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Quando a oração terminou, fez-se um grande silêncio. Todo mundo esperava. Então o mulá disse bem alto:

— Deus, o Corão e Khomeini. — Depois saiu pelo portão em direção a Kowiss. Obedientemente, os aldeões o seguiram.

Starke estremeceu sem querer. Esse mulá está tão cheio de ódio que sai pelos seus poros. E tanto ódio assim vai acabar mandando alguma coisa ou alguém para o inferno. Se o levar no helicóptero, talvez ele fique ainda pior. Se indicar alguém ou pedir um voluntário será covardia, porque a responsabilidade é minha.

— Tenho que levá-lo — murmurou. — Tenho.

5

FORA DE LENGEH: 6:42H. O 212, com dois pilotos e 13 passageiros — a lotação completa — fazia um vôo de rotina, em direção ao estreito de Ormuz, depois de ter saído da base da S-G em Lengeh, e sobrevoava as plácidas águas do golfo em direção ao campo de petróleo de Siri, explorado pelos franceses. O sol acabara de surgir no horizonte, prometendo mais um dia claro e sem nuvens, embora a névoa, comum sobre o golfo, baixasse a visibilidade para uns poucos quilômetros.

— Helicóptero EP-HST, aqui é o controle de radar de Kish, vire para 260 graus.

Obedientemente, ele entrou na sua nova rota.

— Duzentos e sessenta em trezentos — respondeu a voz de Ed Vossi.

— Mantenha-se em trezentos. Notifique quando estiver sobre Siri. Ao contrário da maior parte do Irã, o radar aqui era bom, com estações na ilha Kish e na ilha Lavan, controladas por excelentes operadores da Força Aérea Iraniana, treinados nos Estados Unidos — os dois lados do golfo eram igualmente estratégicos e igualmente bem servidos.

— HST — Ed Vossi era americano, antigo membro da Força Aérea dos Estados Unidos, tinha 32 anos e o físico de um zagueiro de futebol americano.

— O radar está nervoso hoje, hem Scrag? — disse para o outro piloto.

— Tem razão. Devem ser as pilhas.

Na frente deles, agora, estava a pequena ilha de Siri. Era árida, despovoada e escondida, com uma pequena pista de terra, umas poucas barracas para o pessoal do petróleo, e um grupo de enormes tanques de armazenamento alimentados por oleodutos colocados no fundo do mar e ligados aos poços que ficavam a oeste, no golfo. A ilha distava uns cem quilômetros da costa iraniana, dentro da fronteira internacional que dividia o estreito de Ormuz e separava as águas iranianas das águas de Omã e dos Emirados Árabes Unidos.

Quando estava bem em cima dos tanques de petróleo, o helicóptero inclinou-se suavemente, dirigindo-se para oeste, pois sua primeira parada seria a alguns quilômetros, no poço de petróleo chamado Siri Três. No momento, o campo tinha seis poços em funcionamento, todos operados pelo consórcio francês semi-estatal, EPF, que instalara o campo para a IranOil em troca de futuros carregamentos de petróleo.

— Controle de radar de Kish, HST sobre Siri a trezentos metros — disse Ed Vossi no transmissor.

— Roger HST. Mantenha-se em trezentos — a resposta veio imediatamente. — Comunique-se antes de iniciar a descida. Na sua frente há trafego de subida às dez horas.

— Estamos vendo. — Os dois pilotos observaram o vôo de quatro caças a jato ganhando altitude, passando por eles e indo para a boca do estreito.

— Eles estão com pressa — disse o homem mais velho e se mexeu no assento.

— Se estão. Olhe! Jesus, são F15 da Força Aérea dos Estados Unidos!

— Vossi estava estarrecido. — Merda, não sabia que havia algum nesta região. Já tinha visto algum antes, Scrag?

— Não, cara — disse Scrag Scragger, igualmente preocupado, ajustando ligeiramente o volume do seu fone. Aos 63 anos, ele era o piloto mais velho da S-G, o piloto mais graduado em Lengeh, um homenzinho mirrado, muito magro, muito resistente, com cabelos grisalhos e olhos fundos, azuis-claros, de australiano, que pareciam estar sempre examinando o horizonte. Seu sotaque era interessante. — Gostaria de saber que diabo está acontecendo. O radar está tão agitado quanto um peru na roda e este é o terceiro vôo que vemos desde que decolamos, embora seja o primeiro ianque.

— Tem que ser uma força-tarefa, Scrag. Ou talvez os caças de escolta que os Estados Unidos enviaram para a Arábia Saudita junto com os AWAC.

Scragger ocupava o assento da esquerda, atuando como comandante de treinamento. Normalmente, o 212 voava com um único piloto, no banco da direita, mas Scragger mandara adaptar este avião para treinamento com dois controles.

— Bem — disse, dando uma risada —, contanto que não encontremos nenhum MIG, está tudo bem.

— Os vermelhos não vão mandar equipamentos para cá, por mais que desejem o estreito. — Vossi parecia muito confiante. Tinha pouco mais de metade da idade de Scragger e duas vezes o seu tamanho. — Não farão isso enquanto dissermos a eles que é melhor que não o façam, e tivermos aviões e forças-tarefas e o poder de usá-los. — Espiou por entre a névoa. — Ei, Scrag, olhe aquilo lá.

O enorme superpetroleiro estava pesadamente carregado, mergulhado na água, navegando com dificuldade na direção de Ormuz.

— Aposto que está levando quinhentas mil toneladas ou mais.

Eles o observaram por alguns instantes. Sessenta por cento do petróleo do mundo livre era escoado por este caminho raso e estreito entre o Irã e Omã, com aproximadamente 25 quilômetros de canal navegável. Vinte milhões de barris por dias. Todo dia.

— Você acha que algum dia construirão um petroleiro de um milhão de toneladas, Scrag?

— É claro. É claro que construirão, se quiserem, Ed. — O navio passou por baixo deles. — Está com a bandeira da Libéria — disse Scragger, distraidamente.

— Você tem olhos de águia.

— É a minha vida regrada, meu chapa.

Scragger deu uma olhada pela cabine. Todos os passageiros estavam em seus lugares, presos com cintos de segurança, vestindo jaquetas salva-vidas Mae West, conforme o regulamento, com protetores de orelha, lendo ou olhando pela janela. Tudo normal, pensou. Sim, e os instrumentos estão normais, os sons normais, eu estou normal e Ed também. Então por que estou inquieto?, perguntou a si mesmo, virando-se para trás mais uma vez.

Por causa da força-tarefa, por causa do radar de Kish, por causa dos passageiros, porque é seu aniversário, e principalmente porque você está voando e o único meio de se manter vivo voando é permanecer inquieto. Amém. E riu alto.

— Qual é a graça, Scrag?

— E você. Então você pensa que é um piloto, certo?

— É claro, Scrag. — Disse Vossi, cautelosamente.

— Está bem. Já localizou Siri Três?

Vossi sorriu e apontou para a plataforma distante que mal se conseguia ver no meio da névoa, um pouco a leste do grupo de tanques.

— Então feche os olhos — ordenou Scragger, com um sorriso satisfeito.

— Vamos, Scrag, é claro que isto é um vôo de controle, mas e...

— Eu peguei os controles — disse Scragger alegre. Na mesma hora, Vossi largou os controles. — Agora feche os olhos porque você está em treinamento.

Confiantemente, o rapaz tornou a olhar para a plataforma, ajustou seu fone de ouvido, tirou os óculos escuros e obedeceu.

Scragger entregou a Vossi o par de óculos especiais que tinha mandado fazer.

— Tome, ponha estes óculos e só abra os olhos quando eu mandar. Fique preparado para assumir o controle.

Vossi pôs os óculos e, suavemente, ainda com os olhos fechados, estendeu as mãos e os pés, mal tocando os controles, como sabia que Scragger gostava.

— OK. Pronto, Scrag. — Pode assumir.

Imediatamente Vossi assumiu o controle, com firmeza e suavidade, e ficou satisfeito com a perícia com que a troca fora feita, o helicóptero se mantendo reto e nivelado. Agora, voava guiado apenas pelo ouvido, tentando antecipar a menor variação no barulho do motor — diminuição ou alimento — que pudesse indicar se estava subindo ou descendo. Houve uma pequena mudança. Corrigiu direitinho, sentindo, quase antes que ocorresse, que o grau de inclinação aumentava, logo os motores estavam ganhando velocidade e portanto o helicóptero estava mergulhando. Fez a correção necessária e tornou a nivelá-lo.