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Na varanda do refeitório dos oficiais, o capitão Conroe Starke, líder do contingente da S-G, suspirou.

— Meu bom Deus — resmungou cheio de admiração, para ninguém em especial —, que cojones!

5:21H. Starke estava na janela do refeitório dos oficiais, observando o edifício do QG de Peshadi do outro lado da rua. O mulá ainda não saíra. O salão do refeitório estava muito frio. Freddy Ayre encolheu-se mais na poltrona, protegendo-se com sua jaqueta de vôo, e olhou para o texano alto que se balançava suavemente nos calcanhares.

— O que você acha? — perguntou cansado, abafando um bocejo.

— Acho que vai amanhecer daqui a uma hora mais ou menos, companheiro — respondeu Starke, distraidamente. Ele também usava uma jaqueta de vôo e botas de voar quentes. Os dois pilotos estavam numa janela que ficava no canto da sala do segundo andar, de onde se via quase toda a base. Espalhados pela sala, uns doze oficiais iranianos dos mais graduados, que também tinham recebido ordens para ficar a postos. A maioria dormia nas poltronas, enrolados em jaquetas de vôo ou casacões do exército — a base inteira estava com o aquecimento desligado há semanas, para economizar combustível. Alguns ordenanças cansados, também vestidos com casacões, limpavam os últimos vestígios da reunião que a multidão interrompera.

— Estou me sentido exausto, e você?

— Ainda não, mas por que será que sempre estou de serviço nos dias santos e nos feriados, Freddy?

— Isto é um privilégio do Líder Destemido, meu chapa — disse Ayre. Ele era o segundo em comando do contingente da S-G, antigo membro da RAF, um homem bem-apessoado de 28 anos, de grandes olhos azuis e sotaque de Oxford. — Dá bom exemplo para as tropas.

Starke olhou na direção do portão principal, que estava aberto. Nenhuma mudança: continuava bem guardado. Do lado de fora, uns quinhentos aldeões ainda esperavam, bem juntos uns dos outros para se aquecerem. Ele tornou a fixar a atenção no prédio do QG Também lá não houvera nenhuma mudança. No segundo andar, onde Peshadi tinha seus escritórios, as luzes estavam acesas.

— Daria um mês de salário para estar kibitzing por lá, Freddy.

— O quê? O que quer dizer isto?

— Para estar ouvindo a conversa entre Peshadi e o mulá.

— Ah! — Ayre olhou na direção dos escritórios. — Sabe, pensei que estivesse tudo acabado quando aqueles miseráveis começaram a subir pela cerca. Maldição! Estava pronto para sair correndo, girar a manivela da Velha Nellie e dizer adeus para Kublai Khan e suas hordas mongóis! — E deu uma risadinha quando imaginou a si mesmo correndo para o seu 212. — Evidentemente — acrescentou —, eu teria esperado por você, Duke. — Usou o apelido que costumavam usar para Starke, que era texano como John Wayne, tinha o mesmo tipo físico de John Wayne e era tão bonito quanto ele.

— Obrigado, meu chapa — Starke respondeu rindo. — Pensando bem, se eles tivessem conseguido invadir a base, eu teria corrido na sua frente.

Seus olhos azuis apertaram-se quando riu, respondendo com um ligeiro sotaque. Depois tornou a se virar para a janela, disfarçando a preocupação. Era a terceira vez que a base enfrentava uma multidão enfurecida, sempre conduzida pelo mulá e sempre mais séria do que a anterior. E agora, a primeira morte não acidental. E depois? Aquela morte levaria a outra e mais outra. Se não fosse pelo coronel Peshadi, alguém mais teria se precipitado para o portão e teria sido morto e agora haveria corpos por toda parte. Oh, Peshadi vencera... desta vez. Mas breve ele não vai mais conseguir, a não ser que dobre o mulá. E para dobrar Hussein terá que matá-lo. Não adianta prendê-lo, a multidão vai fazer um escarcéu, e se o matar, vão fazer um escarcéu, e se o exilar, vão fazer um escarcéu, ele está num impasse. O que eu faria?

Não sei.

Deu uma olhada pela sala. Os oficiais iranianos não pareciam preocupados. Conhecia a maioria de vista, nenhum intimamente. Embora a S-G dividisse a base com eles desde que fora construída, há uns oito anos, eles tinham pouco contato com o pessoal do Exército e da Força Aérea. Desde que Starke assumira como piloto-chefe, há um ano, tentara aumentar os contatos da S-G com o resto da base, mas sem sucesso. Os iranianos preferiam a companhia deles mesmos.

Está certo, pensou. É o país deles. Mas eles o estão arrasando e nós estamos no meio, e agora Manuela está aqui. Tinha ficado radiante em ver sua mulher quando ela chegou de helicóptero, há cinco dias — MacIver não deixara que ela se arriscasse nas estradas — embora um pouco zangado por ela ter conseguido permissão para embarcar num vôo extraordinário da British Airways que regressava imediatamente a Teerã.

— Que diabo, Manuela, você está correndo perigo aqui!

— Não mais do que em Teerã, Conroe querido. Insha'Allah — respondera com um sorriso radiante.

— Mas como foi que conseguiu convencer Mac a deixá-la vir para cá?

— Eu apenas sorri para ele, querido, e prometi voltar para a Inglaterra no primeiro vôo disponível. Enquanto isso, querido, vamos para cama.

Ele sorriu para si mesmo e deixou sua mente divagar. Era seu terceiro período de dois anos no Irã e seu 11º ano com a S-G. Onze bons anos, pensou. Primeiro Aberdeen e o mar do Norte, depois Irã, Dubai e Al Shargaz do outro lado do golfo, depois o Irã de novo, onde planejara ficar. Os melhores anos foram aqui, pensou. Mas agora não são mais. O Irã mudou, a partir de 1973, quando o xá quadruplicou o preço do petróleo — de uma libra para quatro ou por aí. Para o Irã, foi como antes de Cristo e depois de Cristo. Antes, eles eram simpáticos e atenciosos, bons para se conviver e trabalhar. Depois? Cada vez mais arrogantes, mais e mais vaidosos pelas constantes afirmações do xá a respeito da "superioridade natural dos iranianos", referindo-se aos seus três mil anos de civilização e de como, dentro de vinte anos, o Irã seria um líder mundial por direito divino — seria a quinta potência industrial da terra, o único guardião dos entroncamentos entre o Leste e o Oeste, com o melhor exército, a melhor marinha, a melhor força aérea, com mais tanques, helicópteros, geladeiras, fábricas, telefones, estradas, escolas, bancos, negócios, do que qualquer outra nação aqui no centro do mundo. E baseando-se em tudo isso, com o resto do mundo a ouvi-lo atentamente, o Irã, sob sua liderança, seria o verdadeiro árbitro entre o Leste e o Oeste, e a verdadeira fonte de toda a sabedoria — a sua sabedoria.

Starke suspirou. Tinha compreendido essa mensagem, muito claramente, com o decorrer dos anos, mas abençoava Manuela por ter concordado em mergulharem no modo de vida iraniano, aprendendo farsi, indo a toda parte e vendo tudo — paisagens, gostos e cheiros, aprendendo a respeito de tapetes persas e caviar, vinhos e lendas e fazendo amigos — e não vivendo a sua vida do lado de fora, como muitos dos pilotos e engenheiros estrangeiros que preferiram deixar as famílias em casa, trabalhar dois meses e tirar um de licença, e que ficavam sentados em suas bases nos dias de folga, economizando dinheiro e esperando pelo período de licença que passariam no lar — onde quer que fosse esse lar.

— O nosso lar é aqui, de agora em diante. É onde vamos ficar, eu e as crianças — ela declarara, soerguendo a cabeça do jeito que ele tanto admirava, com o negrume dos seus cabelos e a paixão de sua herança espanhola.

— Que crianças? Nós não temos nenhum filho e nem podemos tê-los ainda, com o que eu ganho.