ela imediatamente recusou:

— Pelo amor de Deus, Duncan, fica a milhões de quilômetros da escola mais próxima. Um apartamento em Aberdeen? Agora que você está tão rico quanto Dunross, rapaz, nós vamos alugar uma casa....

Ele sorriu para si mesmo, lembrando-se daqueles velhos tempos. Genny adorando estar de volta à Escócia — ela jamais gostara de Hong Kong, com a vida difícil que levavam lá, com pouco dinheiro e as crianças para cuidar — ele adorando seu trabalho, Gavallan era um homem maravilhoso para quem e com quem se trabalhar, mas odiando o mar do Norte, o frio, a umidade e as dores que o ar carregado de sal trazia. Mas os cinco anos e pouco que passaram lá valeram a pena, renovando e aumentando seus velhos contatos no ainda pequeno mundo dos helicópteros — formado, em grande parte, por antigos pilotos da RAF, da RCAF, da RAAF, da USAF e por todos os serviços aliados — para o dia em que se expandisse. Sempre uma generosa gratificação de Natal, cuidadosamente poupada para a aposentadoria, e sempre aquela caixa de Loch Vay: "Andy, foi isso o que realmente me fez aceitar!" Gavallan sempre como o grande incentivador, vivendo de acordo com o lema que trouxera para a companhia — Seja Ousado. Hoje, Gavallan era conhecido no leste da Escócia como 'o Senhor' de Aberdeen a Inverness e até Dundee, no sul, com tentáculos que alcançavam Londres, Nova York, Houston — onde quer que houvesse a força do petróleo. Sim, o velho chinês é poderoso e também pode enrolar você e a maioria dos homens em volta do seu dedinho, pensou McIver, sem rancor. Olhe como você veio parar aqui...