Выбрать главу

— Quando isso aconteceu comigo eu sujei as calças.

— Hein?

— Eu estava voando perto do Kuwait, num 47G2, nos velhos tempos, na década de sessenta. — O 47G2 era um Bell pequeno, de três lugares, com motor a explosão e a forma de uma bolha, que agora é usado pela polícia e para controle do tráfego. — O helicóptero fora alugado por um médico e por um engenheiro da ExTex. Eles queriam ir a um oásis, depois de Wafrah, onde tinham uma emergência. Um pobre infeliz enfiara a perna numa perfuratriz. Bem, estávamos voando sem as portas, como é comum no verão, fazia uns quarenta graus, um tempo seco e desagradável tanto para homens quanto para helicópteros, como só o deserto tem, pior do que o nosso deserto lá na Austrália, muito pior, mas eles nos prometeram pagamento em dobro e uma gratificação extra, então o meu velho camarada, Forsyth, me apresentou como voluntário. Não era um dia muito ruim em se tratando de desertos, Ed, embora os ventos fossem quentes e traiçoeiros, você sabe, o normaclass="underline" súbitas ventanias que levantavam nuvens de areia, formando perigosos redemoinhos. Eu estava a uns cem metros, descendo, quando fomos atingidos pela nuvem de areia — uma areia tão fina que você mal pode vê-la. Só Deus sabe como foi que ela entrou nos meus óculos de vôo, mas num instante nós estávamos bem e no outro tossíamos e cuspíamos e meus olhos estavam tão cheios de areia que eu fiquei mais cego que um velho pirata da perna de pau.

— Você está brincando!

— Não, é verdade. Juro por Deus! Não conseguia ver nada, não podia abrir os olhos, e era o único piloto, com dois passageiros a bordo.

— Jesus, Scrag, os dois olhos?

— Os dois olhos, e nós ficamos balançando entre o céu e o inferno até que consegui nivelar um pouco o avião e acalmar o coração. O médico não conseguia tirar a areia, e toda a vez que ele tentava ou que eu tentava, nós quase virávamos de barriga para cima... você sabe como o G2 é sensível. Eles estavam tão em pânico quanto eu e isso não ajudava nem um pouco. Foi quando compreendi que a única chance que nós tínhamos era pousar daquele jeito, cego. Você disse que quase se cagou de medo, bem, quando encostei o helicóptero no chão, eu estava todo cagado.

— Jesus, Scrag, você conseguiu mesmo pousar? Como hoje, mas de verdade, com os dois olhos cheios de areia? De verdade?

— Fiz eles me ajudarem a descer, como fiz com você hoje. Pelo menos o médico me ajudou, o outro infeliz tinha desmaiado. — Os olhos de Scragger não tinham se afastado nem por um instante do círculo de pouso. — Como está lhe parecendo?

— Sem grandes dificuldades. — Siri Um estava bem à frente, com a plataforma flutuando no meio da água. Podiam ver o chefe de pouso ladeado por sua equipe de bombeiros obrigatória. A biruta estava cheia pela metade e firme.

Normalmente, Scragger se comunicaria com o radar e começaria a descida gradualmente. Ao invés disso, ele disse:

— Vamos permanecer no alto, hoje, cara, vamos nos aproximar pelo alto e depois deixá-lo cair direto.

— Por que, Scrag?

— Para variar.

Vossi franziu a testa mas não disse nada. Tornou a verificar os mostra-dores para ver se estava tudo em ordem. Estava tudo bem. Exceto uma ligeira estranheza no velho.

Quando estavam em posição lá no alto, sobre a plataforma, Scragger ligou o transmissor:

— Radar de Kish, HST, saindo de trezentos metros em direção a Siri Um.

— OK, HST. Avise quando estiver pronto para iniciar.

— HST.

Na plataforma, estavam preparados para uma aproximação em ângulo inclinado, usada normalmente quando o local de pouso era cercado por edifícios altos, árvores ou mastros. Scragger diminuiu a potência na medida exata. O helicóptero começou a descer suavemente, perfeitamente controlado. Trezentos, 250, 200, 150, 100... Os dois sentiram a vibração nos controles ao mesmo tempo.

— Jesus — murmurou Vossi, mas Scragger já tinha virado o nariz do aparelho para baixo e empurrado a alavanca de controle. Imediatamente, o aparelho começou a descer muito depressa. Sessenta metros, 50, 40, com as vibrações aumentando. Os olhos de Vossi pulavam de um mostrador para o outro, para o círculo de pouso, e outra vez para os mostradores. Ficou rígido no assento, a mente gritando: A cauda do rotor pifou ou a caixa de engrenagens da cauda...

A plataforma de pouso se aproximava rapidamente, a equipe de terra espalhando-se em pânico, os passageiros segurando-se assustados com a descida vertiginosa, Vossi agarrado ao assento para não perder o equilíbrio. Agora, o painel inteiro vibrava e o ruído do motor estava diferente. A qualquer segundo esperava que perdessem completamente a cauda do rotor e aí estariam perdidos. O altímetro marcou 60 metros... 15... 10... 5, e Vossi estendeu as mãos para agarrar os controles e iniciar o balão, mas Scragger se antecipou a ele por uma fração de segundos, deu força total do motor e fez um balão perfeito. Por um instante, o aparelho pareceu ficar pousado, imóvel, no ar, a um metro de altura, com os motores guinchando, depois tocou no chão com força, mas não com muita força, perto da borda do círculo, deslizou para a frente e parou a dois metros do centro.

— Foda — resmungou Scragger.

— Jesus, Scrag — Vossi quase não conseguia falar. — Foi perfeito.

— Oh, não, não foi não. Errei por dois metros. — Com algum esforço, Scragger largou os controles. — Desligue o motor, Ed, o mais depressa que puder! — Abriu a porta e desceu depressa, com o vento das pás chicoteando-o, foi até a porta da cabine e abriu-a. — Fiquem onde estão por um instante — gritou sobre o barulho do motor, aliviado em ver que todos estavam com cintos de segurança e que ninguém se machucara. Obedientemente, eles ficaram onde estavam, dois deles com o rosto cinzento. Os quatro japoneses olharam impassíveis para ele. Gente de sangue-frio, pensou.

— Mon Dieu — gritou George de Plessey. — O que foi que aconteceu?

— Não sei, acho que é a cauda do rotor... assim que o rotor parar nós..

— Que diabo você pretende, Vossi! — Era Ghafari, o administrador iraniano, que tinha enfiado a cara na janela do piloto, tensa de raiva. — Como ousou fazer um exercício de pouso aqui neste poço? Vou denunciá-lo por voar perigosamente!

— Era eu que estava pilotando e não o capitão Vossi! — Disse Scragger e, de repente, o enorme alívio por ter descido em segurança, misturado com o ódio que sentia por aquele homem fez seu temperamento explodir. — Suma-se Ghafari, suma-se ou acabo com você de uma vez por todas! — Levantou os punhos, pronto para brigar. — DESAPAREÇA!

Os outros olhavam, estarrecidos. Vossi pálido. Ghafari, mais alto e mais pesado que Scragger, hesitou e depois sacudiu o punho na cara de Scragger, xingando-o em farsi, em seguida gritou em inglês, querendo provocá-lo:

— Porco estrangeiro! Como você ousa me xingar, me ameaçar? Vou fazer com que você seja proibido de pilotar por vôo perigoso e seja expulso do Irã. Vocês, seus cães, pensam que são os donos do nosso céu...

Scragger deu um pulo para a frente, mas Vossi colocou-se rápido entre eles e bloqueou o golpe com seu peito largo.

— Você não está sabendo de nada, cara. Ei, sinto muito, Scrag, mas precisamos dar uma olhada na cauda do rotor, Scrag, Scrag, meu velho, a cauda do rotor!

Scrag levou alguns segundos para se acalmar. Seu coração estava disparado e ele viu todo mundo olhando para ele. Com um grande esforço, conseguiu controlar a raiva.

— Você... você tem razão, Ed. — Depois virou-se para Ghafari. — Nós tivemos uma... uma emergência. — Ghafari começou a zombar e a raiva de Scragger tornou a subir, mas desta vez ele a controlou.

Eles foram para a popa. Muitos operários do poço, europeus e iranianos, se comprimiam em volta deles. A cauda do rotor parou. Faltava quase um metro em uma das lâminas, numa falha irregular. Quando Vossi experimentou o suporte principal viu que ele estava completamente solto — a tremenda torção causada pelo desequilíbrio das lâminas o destroçara. Atrás dele, um dos passageiros andou até a beirada da plataforma e vomitou violentamente.