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— Sem uma sauna a vida não é nada. Primeiro você constrói a sauna, depois a casa; sem a sauna uma casa não é uma casa; vocês, ingleses, não sabem de nada, pelo menos a respeito da vida. — Ele se sentira tentado a contar-lhes que nascera em uma sauna, como muitos finlandeses. E por que não?, como isso era, na verdade, profundamente sensato, o lugar mais quente da casa, o mais limpo, o mais tranqüilo, o mais reverenciado. Não contara nunca a eles, só a Azadeh. Ela compreendera. Ah, sim, pensou, bastante satisfeito, ela compreende tudo.

Lá fora, a floresta estava silenciosa, o céu noturno sem nuvens e com estrelas muito brilhantes, a neve abafando qualquer som.

A um quilômetro passava a única estrada que, serpenteando pelas montanhas em direção a nordeste, ia até Tabriz, a 15 quilômetros de lá, e depois continuava para o norte, até a fronteira soviética, alguns quilômetros adiante. Para sudeste, também pelas montanhas, atingia Teerã, a 240 quilômetros de distância.

A base, Tabriz Um, abrigava dois pilotos — o outro estava de licença na Inglaterra — e dois mecânicos ingleses, os demais eram iranianos: dois cozinheiros, oito operários diurnos, o operador de rádio, e o administrador. Sobre a colina, ficava a cidade de Abu Mard e, no vale embaixo, a fábrica de polpa de madeira para a fabricação de papel, que pertencia ao monopólio florestal, Madeira Iraniana, a quem serviam por contrato. O 212 levava madeireiros e equipamentos para a floresta, ajudava a construir acampamentos e a projetar as poucas estradas que podiam ser construídas, depois prestava serviço aos acampamentos, transportando as equipes substitutas e os equipamentos e retirando os feridos. Para a maioria dos acampamentos do interior, o 212 era a única ligação com o mundo exterior, e os pilotos eram venerados. Erikki amava aquela vida e aquela terra, tão parecida com a Finlândia que ele, às vezes, imaginava estar novamente em casa.

A sauna tornou tudo perfeito. A pequena construção de dois cômodos, nos fundos da cabana, ficava fora da vista das outras cabanas, e fora construída com líquen entre as toras, para um melhor isolamento, com o fogo que aquecia as pedras bem arejado. Algumas das pedras, a camada de cima, ele trouxera da Finlândia. Seu avô retirara-as do fundo de um lago, de onde vêm as pedras das melhores saunas, e dera-as a ele na última licença que passou em casa, há 18 meses.

— Leve-as, meu filho, e com elas, certamente, irá um bom tonto finlandês, o duendezinho marrom que é o espírito da sauna, embora eu não saiba por que você quer se casar com uma estrangeira e não com uma pessoa de sua própria raça.

— Quando o senhor a vir, vovô, também vai adorá-la. Ela tem olhos azuis-esverdeados, cabelos muito escuros e...

— Se ela lhe der muitos filhos, bem, vamos ver. Realmente, há muito tempo que você já deveria estar casado, um homem bonito como você; mas uma estrangeira? Você disse que ela é professora?

— Ela faz parte do Corpo de Ensino do Irã, são jovens, voluntários a serviço do Estado, que vão para as aldeias e ensinam os aldeões e as crianças a ler e escrever, mas principalmente as crianças. O xá e a imperatriz criaram esta organização há alguns anos; e Azadeh entrou quando tinha 21 anos. Ela vem de Tabriz, onde eu trabalho, ensina na nossa cidadezinha, numa escola provisória e eu a conheci há sete meses e três dias. Tinha 24 anos na época...

Erikki exultou ao lembrar-se da primeira vez em que a vira, toda arrumadinha no seu uniforme, com os cabelos soltos, sentada numa clareira na floresta, cercada de crianças; depois, do sorriso que ela lhe deu, e ele viu nos olhos dela, a admiração, pelo seu tamanho e soube imediatamente que esta era a mulher que ele esperara encontrar a vida inteira. Tinha 36 anos naquela ocasião. Ah, pensou, observando-a preguiçosamente, mais uma vez abençoando o tonto que o guiara para aquela parte da floresta. Só mais três meses e, então, dois meses inteiros de licença. Vai ser bom poder mostrar-lhe Suomi — Finlândia.

— Está na hora, Azadeh, querida — disse.

— Não, Erikki, ainda não, ainda não — respondeu semi-adormecida, tonta pelo calor mas não pelo álcool, pois não bebia. — Por favor, Erikki, ainda n...

— Excesso de calor não lhe faz bem — disse com firmeza. Sempre falavam inglês um com o outro, embora ela também falasse russo fluentemente — sua mãe era meio georgiana, oriunda de uma região de fronteira em que era útil e aconselhável ser bilíngüe. Ela também falava turco, a língua mais usada nesta parte do Irã, o Azerbeijão e, é claro, farsi. Salvo umas poucas palavras, ele não falava nem turco nem farsi. Ele se ergueu e enxugou o suor, em paz com o mundo, depois inclinou-se e beijou-a. Ela retribuiu o beijo e tremeu quando as mãos dele a buscaram, e também as dela o buscaram.

— Você é um homem mau, Erikki — disse, e depois espreguiçou-se gloriosamente.

— Pronta?

— Sim.

Abraçou-o quando ele a ergueu nos braços com facilidade. Saíram da sauna para o vestiário, depois abriram a porta e se viram no ar gelado. Azadeh perdeu o fôlego quando o frio a atingiu e se agarrou a Erikki, enquanto ele apanhava um pouco de neve e esfregava-lhe o corpo com ela, fazendo sua carne formigar e queimar, de uma forma que não era desagradável. Em segundos, estava afogueada por dentro e por fora. Tinha levado um inverno inteiro para se acostumar com o banho de neve depois do calor. Agora, sem ele, a sauna ficava incompleta. Rapidamente, fez o mesmo com ele, depois correu com vivacidade, de volta para o calor, deixando-o a rolar e se esfregar na neve por alguns instantes. Ele não notou o grupo de homens e o mulá em pé, no meio deles, que observavam, espantados, sobre a elevação, meio escondidos entre as árvores ao lado do caminho, a uns cinqüenta metros de distância. Quando ia fechar a porta, Erikki os viu. Sentiu-se tomado de cólera e bateu a porta.

— Tem uns aldeões lá fora. Deviam estar nos vigiando. Todo mundo sabe que este lugar fica fora dos limites!

Azadeh também ficou furiosa e eles se vestiram apressadamente. Ele enfiou as botas de pele e calças e suéter grossos, agarrou o enorme machado e saiu. Os homens ainda estavam lá e Erikki ameaçou-os com um rugido, levantando o machado. Espalharam-se quando Erikki se lançou sobre eles, aí um dos homens ergueu a metralhadora e deu uma rajada para o ar que ecoou pela encosta da montanha. Erikki estacou, esquecendo a raiva. Nunca fora ameaçado antes com armas, nem nunca tivera uma apontada para o seu estômago.

— Largue o machado — disse o homem, num inglês vacilante — ou mato você.

Erikki hesitou. Neste momento, Azadeh colocou-se entre eles, derrubou a arma e começou a gritar em turco:

— Como ousam vir até aqui? Como ousam usar armas? O que vocês são, bandidos? Esta terra é nossa. Saiam da nossa terra ou vou mandá-los para a cadeia! — Ela colocara seu pesado casaco de peles sobre o vestido, mas estava tremendo de raiva.

— Esta é a terra do Povo — disse o mulá sombriamente, mantendo-se fora de alcance. — Cubra a cabeça, mulher, cubra...

— Quem é você, mulá? Você não é da minha aldeia! Quem é você?

— Eu sou Mahmud, mulá da mesquita de Hajsta, em Tabriz. Não sou um dos seus lacaios. — Respondeu com raiva; e pulou para o lado quando Erikki investiu contra ele. O homem da metralhadora estava desequilibrado, mas um outro homem, a certa distância, apontou o rifle:

— Por Deus e pelo Profeta, detenha o porco estrangeiro ou eu mando vocês dois para o inferno que vocês merecem!

— Erikki, espere! Deixe estes cães comigo! — gritou Azadeh em inglês, depois berrou para eles: — O que vocês querem aqui? Esta terra é nossa, é a terra do meu pai, Abdullah Khan, khan dos Gorgons, parente dos Qajars que vêm governando aqui há séculos. — Seus olhos já se haviam habituado à escuridão e ela examinou-os. Eram dez, todos jovens, todos armados, todos desconhecidos, menos um, o kalandar, o chefe, da aldeia.

— Kalandar, como você ousa vir aqui?