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É tão simples lidar com Khomeini ou com qualquer mulá — por Deus, se me tivessem ordenado, eu o teria arrastado da França há meses atrás. Deu uma tragada no cigarro e manteve cuidadosamente seus pensamentos fora do rosto e dos olhos.

— Bem, mulá, o capitão Starke está aqui. — Depois acrescentou, como se não fosse uma coisa importante. — Pode falar com ele em farsi ou em inglês, como quiser. Ele fala farsi como você fala inglês. Fluentemente.

O mulá virou-se para Starke.

— Então — disse em inglês com sotaque americano — você é da CIA.

— Não — respondeu Starke, colocando-se instantaneamente em guarda.

— Você estudou nos Estados Unidos?

— Estudei lá, sim — respondeu Hussein. E então, por causa da dor e do cansaço, perdeu a calma. Passou a falar em farsi e sua voz tornou-se mais dura.

— Por que você aprenderia farsi a não ser para nos espionar para a CIA, ou para as suas companhias de petróleo, hein?

— Para o meu próprio interesse, só isto — respondeu Starke educadamente em farsi, demonstrando um bom conhecimento e uma boa pronúncia da língua. — Eu sou um visitante no seu país, fui convidado pelo seu governo para trabalhar para ele em sociedade com iranianos. É de bom-tom que visitantes estejam a par dos tabus e dos costumes dos seus anfitriões, que aprendam sua língua, especialmente quando gostam do país e esperam continuar nele por muitos anos. — Sua voz tornou-se mais tensa. — E as companhias não são minhas.

— Elas são americanas. Você é americano. A CIA é americana. Todos os nossos problemas vêm da América. A cobiça do xá é americana. Todos os nossos problemas vêm da América. Há anos o Irã vem sendo espezinhado pelos americanos.

— Uma ova! — disse Starke em inglês, agora também zangado, sabendo que o único meio de lidar com um valentão era sair brigando. Na mesma hora. Viu o homem enrubescer e enfrentou-lhe o olhar, deixando pesar o silêncio. Os segundos passavam. Seu olhar sustentou o do mulá. Mas não conseguiu dominá-lo. Nervoso, mas tentando aparentar calma, olhou para Peshadi que esperava e observava, fumando em silêncio. — O que significa tudo isso, coronel?

— O mulá requisitou um dos seus helicópteros para visitar as instalações de petróleo nesta aérea. Como você sabe, nós não planejamos suas rotas nem participamos de suas operações. Você deve providenciar um de seus melhores pilotos para esta missão. Hoje, ao meio-dia.

— Por que não usar um dos seus aviões? Talvez eu pudesse fornecer um navega...

— Não. Um dos seus helicópteros, com seu pessoal. Ao meio-dia. Starke voltou-se para o mulá.

— Sinto muito, mas só recebo ordens da IranOil, através do administrador da nossa base e do responsável pela área, Esvandiary. Temos um contrato e eles são exclu...

— Os helicópteros que vocês usam são iranianos — o mulá interrompeu asperamente, tomado mais uma vez pela dor e pela exaustão, desejando que terminassem. — Você vai providenciar um, conforme foi requisitado.

— Eles têm registro iraniano, mas pertencem à S-G Helicópteros Ltda. de Aberdeen.

— Registro iraniano, no céu iraniano, cheios de gasolina iraniana, com autorização dos iranianos, prestando serviços a poços iranianos que extraem petróleo iraniano, pelo amor de Deus. Eles são iranianos! — A boca fina de Hussein se contorceu. — Esvandiary dará a ordem necessária ao meio-dia. Quanto tempo levaremos para visitar todos os campos?

Depois de uma pausa, Starke respondeu:

— Talvez seis horas, tempo de vôo. Quanto tempo vocês pretendem passar em cada parada?

O mulá apenas o encarou.

— Depois disso, quero seguir o oleoduto até Abadan e aterrissar onde eu escolher.

Starke arregalou os olhos. Olhou para o coronel mas viu que o homem ainda estava observando atentamente as espirais de fumaça do seu cigarro.

— Isto é mais difícil, mulá. Nós precisaríamos de permissão. O radar não está funcionando, a maior parte do espaço aéreo é controlada pela divisão de tráfego aéreo de Kish e esta, ahn, é controlada pela Força Aérea.

— Você terá todas as permissões necessárias — disse Hussein de forma conclusiva e olhou inflexivelmente para Peshadi. — Em nome de Deus, voltarei ao meio-dia; se vocês tentarem me impedir, o tiroteio vai recomeçar.

Starke sentia o coração disparado; o mulá e Peshadi também sentiam o mesmo. Só o mulá estava satisfeito — ele não tinha com que se preocupar, estava nas Mãos de Deus, fazendo o trabalho de Deus, obedecendo ordens: "Pressionem o inimigo de todos os modos. Sejam como a água descendo pela colina em direção a uma represa. Pressionem a represa do usurpador, o xá, dos seus lacaios e das Forças Armadas. Nós teremos que derrotá-los com coragem e sangue. Pressionem-nos de todas as maneiras, vocês estão fazendo o trabalho de Deus..."

O vento fez a janela bater e, involuntariamente, eles olharam para ela e para a noite lá fora. A noite ainda estava escura, as estrelas brilhantes, mas a leste percebia-se o brilho do amanhecer, com o sol surgindo no horizonte.

— Voltarei ao meio-dia, coronel Peshadi, sozinho ou com uma multidão. Você escolhe — disse Hussein, em voz baixa, e Starke sentiu a ameaça, ou promessa, com todo o seu ser. — Mas agora, agora é hora de rezar. — Ele se esforçou para ficar em pé, com as mãos ainda queimando de dor, com as costas, a cabeça e os ouvidos doendo ainda barbaramente. — Por um instante, sentiu que ia desmaiar, mas lutou contra a tonteira e a dor e se retirou.

— Faça o que ele pede — disse Peshadi, levantando-se. Por favor — acrescentou com uma grande concessão. — É uma trégua temporária e um compromisso temporário... até recebermos ordens definitivas do governo legal de Sua Majestade Imperial, e então terminaremos com toda essa idiotice. — Tremendo, acendeu um cigarro com o toco do anterior. — Você não vai ter nenhum problema. Ele vai providenciar as licenças necessárias, será um vôo de rotina. É claro que você tem de concordar porque é evidente que não posso permitir que um dos meus aviões preste serviços a um mulá, especialmente a Hussein, que é conhecido por sua incitação à revolta! É claro que não! Foi uma saída brilhante da minha parte e você não vai estragá-la. — Apagou o cigarro, raivosamente, no cinzeiro cheio, o ar carregado de nicotina, e quase gritou: — Você escutou o que ele disse. Ao meio-dia! Sozinho ou com uma multidão. Você quer mais derramamento de sangue, hein?

— É claro que não.

— Ótimo. Então faça o que estou mandando! — explodiu Peshadi. Com ar carrancudo, Starke foi até a janela. O mulá tinha voltado para seu lugar perto do portão, levantado os braços e, como todo muezim em todos os minaretes em todas as madrugadas do islã, chamava os fiéis para a primeira oração do dia, em árabe:

— Venham orar, venham progredir, orar é melhor do que dormir. Não há nenhum outro Deus além de Deus...

E enquanto Starke observava, Peshadi devotadamente tomou seu lugar na frente de todos os homens da base, de todos os postos que, obedientemente, e com evidente satisfação, tinham saído de suas barracas, os soldados colocando seus rifles no chão, os aldeões do outro lado da cerca com devoção igual. Então, sob o comando do mulá, todos se viraram em direção a Meca e começaram os gestos obrigatórios, as prostrações e a ladainha Shahada: "Dou meu testemunho de que não há nenhum outro Deus além de Deus e de que Maomé é o profeta de Deus..."