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— Ótimo. Lembre a elas que Deus e o Povo estão vigiando, mesmo nos desprezíveis domínios dos estrangeiros. — Mahmud virou as costas e saiu pisando duro, e os outros o acompanharam.

Quando ficou sozinho, Dayati enxugou a testa, agradecendo por ser um dos fiéis e porque, agora, sua mulher ia usar o chador, ia ser obediente e agir como sua mãe tinha agido, com recato, e não usar jeans como Sua Alteza. Do que é que o mulá a chamara? Que Deus o proteja, se o Abdullah Khan ficar sabendo disso... muito embora, é claro, o mulá tenha razão, e evidentemente Khomeini tenha razão, que Deus o proteja.

NA CABANA DE ERIKKI: 23:23H. Os dois homens se sentaram à mesa, um em frente ao outro, na sala principal da cabana. Quando o homem bateu na porta, Erikki dissera a Azadeh para ir para o quarto, mas deixara a porta de dentro aberta para que ela pudesse ouvir. Ele lhe dera o rifle que usava para caçar.

— Use-o sem medo. Se ele entrar no quarto, é porque eu já estou morto. dissera, com sua faca pukoh enfiada no cinto, no meio das costas.

A pukoh era uma faca de cabo comprido e era a arma de todos os finlandeses. Era considerado de mau agouro — e perigoso — um homem não carrega-la. Na Finlândia era contra a lei andar com ela em público — isto poderia ser tomado como um desafio. Mas todo mundo carregava uma, principalmente nas montanhas. A de Erikki Yokkonen fazia justiça ao seu tamanho.

— Então, capitão, peço desculpas pela invasão. — O homem tinha cabelos escuros, um pouco menos de um metro e oitenta, cerca de trinta anos, o rosto curtido pelo tempo, os olhos escuros e eslavos. Havia sangue mongol nas suas veias.

— Meu nome é Fedor Rakoczy.

— Rakoczy foi um revolucionário húngaro — disse Erikki, secamente — e pelo seu sotaque você é da Geórgia. Rakoczy não era georgiano. Qual é o seu nome verdadeiro... e o seu posto na KGB?

— É verdade que meu sotaque é da Geórgia — riu o homem — e que eu sou russo da Geórgia, de Tbilisi. Meu avô veio da Hungria mas não tinha nenhum parentesco com o revolucionário que outrora tornou-se príncipe da Transilvânia. E nem era muçulmano como meu pai e eu. Então, está vendo, nós dois sabemos um pouco de história, com a graça de Deus — disse amavelmente. — Sou engenheiro do gasoduto russo-iraniano, perto da fronteira, em Astara, no Cáspio, e pró-Irã, pró-Khomeini, que ele seja abençoado, antixá e antiamericano.

Estava contente por ter sido informado a respeito de Erikki Yokkonen. Parte da sua história de cobertura era verdadeira. Ele vinha realmente da Geórgia, de Tbilisi, mas não era muçulmano, nem seu nome verdadeiro era Rakoczy. Seu nome verdadeiro era Igor Mzytryk e era capitão da KGB, um especialista servindo na 116ª Divisão Aerotransportada, sediada na fronteira, ao norte de Tabriz, um dentre as centenas de agentes camuflados que tinham sido infiltrados há meses, ao norte do Irã, e que agora operavam quase livremente. Tinha 34 anos, era oficial de carreira da KGB como seu pai, e estava no Azerbeijão há seis meses. Seu inglês era bom, falava fluentemente o turco e o farsi, e embora não soubesse pilotar, conhecia muito a respeito dos helicópteros de apoio da sua divisão, com motores a pistão, pertencentes ao Exército Soviético.

— Quanto a minha situação — acrescentou com sua voz mais gentil — é a de amigo. Nós, russos, somos bons amigos dos finlandeses, não somos?

— Sim, sim, isto é verdade. Os russos são, mas não os membros do partido. A Santa Rússia foi amiga no passado, sim, quando éramos um grande ducado da Rússia. A Rússia Soviética foi amistosa depois de 1917 quando nos tornamos independentes. A Rússia Soviética é amiga agora. Sim, agora. Mas não em 1939. Não na Guerra do Inverno. Não, não naquela época.

— Nem vocês em 1941 — disse Rakoczy, asperamente. — Em 1941 vocês foram para a guerra contra nós com os nojentos nazistas; vocês se aliaram a eles contra nós.

— É verdade, mas só para recuperar a nossa terra, a nossa Carélia, nossa província que vocês tinham nos roubado. Nós não marchamos para Leningrado como poderíamos ter feito. — Erikki podia sentir a faca no meio das costas e estava muito contente por isso. — Você está armado?

— Não. Você disse para não vir armado. A minha arma está do lado de fora da porta. Não tenho uma faca pukoh nem tenho necessidades de uma. Por Alá, sou um amigo.

— Ótimo. Um homem precisa de amigos.

Erikki observou o homem, odiando o que ele representava: a Rússia Soviética que, sem ser provocada, invadira a Finlândia em 1939, assim que Stalin assinara o pacto germano-soviético de não-agressão. O pequeno exército da Finlândia lutara sozinho. Durante cem dias eles tinham resistido às hordas soviéticas, na Guerra do Inverno, e depois tinham sido derrotados. O pai de Erikki fora morto defendendo a Carélia, a província que ficava ao sul e a leste, onde, por séculos, os Yokkonens viveram. Imediatamente, a Rússia Soviética anexara a província. Imediatamente, todos os finlandeses se retiraram. Todos eles. Nenhum teria permanecido sob a bandeira soviética, e a terra se tornou deserta de finlandeses. Erikki tinha apenas dez meses de idade nessa época e, no êxodo, milhares de pessoas morreram. Sua mãe morrera. Foi o pior inverno de que se tinha lembrança.

E em 1945, pensou Erikki, contendo o ódio, em 1945, a América e a Inglaterra nos traíram e deram as nossas terras para o agressor. Mas nós não esquecemos. Nem os estonianos, letões, lituanos, alemães orientais, tchecos, húngaros, búlgaros, eslavos, romenos — a lista é interminável. Chegará o dia do ajuste de contas com os soviéticos, oh, sim, este dia chegará — principalmente para os russos, que sofrem o seu jugo mais do que ninguém.

— Para um georgiano, você sabe um bocado sobre a Finlândia — disse calmamente.

— A Finlândia é importante para a Rússia. A détente entre nós funciona, é segura, e mostra ao mundo que a propaganda imperialista americana anti-soviética é um mito.

Erikki sorriu.

— Isto não é hora para política, hein? É tarde. O que quer de mim?

— Amizade.

— Ah, isto é fácil de pedir, mas como você deve saber, difícil de conseguir quando se trata de um finlandês. — Erikki esticou-se e apanhou uma garrafa de vodca quase vazia e dois copos, em cima do aparador. — Você é xiita?

— Sim, mas não muito bom, que Deus me perdoe. Eu às vezes bebo vodca, se é por isso que você está perguntando.

Erikki encheu dois copos.

— Saúde. — Eles beberam. — Agora, por favor, vá direto ao assunto.

— Dentro em breve, Bakhtiar e seus lacaios americanos serão expulsos do Irã. Dentro em breve, o Azerbeijão estará em convulsão, mas você não tem nada a temer. Você é benquisto aqui, bem como sua mulher e a família dela, e nós gostaríamos da sua... da sua cooperação para pacificar estas montanhas.

— Sou apenas um piloto de helicóptero, trabalhando para uma companhia britânica, contratada pela Madeira Iraniana, e sou apolítico. Nós, finlandeses, somos apolíticos, você não se lembra?

Nós somos amigos, sim. Nossos interesses pela paz mundial são os mesmos.

Erikki deu um soco na mesa com o seu punho enorme, fazendo o russo recuar com aquela súbita manifestação de violência que fez a garrafa rolar e cair no chão.

— Já lhe pedi educadamente, por duas vezes, para ir direto ao assunto — disse na mesma voz calma —, agora você tem dez segundos.

— Muito bem — disse o homem entre dentes. — Precisamos dos seus serviços para transportar turmas para os acampamentos nos próximos dias. Nós..

— Que turmas?

— Os mulás de Tabriz e seus seguidores. Nós preci..

— Eu recebo ordens da companhia, não de mulás ou revolucionários ou homens que chegam trazendo armas no meio da noite. Você compreende?